Tragédia de Hillsborough: Justiça culpa polícia por morte de 96
Na manhã desta terça-feira (26), após 27 anos da tragédia que matou 96 torcedores do Liverpool no estádio Hillsborough, em 15 de abril de 1989, finalmente os familiares das vítimas tiveram um alento em sua luta por justiça. O jurado do tribunal de Warrington, que julgou a causa, determinou que a negligência da polícia foi responsável pelas 96 mortes e que os torcedores do Liverpool não foram responsáveis pelo que aconteceu.
Publicado 26/04/2016 18:22
A decisão encerra quase três décadas de agonia para as famílias daqueles que foram mortos pelo responsáveis por organizar e policiar a partida contra o Nottingham Forest.
O estádio de Hillsborough pertence ao clube inglês Sheffield Wednesday e ficou conhecido internacionalmente como o local da maior tragédia da história do futebol europeu.
A morte destas 96 pessoas, mais ferimentos em 400 outras, serviu para o neoliberalismo colocar seus dedos no futebol, até então uma atividade lucrativa mas de cunho extremamente popular.
A então primeira-ministra do Reino Unido, Margareth Thatcher, aproveitou as mentiras espalhadas pela mídia corporativa sobre a tragédia para dar impulso ao que se conhece hoje, mundialmente, por "futebol moderno": ingressos caros, sem povo, com clima de teatro, estádios apequenados, clubes privatizados.
Logo de cara a mídia, junto com a verdadeira culpada da história, a polícia, colocou a culpa da tragédia nos torcedores. Era a saída mais cômoda, já que criminalizava ainda mais o hooliganismo na Inglaterra. A solução era colocar terror na mente dos torcedores "de bem" para que aceitassem pagar mais caro pelo seu divertimento.
Desde os anos 1960, pelo menos, torcedores se engalfinhavam nas arquibancadas e nas ruas britânicas. Isso amedrontava não só o reino Unido, como toda a Europa. Era algo que demonstrava também o grau de violência em que estava mergulhada a sociedade britânica na época.
O problema é que a tragédia de Hillsborough não foi consequência de uma briga entre torcidas. Tanto é que os 96 torcedores mortos torciam para o mesmo time, o Liverpool. A tragédia foi resultado de erros absurdos da polícia. Agora, 27 anos depois, o erro e a malversação dos fatos feito pela polícia – e pela mídia – é reconhecido.
Durante muitos anos a elite britânica inventou mentiras para pintar os torcedores do Liverpool como vândalos e bárbaros, aproveitando o clima anti-hooliganismo que existia na época. Movido pelos familiares, o processo revelou em 2012 que a verdade era outra.
A mídia corporativa, que na época trabalhou em conjunto com a polícia para divulgar a mentira, teve de voltar atrás e pedir perdão. O jornal The Sun pediu desculpas pela capa publicada em 1989, “A Verdade”, em que mentiu escrevento que torcedores haviam roubado os corpos das vítimas, urinado em policiais e até mesmo batido em profissionais de emergência.
Publicou outra capa, com a “A Verdadeira Verdade”, pedindo perdão pela mentira anterior. David Cameron, o premiê britânico foi obrigado a fazer a mesma coisa.
O processo criminal ainda deve demorar pelo menos mais um ano. Correm outras duas investigações em paralelo, uma que perscruta os organizadores da partida e outra que detalha as ações da polícia.
Veja o vídeo do jornal The Guardian sobre a tragédia (é necessário estar logado no Facebook para vê-lo)