Morador de comunidade conta como sua vida mudou com Lula e Dilma
Morador da favela do Cantagalo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, o universitário Ronaldo Marinho, de 21 anos, estuda administração de empresas, fala três línguas, e sonha alto. Quer morar no Canadá, país onde já estudou com uma bolsa em 2013, ajudar sua família, e depois voltar para “fazer uma revolução” no morro.
Publicado 24/04/2016 12:38
O jovem carioca, que se diz contrário ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e a favor do governo do PT, avalia que os programas sociais recentes tiveram forte impacto em sua vida.
“Eu fiz curso técnico pelo Pronatec e estou cursando a universidade pelo ProUni. As duas experiências foram ótimas e eu sei que não poderia ter feito nada disso se não fossem essas iniciativas do governo. Votei na Dilma por conta dessas realizações”, conta.
Ronaldo vê avanços também na vida dos pais e dos vizinhos na comunidade onde nasceu.
“Meu pai sempre trabalhou como gari, e minha mãe, como doméstica. Os dois têm mais de 50 anos, e sou filho único. Vejo que a vida deles melhorou também. Não precisamos de Bolsa Família, mas muitos vizinhos têm o benefício, e vejo que ajudou a aumentar a escolaridade das crianças, porque as mães cobram mais frequência”, diz.
O garoto nasceu em 1995, ano em que Fernando Henrique Cardoso assumia a Presidência, pouco após o país experimentar o início da estabilidade econômica, com o Plano Real, lançado em fevereiro de 1994.
Pelo que seus pais contam, foram “tempos difíceis” nos quais “nunca faltou comida, mas era só arroz com feijão”.
“Hoje em dia muita coisa mudou. Meu pai diz que a vida era bem complicada. O que eu vejo é que nos últimos anos o poder aquisitivo da população mais pobre melhorou imensamente no Brasil. Se naquela época era só arroz com feijão, hoje a gente tem ar-condicionado. Não é um bem de consumo tão durável, mas dá um certo conforto”, explica.
“Houve uma série de projetos educacionais, de infraestrutura para comunidades, luz elétrica e saneamento básico que foram finalmente colocadas em prática no governo Dilma”.
Apesar da nítida defesa do governo atual e da contrariedade ao que classifica como “golpe”, o carioca diz acompanhar os desdobramentos do noticiário político e das acusações de corrupção.
“Eu acho que o impeachment não é certo, porque ela (Dilma) ganhou nas urnas. Quanto à corrupção, talvez eles possam ter feito, claro. Até o Instituto Lula parece que foi beneficiado. Agora, em nenhum momento nós vimos alguém bater o martelo e dizer que a presidente da República esteve envolvida. É óbvio que provavelmente ela estava junto, mas a confirmação de que ela coordenou ou participou dessas coisas não houve”, indica.
Sobre um eventual governo chefiado pelo atual vice-presidente Michel Temer, Ronaldo também tem opinião formada. Embora avalie que uma administração do PMDB não seria um retrocesso tão grande, o universitário acredita que os programas sociais seriam colocados em “segundo plano”.
“Com mais privatizações talvez aumentasse a arrecadação e aí o país não quebraria. Mas os preços subiriam também. Não seria de todo ruim, e de início os programas sociais seriam mantidos, mas depois não seriam prioridade. Eles colocariam a crise econômica, a parte industrial, tudo isso em primeiro plano, sem dúvida”, diz.
Planos e desafios
Ambicioso, Ronaldo já traçou metas muito claras para sua vida. Assim que terminar o curso de administração, quer trabalhar em navios de cruzeiro por cerca de dois anos.
“Agora estava trabalhando como coordenador de eventos num hotel de Ipanema, mas apesar de eu falar três línguas e gostar desse ramo do turismo, só tenho 21 anos e ainda não tenho diploma. Preciso juntar dinheiro mais rápido para o meu plano de morar em Vancouver, no Canadá”, explica.
Para ele o fato de ter estudado no projeto Solar Meninos de Luz, uma ONG estabelecida no Cantagalo, teve grande impacto na montagem da sua “estratégia”.
“Entrava de manhã e saía no fim do dia, a gente estava sempre fazendo alguma coisa”, conta.
A ideia é ajudar seus pais, tirá-los da favela, “até por conta das escadas, já que eles estão ficando mais velhos, mas também por causa da violência”, e depois “fazer uma revolução no Cantagalo”.
Ele ajudou a criar, em 2013, o festival “Favela em Dança”, que se autodenomina como “o único festival de danças urbanas do mundo que acontece em favela”.
Além de movimentar a cena carioca, a iniciativa já levou Ronaldo até a Inglaterra, onde está negociando apoio da Universidade de Londres e de fundações que cogitam até realizar uma edição londrina do “Favela em Dança”.
“Já tenho duas propostas de empresas de cruzeiro. Acho que dá para tirar US$ 2.700 por mês. Aí vou para Vancouver e arrumo emprego em algum hotel. Depois minha intenção é voltar, comprar um negócio, deixar meu pai gerenciando, e aí correr atrás do meu”, diz.