Praça da Sé, do samba e da luta política  

Nesta quinta-feira (31) a rua do ouro no centro de São Paulo transformou-se na rua da batucada. Foi lá, vizinho à praça da Sé, que o movimento Batucada da Resistência transformou a ruazinha em roda de samba evocando músicas de mestres do gênero como Silas de Oliveira, Luiz Carlos da Vila e Martinho da Vila. Como parte do ato em defesa da democracia, a Batucada mostrou que o samba e a luta política estão historicamente ligados.

Por Railídia Carvalho

Batucada da resistência na Sé - Railidia Carvalho
A iniciativa começou na internet quando um grupo de músicos do samba e do choro e mais o público que frequenta esses locais se encontraram para participar do ato em apoio a Dilma Rousseff realizado no final do ano passado em várias cidades brasileira.

A batucada “estreou” em frente a sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), quartel-general do golpe contra democracia brasileira.

No ato do dia 18 de março, o grupo repetiu a concentração mas foi expulso da Fiesp pela ação da Polícia Militar que protegia o prédio pertencente ao empresariado paulista.

Mas como diz Luiz Grande, “o samba está sempre ai”, os músicos fizeram a roda de samba nas proximidades e aumentaram o grupo de adeptos de um movimento que se inseriu informalmente nos atos em defesa da democracia.

“Samba é verdade do povo”
Cantora e integrante do Movimento Sócio Cultural Amigas do Samba, Francisca Pereira da Silva, observou que é “muito rico e positivo” que muitas pessoas presentes na batucada na Sé nunca se envolveram com política e agora estão tomando posicionamento. “Isso é muito rico, muito positivo”, disse Fran.
 
Ela lembrou ainda mestre Candeia, sambista defensor da cultura popular e dos direitos dos trabalhadores. “O samba se confunde com a questão da resistência. Mestre Candeia, que fundou o Quilombo (Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba) nos anos 70 e reunia os estivadores para lutar por melhores salários”, contou a cantora, que também é militante da União Brasileira de Mulheres (UBM).
Fernando Szegeri, cantor, compositor e fundador do grupo Inimigos do Batente e de projetos de preservação da memória da roda de samba, ressaltou que “ressignificar a data é próprio do movimento revolucionário” referindo-se aos 52 anos do golpe militar, deflagrado em 1º de abril de 1964.
“É muito profundo hoje, nesta data, que poderia ser famigerada e é na história do Brasil, a gente querer ressignifcar essa memória. E isso é próprio do movimento revolucionário, ou seja, aproveitar as contradições e ressignificar os extremos e incorporar em novas realidades”, analisou.
“Maravilha de cenário”
“Acho que aqui, mais uma vez, brota mais uma força pra essa jornada de luta e resistência que tá começando. A Praça da Sé um lugar de encontros, de culturas e das forças que compõem esse torrão do país. Daqui realmente renasce mais uma força. mais um fôlego nesta luta que vai longe”, disse Fernando.
Os advogados Marcus Gramegna e Valéria Pandjiarjian, também militante do movimento pelos direitos das mulheres, avaliam o momento como de resistência e de possibilidade para o ressurgimento de um novo país. Ambos são frequentadores assíduos das rodas de samba na cidade de São Paulo. 
“Mas quem faz a sorte é que é de verdade”
“A partir do momento em que em que ameaçaram a democracia a luta tomou uma dimensão muito maior, mais grave, que a gente precisa combater”, declarou Marcus. Na opinião dele, o atual momento extrapolou a questão partidária.
Para Valéria, o que vivenciamos hoje é uma situação de ruptura e também de reconstrução para uma nova história.”É um fortalecimento e uma resistência pra que não permitamos um retrocesso mas para que possamos avançar de fato com um nova perspectiva para discutir o projeto de pais que a gente quer”, defendeu.

Ouça aqui “Bandeira da Fé”, um samba de Martinho da Vila e Zé Catimba em homenagem à jovem democracia brasileira queprecisa ser fortalecida. Interpretando o samba, um dos gênios da raça, Luiz Carlos da Vila