Lula: “Não se deve brincar com a democracia”
Durante entrevista coletiva concedida em São Paulo a 24 correspondentes de veículos estrangeiros, nesta segunda-feira (28), o ex-presidente e ministro Luiz Inácio Lula da Silva rechaçou as manobras golpistas contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff e alertou que “não se deve brincar com a democracia”.
Publicado 28/03/2016 15:56
“Impeachment sem base legal, sem crime de responsabilidade, é golpe”, disse Lula aos correspondentes. Lula criticou a oposição e a política do quanto pior melhor que impede que a presidenta governe. Não poupou críticas à mídia, a qual acusou de criar um clima de ódio no país, que ele comparou com a situação vivida na Venezuela.
“Eu acredito que vai prevalecer a democracia e vai prevalecer o bom senso e que a gente possa dar a chance à presidenta Dilma de governar este país. Se eu pudesse fazer um apelo, eu faria, deixem esta mulher governar o país, deixem ela fazer o que tem que fazer. Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas ela foi eleita”, afirmou.
Dilma é alvo de pedido de abertura de processo de impeachment que tramita na Câmara dos Deputados comandado por Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Lula falou pela primeira vez da divulgação dos grampos feitos pelo juiz Sérgio Moro. Segundo ele, a conduta de Moro foi “deprimente”, “pobre” e de “má-fé”, e criticou o que chamou de “Big Brother” nos métodos investigativos da operação.
“Moro é inteligente e competente, mas foi picado pela mosca azul”, disse Lula, enfatizando que “não está longe” o dia em que irão lhe pedir desculpas pelas acusações que fazem hoje e defendeu as ações tomadas durante seu mandato, entre 2003 e 2010, para fortalecer a Polícia Federal e a liberdade de investigação.
“Acho que fazer um julgamento correto, ouvir as pessoas corretamente como deve ser, dar o direito das pessoas se defenderem corretamente. Eu acho que está cumprindo um papel extraordinário para a democracia brasileira. É isso que eu espero de um juiz, seja ele, o Moro, ou qualquer um outro”, disse.
“Que ele aja de acordo com o que a legislação manda, porque um juiz tem que respeitar todo mundo, ele não pode ser de um lado ou de outro”, afirmou Lula.
Sobre a economia, Lula afirmou é preciso fazer desonerações e adotar outras medidas para que a economia possa voltar a crescer, numa aposta no potencial do mercado interno do país.
O ex-presidente reafirmou seu compromisso em contribuir com o Brasil e acredita ser possível uma recuperação em poucos meses.
Ao comentar a possível saída do PMDB da base do governo, Lula avalia que é possível à presidenta Dilma governar com parte do PMDB e sem concordância do comando do partido.