Cunha apressa impeachment de Dilma enquanto retarda a cassação dele
Em um movimento para garantir que o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff seja votado rapidamente, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), realizou sessão no plenário da Câmara, nesta sexta-feira (18) e convocou sessão para os três dias da próxima semana, do feriado de Páscoa, quando normalmente a Casa fica esvaziada. A manobra de Cunha – agora no sentido contrário – foi utilizada para retardar o julgamento do pedido de cassação dele no Conselho de Ética.
Publicado 18/03/2016 14:50
A presidenta Dilma Rousseff deve se manifestar sobre o processo que começou a ser analisado ontem (17) dentro do prazo de dez sessão plenárias.
Há mais de seis meses a Câmara não registra quórum mínimo às sextas e segundas-feiras para a realização de sessões plenárias. Nesta sexta-feira, em poucos minutos, mais de 60 deputados registraram presença, enquanto o quórum mínimo era de 51 parlamentares.
Cunha confirmou novas sessões na próxima segunda (21), terça e quarta-feira, véspera de feriado que geralmente esvazia a Casa. O presidente da Câmara informou ainda que, na terça-feira (22), a pauta de votações do Plenário deverá se estender por todo o dia, uma vez que as comissões temáticas da Casa ainda não foram instaladas. “Qualquer sessão que der quórum no dia já conta (prazo). Não é só a sessão deliberativa que vale para efeito de contagem de sessões. Essa parte do Regimento Interno já foi alterada no passado com essa finalidade”, diz Cunha, anunciando a disposição de novas manobras.
Ao abrir a sessão de debates convocada para esta sexta-feira, o que normalmente não acontece, Cunha agradeceu a presença dos parlamentares. “Eles deram quórum a esta sessão considerando a gravidade e a importância do momento para o País, não deixando de cumprir o compromisso de estarem presentes às sessões da Câmara”, afirmou.
Manobras na Comissão de Ética
A Comissão de Ética, que recebeu no dia 13 de outubro do ano passado, denúncia contra Eduardo Cunha por corrupção no âmbito da Lava Jato sofreu várias e repetidas "manobras protelatórias", de Cunha e seus aliados, para adiar ao máximo o processo de cassação dele.
Em uma das manobras, Cunha usou a Mesa Diretora da Presidência da Câmara para derrubar o relator do processo de cassação, fazendo com que os trabalhos no Conselho de Ética retornassem à estaca zero.
Cunha é investigado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O Ministério Público o acusa de ter recebido US$ 5 milhões do lobista Julio Camargo. A propina teria sido parte do contrato, feito sem licitação, para instalação de dois navios-sonda do estaleiro Samsung Heavy Industries em 2006 e 2007.
A representação contra ele feita pela Rede e pelo PSol, com pedido de cassação do mandato de Cunha, foi assinada por outros 46 parlamentares de outros cinco partidos, de forma individual. O argumento é de que houve quebra de decoro de Cunha por mentir na CPI da Petrobras, quando disse que não tinha contas no exterior.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, confirmou a existência de contas bancárias na Suíça atribuídas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e seus familiares. O banco Julius Bar identificou Cunha, sua mulher, a jornalista Cláudia Cordeiro Cruz, e uma das filhas do deputado como beneficiários finais de contas secretas que somam 2,4 milhões de dólares, cerca de nove milhões de reais.