Publicado 17/03/2016 02:36
A missão é reverter a tendência dominante hoje, que é a do impeachment golpista da presidenta, e romper o isolamento do governo, que é a questão da hora. Pode-se mobilizar forças mais largas para a nova fase do governo.
Por esse meio pode-se estancar o esvaziamento da base política no Congresso, ganhando tempo para um rearranjo mais amplo, nos termos de um governo que não precisa nem pode ser o governo do PT, mas efetivamente de coalizão, com figuras nacionais mais representativas e fortes no ministério.
Se se logra isso, segundo ponto é dar perspectivas de reanimação da economia. Um consenso básico pode ser formado em torno de medidas imediatas, como comentei em artigo anterior. Isso acompanha a tendência que se formou com as medidas anteriores tomadas por Dilma, favorecidas pela declinação da curva da inflação e o câmbio favorável às contas externas e à indústria. Juros sinalizados para a queda alimentariam esse caminho.
Conquistas alcançadas pelas parcelas mais necessitadas do país, a ampla massa de trabalhadores hoje às voltas com desemprego crescente, precisam ser garantidas, sob pena de não sinalizar à sociedade um novo esforço de mudança de expectativas.
Não é o fim de mundo na economia. A questão é a da estabilidade política e normalidade institucional, para encerrar essa greve do capital quanto aos investimentos. Por isso, o terceiro ponto indispensável é que qualquer arranjo em prol do país precisa incluir também a correção da Lava Jato quanto ao devido processo penal, para que ela não se arvore em destruir o sistema político. Isso significa mobilizar a consciência jurídica democrática e, espera-se, a voz autorizada do STF precisa ser incluída numa concertação em prol do país. Do mesmo modo, chama à responsabilidade maior o sistema político-partidário, omisso quanto a esse risco (as ruas o demonstraram dia 13 de março).
Não é no grito das ruas que se pode decidir os interesses do Brasil, embora não se possa desconhecê-lo. Não é por pretensa República de Procuradores que se vai redimir o sistema político indispensável ao Estado brasileiro. A corrupção precisa ser extirpada, sim, com maturidade institucional, que implica recusa a métodos de exceção e facciosismo político com que, em boa medida, tem sido conduzida a Lava Jato. Se a bruxa existe, um bonapartismo redentor deve ser posto definitivamente fora da tela do radar dos que dirigem em última instância a Lava Jato.
A expectativa de poder fica para 2018, segundo o calendário democrático, com outro cardápio de opções para levar a política à normalidade – fim de reeleições, fórum especial para todos os ex-presidentes da República entre outras.
O importante é criar uma curva de incremento voltada contra o quanto pior, melhor, mobilizando forças e chamando à responsabilidade não apenas a base do governo como também forças da sociedade e até mesmo figuras mais sensatas da atual oposição.
Dilma Roussef, integridade e compromiso
Curto e grosso, escrevo para homenagear a presidenta Dilma Rousseff. Nem me atenho à conveniência política ou não de convidar o ex-presidente Lula ao ministério de seu governo. Registro apenas o quanto ela revela de compromisso, integridade e convicção com um projeto político e com a democracia e o Brasil.
A história o registrará, depois de todo esse facciosismo político que vivemos: a medida demonstra preocupação com a democracia, a nação e a estabilidade política. Lula está na posse de seus direitos políticos, como qualquer cidadão que não sofreu condenação alguma. É um engodo considerar que Dilma e Lula pretendem o foro privilegiado para o ex-presidente. O foro privilegiado não obstrui nem as investigações e muito menos a Justiça. Acentuar isso é o esforço da mídia golpista, alimentando a intolerância e o ódio.
Uma pessoa forjada nos mais duros combates e que aprendeu a prezar a lealdade. Nosso respeito, presidenta!
Walter Sorrentino é médico e vice-presidente nacional do PCdoB