Publicado 10/03/2016 10:37
Era dezembro de 2014 e o processo corria normalmente na 25ª Vara Cível do Foro Central de São Paulo. Um grupo de compradores de unidades em um condomínio da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários) no Jardim Anália Franco, zona leste da cidade, questionava a necessidade de rateio extra para a conclusão das obras e tinha, assim, os valores da ação depositados em juízo.
Participante do grupo, o ex-bancário José Roberto Parolina não teve tempo de acompanhar os desdobramentos do processo. Ele morreu em 12 de novembro de 2009, e sua causa passou a ser representada pelos familiares.
Finalmente, após cinco anos, o processo apontava para a conclusão. E o advogado Waldir Ramos da Silva, contratado pelo grupo, apresentava agora uma procuração para resgatar o valor da ação, que envolvia a quantia de R$ 295.226,13.
Mas qual não foi a surpresa dos familiares de Parolina ao ver que a procuração tinha a assinatura do falecido. O advogado apresentou uma procuração falsa, em nome de José Roberto Parolina, com sua assinatura, e isso acendeu uma luz vermelha no processo.
O advogado Waldir Ramos da Silva é o mesmo que em agosto de 2015 formulou a representação criminal contra o ex-presidente Lula no inquérito do Ministério Público de São Paulo sobre suposta ocultação de patrimônio no caso do apartamento triplex no Guarujá. A denúncia foi concluída hoje (9) pelo MP, e se for aceita pela Justiça o ex-presidente passará a ser réu na ação.
A procuração falsa foi detectada pelos herdeiros a tempo de evitar que o advogado se apropriasse dos recursos. A juíza bloqueou o acesso à quantia ao receber o atestado de óbito que comprovou a falsidade da procuração. Atualmente, o processo está concluído, depois de ter sido feito acordo de transferência do empreendimento para os condôminos.
Os familiares de Parolina apresentaram em 22 de janeiro de 2015 uma petição para anular a procuração. Nela, afirmam que “é insofismável informar que a procuração ad-judicia outorgada ao procurador Waldir Ramos da Silva entende-se ser falsa”. Ainda destaca que o autor jamais poderia ter sublinhado a assinatura datada de 9 de dezembro de 2014.
Representantes da família de Parolina registraram também o crime de falsidade ideológica na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), mas até hoje não obtiveram qualquer resposta da entidade. Tentaram ainda fazer um boletim de ocorrência, mas não conseguiram pelo fato de o documento original falsificado não poder sair do processo – eles têm, no entanto, um ofício que atesta a ida à delegacia para solicitar a queixa de crime.
A Bancoop também pediu ao juiz a instauração de processo policial para verificar a questão de documento falso. Atualmente, Waldir Ramos da Silva ainda age como assistente de acusação dos promotores José Carlos Blat e Cássio Conserino no MP-SP. Ele também representa proprietários de obras da Bancoop em outras ações.
Procurado pela reportagem da RBA, o advogado afirma que está prestando esclarecimento nas esferas adequadas, e que o caso tem um “procedimento próprio que está sob sigilo” e não pode se manifestar. Fosse outro contexto, a história já teria vazado há tempos, se acaso pudesse servir aos objetivos do Judiciário e da mídia comercial de destruir o governo Dilma, a eventual candidatura de Lula em 2018 e o PT.
Confira abaixo a imagem da procuração falsa e o atestado de óbito de José Roberto Parolina: