ONGs criticam Alckmin por declarar resolvida a falta de água
A declaração de que a crise da água está superada em São Paulo, feita nesta segunda-feira (7) pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi considerada “prematura” pela Aliança pela Água, rede com 48 organizações que realiza ações sobre a seca em São Paulo.
Publicado 09/03/2016 11:00
“(A afirmação) mostra uma visão equivocada sobre segurança hídrica, induz o aumento do consumo e, consequentemente, diminui a já frágil resiliência da Grande São Paulo para enfrentar novas crises. Inclusive porque a situação atual é melhor do que na mesma data em 2014 e 2015, mas ainda muito pior do que era entre 2010 e 2013, período anterior à crise”, defendeu a entidade em nota publicada hoje.
“A questão da água está resolvida, porque nós já chegamos a quase 60% do Cantareira e 40% do Alto Tietê. Isso é água para quatro ou cinco anos de seca”, afirmou Alckmin, durante seminário na Associação Comercial de São Paulo, no centro da capital paulista. “A maior seca tinha sido em 1953. Em 2014, choveu a metade de 1953 e não teve rodízio”, prosseguiu o governador, ignorando milhares de relatos, reclamações na Sabesp e reportagens demonstrando que houve muitas famílias que ficaram horas, às vezes dias, sem água por cortes realizados pela Sabesp.
Para a Aliança, é fato que as chuvas do verão deste ano têm contribuído para a recuperação do nível dos reservatórios, “mas ainda estamos distantes de atingir um nível seguro”. Em 2013, o Sistema Cantareira tinha 57% do volume operacional. Hoje tem aproximadamente 30%. O Alto Tietê tinha 60%, e hoje tem 40%. Na mesma data, em 2010, o Cantareira tinha 97% e o Alto Tietê, 93%.
O Sistema Cantareira deixou de utilizar a água do chamado volume morto em janeiro. A utilização desse volume foi revogada hoje, por meio de nota conjunta emitida pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee). “As obras anunciadas pelo governador consistem em novas transposições de Bacia, feitas em regime emergencial de licenciamento ambiental, com impactos sociais e ambientais pouco discutidos e sem o debate sobre o impacto financeiro dessas obras no futuro”, avaliou a Aliança.
As organizações que compõem a Aliança consideram ainda uma contradição o governador anunciar a superação da crise, mas manter a sobretaxa para aumento do consumo, que permanecerá em vigor até o final de 2016. “Nesse contexto, é um equívoco afirmar que aumentamos a resiliência às mudanças climáticas. O aprendizado de outras regiões, como Califórnia e Austrália, mostra que a diversificação de fontes (reúso, captação de água de chuva), programas de gestão da demanda e recuperação dos mananciais são fundamentais para superação de crises.”
Para a Aliança, a seca trouxe à tona os sérios problemas existentes na gestão da água em São Paulo. A entidade considera que as medidas adotadas representaram pouco avanço no enfrentamento das causas. Entre outros problemas, destaca as perdas significativas de água nas redes de distribuição, os esgotos lançados nos córregos e rios e a poluição das fontes de água, as poucas ações na recuperação e proteção das florestas nas áreas de mananciais e os problemas no acesso à informação, transparência e participação das prefeituras e da sociedade na gestão.