Bohn Gass: Aos que vão protestar contra Dilma
Na ditadura militar, brasileiros ou brasileiras que se revoltassem contra qualquer coisa eram presos a uma cadeira de zinco ligada a fios desencapados que disparavam choques, causando convulsões, queimaduras e mordidas que decepavam a própria língua.
Por Elvino Bohn Gass*
Publicado 09/03/2016 10:15
Na ditadura militar, quem defendesse eleições livres era amarrado nu em uma barra de ferro atravessada entre os punhos e os joelhos enquanto sofria pancadas, choques e queimaduras de cigarro.
Na ditadura militar, quem discordasse de qualquer ação do governo sofria “telefones”, tapas tão violentos contra os dois ouvidos que rompiam tímpanos e provocavam surdez. Na ditadura militar, quem denunciasse qualquer ato de corrupção tinha as narinas fechadas e, na boca, um cano que fazia engolir água até o afogamento.
Na ditadura militar, quem ofendesse o presidente, uma autoridade do regime ou mesmo um amigo do sistema tinha a cabeça mergulhada num tanque cheio de água e sua nuca era forçada para baixo até o limite.
Na ditadura militar, quem pedisse direitos iguais era despido e jogado numa cela baixa que impedia ficar de pé por dias, sem água e sem comida, recebendo rajadas super frias alternadas a ondas de calor insuportável, enquanto alto-falantes emitiam sons irritantes.
Então, quando você ouvir o som dos foguetes de Jair Bolsonaro, quando encontrar alguém com um cartaz pedindo intervenção militar, quando participar de um movimento onde haja pessoas defendendo isso, lembre-se: você está sendo cúmplice de um modelo que assassinou, enlouqueceu, mutilou e estuprou muitos brasileiros e brasileiras.
Eles e elas eram pessoas como você. Só queriam poder dizer o que pensam, manifestar sua inconformidade. Não aceitavam mandos e desmandos sem qualquer explicação. Consideravam legítimos os direitos das mulheres, do povo negro, dos indígenas, dos sem-terra e, especialmente, daqueles brasileiros e brasileiras que, por ganharem pouco ou quase nada, não tinham acesso ao estudo, à casa própria.
O único crime desses homens e mulheres era a sua inconformidade com um país onde uns poucos brancos e ricos viviam muito bem, enquanto a maioria era submetida à fome, à miséria e a salários aviltantes.
Entre esses brasileiros e brasileiras estava uma mulher chamada Dilma Vana Rousseff. Hoje, é ela quem governa o Brasil. E é por nossa governante ser Dilma, e não um ditador ou seus comparsas, que você, se quiser, pode protestar livremente, contra o que bem entender, inclusive contra o governo da própria Dilma.
Ela foi torturada para que você pudesse ter esse direito. Então, faça sua manifestação como bem entender, mas antes de ofender Dilma, pense nisso.