Alejandro Sanz e o machismo, a ética no calor da hora
No sábado (20) à noite, em um show no México, o cantor Alejandro Sanz abandonou por breves instantes sua atuação para descer do palco e defender uma espectadora que estava sendo maltratada por um indesejável, os merecidos elogios irromperam nas redes sociais: foi chamado de grande, herói, e dedicaram-lhe muitos outros elogios.
Por Pablo de Llano, no El País
Publicado 23/02/2016 15:41
Porém, ali também se esgueiraram alguns comentários críticos com um indício presente nas palavras que o artista disse quando voltou ao palco: “Eu não posso imaginar que ninguém toque alguém, e ainda menos uma mulher”.
O exemplo de Sanz seria valioso em qualquer lugar, porque a violência machista é um flagelo global, mas em um país como o México, onde o fenômeno tem particular rudeza, adquire uma relevância especial. Falamos do país de Ciudad Juárez, o berço do feminicídio como categoria sócio-criminal, de um país no qual mais de 60% das mulheres com mais de 15 anos sofreu alguma forma de violência, do país onde se pode ouvir num bar, na rua ou num táxi adágios como o que diz: “Mate-as com uma overdose de ternura…”. “Oxalá que o que aconteceu sirva para conscientizar”, disse o artista espanhol depois de seu comportamento ter se tornado um fenômeno viral na Internet.
Se bem que essas cinco palavras — “e ainda menos uma mulher “ — e o impulso de resolver a situação cara a cara possam remeter a uma frase incisiva de Simone de Beauvoir, “O problema da mulher sempre foi um problema de homens”, neste caso não há dúvida sobre o lado em que ficou cada um dos homens que protagonizaram o episódio: o cantor, ovacionado no palco e elogiado pela opinião pública, e o agressor, humilhado, expulso como um empesteado.
Alejandro Sanz não fez um discurso sobre teoria de gênero no sábado, mas deu um exemplo direto da importância que tem a tolerância zero diante da violência machista. A ética não se serve somente fria.