Jussara Cony: O vigor do Fórum Social na luta pela democracia
Neste artigo, a vereadora Jussara Cony (PCdoB), que representou a Câmara de Porto Alegre na comissão que coordenou o Fórum Social Mundial Temátido 2016, faz um balanço do evento e de sua importância na mobilização dos povos contra o conservadorismo no Brasil e em nível global
Publicado 03/02/2016 19:40 | Editado 04/03/2020 17:09
O ano de 2016 começou com um importante desafio para os movimentos populares e sociais: preparar as bases para uma longa luta travada dentro e fora dos limites territoriais brasileiros. Internamente, contra a ofensiva de setores conservadores que buscam desestabilizar e inviabilizar o governo Dilma Rousseff; no nível global, enfrentando as investidas do imperialismo que trabalha diuturnamente para fazer valer seus interesses em detrimento da soberania dos países e autodeterminação dos povos.
E neste sentido, o Fórum Social Mundial Temático de Porto Alegre teve papel fundamental. Para além de críticas pontuais que o classificaram como “esvaziado” em relação às edições anteriores, a verdade é que o FSM-T conseguiu, mais uma vez, garantir um debate democrático em torno destas e outras questões. E o mais importante: com muita unidade e amplitude. Com isso, o que vimos foi um verdadeiro diálogo continental, a formação de uma rede composta por frentes, organizações, movimentos, partidos, centrais e associações de dentro e de fora do Brasil que, para além de suas bandeiras específicas, conseguiram em uníssono dizer enfaticamente: “outro mundo é possível e estamos dispostos a construí-lo juntos!”.
Nestes cinco dias, desde a grande marcha de abertura (19/01) – que reuniu cerca de 20 mil pessoas – até a assembleia final (23/01) que aprovou uma carta conjunta dos movimentos – o que vimos foi uma grande teia formada por jovens, idosos, mulheres, homens, gays, lésbicas, travestis, transexuais, negros, sindicalistas, militantes e ativistas de todas as áreas discutindo temas relevantes para o mundo contemporâneo.
Para citar algumas: as mulheres tiveram forte presença, mostrando que sua primavera é apenas o começo de uma nova etapa da luta emancipacionista. Em toda sua diversidade, elas bradaram que não vão mais aceitar a violência, as humilhações, as injustiças e desigualdades que têm marcado a existência feminina sob o capitalismo.
Também estavam ali os jovens, dizendo que querem mais educação, cultura e lazer, que não querem mais ver a juventude negra sendo exterminada, que estão nas ruas e nas escolas prontos para dar sua contribuição para a construção de sociedade melhor. Os negros também trouxeram à tona o racismo e a necessidade de todos, negros e brancos, acabarem com essa chaga secular. Os líderes comunitários e de movimentos de moradia reafirmaram sua disposição em avançar na conquista de uma reforma urbana que garanta moradia digna e infraestrutura de qualidade para todos. Os trabalhadores foram em peso dizer “não” aos retrocessos em direitos adquiridos e seguir mobilizados por mais emprego e distribuição de renda.
E para além do Fórum em si, o evento teve o papel de resgatar o espírito contestador e participativo da Porto Alegre de outrora que viu nascer o Fórum e o Orçamento participativo e que hoje luta para retomar seu protagonismo e se transformar numa cidade cada vez mais humana, sustentável e democrática.
Enfim, foram diversos os grupos, os debates, as teses levantadas. Mas, em todos eles havia um sentido único de unidade, de construção de uma democracia cada vez mais sólida e participativa. De um mundo cada vez mais humano, solidário e igualitário. Portanto, podemos dizer com segurança que ao completar seus 15 primeiros anos, o FSM-T se renova e mostra seu vigor para a construção de caminhos conjuntos para o mundo possível que todos almejamos.
Jussara Cony (PCdoB), vereadora de Porto Alegre e membro da Comissão Organizadora do FSM-T