“Ataque ao Lula é para esconder Cunha”, afirma Laurindo Lalo Leal
Guiada pelos interesses de preservar a elite conservadora e ataque contra os governos populares, a grande mídia brasileira usa a tese de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler na Alemanha nazista, e repete mentiras milhares de vezes para tentar transformá-las em verdade, como faz no caso do ex-presidente Lula.
Por Dayane Santos
Publicado 01/02/2016 16:57
Mesmo sem apresentar uma prova de indício de ilegalidade, a imprensa faz extensas reportagens para insinuar que a compra, com nota fiscal, de uma canoa de lata de R$ 4,1 mil feita pela ex-primeira-dama Marisa Letícia como presente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um delito. Que a visita a um imóvel, no Guarujá, que adquiriu por meio de cota, declararam no Imposto de Renda e também ao TSE, mas que desistiram da opção de compra também é um ato ilícito, é crime.
“Não há prova nenhuma. Mas pior do que isso é a seletividade desse tipo de jornalismo. Temos casos escabrosos como o caso do helicóptero com cocaína, o caso de desvio de verbas da merenda escolar aqui em São Paulo, por exemplo. Fatos muito mais graves e de fácil constatação, que não entram na pauta desses jornais”, enfatizou o sociólogo, jornalista e professor da ECA-USP Laurindo Lalo Leal Filho, em entrevista ao Portal Vermelho.
O professor afirma que neste caso específico de Lula, a mídia busca “pinçar possíveis elementos”, descontextualizando-os dos fatos reais, para tentar criminalizar o ex-presidente e o governo da presidenta Dilma.
Desmontada a farsa
“Até agora tudo que se mostrou foram matérias muito fracas, frágeis e facilmente desmontadas como foi feito pelo próprio presidente Lula. Hoje temos um jornalismo muito pobre que tem como objetivo único a busca de elementos que reforcem a sua atuação político-partidária”, salientou ele, referindo-se à nota divulgada pelo Instituto Lula que, de forma detalhada, revela documentos e fatos desmascarando a farsa do apartamento no Guarujá.
“Vale notar que Eduardo Cunha [presidente da Câmara dos Deputados] está desaparecendo dos noticiários. O que enfraqueceu muito a bandeira do impeachment foi o fato de Cunha ser o líder do processo e ter sido apresentado como um dos maiores corruptos desses país, fato esse que a imprensa não pode esconder”, lembrou. E completa: “Me parece que com esse ataque ao Lula está se escondendo o Cunha”.
Entre as acusações que pesam contra Cunha está a de ter recebido US$ 5 milhões em propina, em um contrato da Petrobras com a empresa coreana Samsung Heavy Industries, para o fornecimento de navios-sondas. A denúncia com comprovantes entregues pelos bancos suíços foi encaminhada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao STF, onde está sob a relatoria do ministro Teori Zavascki.
Golpismo histórico da mídia
Lalo afirma que o comportamento da mídia em relação aos governos populares no Brasil é historicamente de oposição. “Isso não é recente”, disse ele, ressaltando que, no momento em que o avanço das forças populares se torna mais agudo, “a mídia reage e passa a atuar de uma forma mais agressiva, como acontece hoje”.
“Há uma combinação de avanço das forças populares, a partir do governo Lula e de uma situação política e econômica mais aguda a partir do segundo mandato da presidenta Dilma em que a mídia cresce nesse seu papel oposicionista”, salienta o professor.
A diferença, segundo ele, consiste no fato de em outros momentos da história do país, agora não existe na mídia nenhuma força maior de sustentação dos governos populares.
“No governo Vargas tinha o jornal Última Hora, que de alguma forma dava algum tipo de respaldo ao contraditório. Hoje não há. Temos três jornalões e uma rede de televisão que pauta todo o noticiário que repercute nos demais meios de comunicação no Brasil de forma praticamente homogênea”, enfatiza. “A mídia se coloca praticamente como porta-voz de um partido político de oposição”, acrescenta.
Relação promíscua com MP e PF
Laurindo Lalo Leal afirma ainda que diante da crescente desestruturação das empresas de comunicação houve uma forte redução dos investimentos de conteúdo jornalístico e, por consequência, uma queda na qualidade da informação.
“Essa mídia passou a trabalhar apenas na superficialidade, sem investimentos em reportagens mais aprofundadas – já que aprofundar também não interessa, pois se tivessem que fazer isso teriam que fazer também com aqueles que eles apoiam. A mídia passou a trabalhar somente nas relações com Ministério Público, com o Judiciário, com a Polícia Federal, por não haver necessidade de se investir na reportagem, apenas reproduz o que é passado pelos contatos que tem com esses órgãos numa relação bastante promíscua”, destaca.
E completa: “É um problema sério para ela própria na medida em que vai deteriorando a sua respeitabilidade e credibilidade junto ao público porque ela passa a ser cada vez mais dependente desses órgãos. Acho até que setores da sociedade chegam a desconfiar desse tipo de informação cada vez mais dependente dessas instituições”.
O professor ressalta também que a tentativa e macular a imagem de uma liderança política com a corrupção vem desde o governo de Getúlio Vargas e nas ações da UDN. “Esse mote continua forte e é estimulado pela mídia. Não descarto a possibilidade de que hoje essa campanha que agora atinge o ex-presidente Lula cresça e coloque mais gente na rua”, frisa Lalo, apontando que essa campanha tem como objetivo insuflar os atos de direita conservadora.
Laurindo Lalo Leal conclui afirmando que esse “tribunal” da mídia, que denuncia, julga e condena, é presença constante nos chamados programas policiais. “Esse tribunal da mídia é naturalizado no Brasil para as camadas populares e, nos últimos anos, passou a atingir classes médias e políticos, para o bem e para o mal. Ela consegue apontar casos de corrupção que são reais, não podemos negar. Mas se aproveita disso para fazer o uso político contra seus adversários políticos”, destacou.
Essa atuação, afirma Lalo, “é um risco para a democracia”. “Do ponto de vista econômico, a crise existe, mas não nas proporções que a mídia bombardeia. Quando há dados positivos da economia ela afirma que ‘apesar da crise’ alguma coisa de bom aconteceu. Mas a palavra ‘crise’ está presente em todos os momentos de forma exacerbada, o que faz com que os agentes econômicos se encolham, aprofundando a crise. Do ponto de vista político, acontece a mesma coisa. Ao colocar todos os agentes políticos no mesmo cerco da corrupção, da busca pelos interesses privados e abandono do interesse público, vai cada vez mais fazendo com que a população desacredite da política, o que é um dos maiores inimigos da democracia”, finaliza.