Ocupantes das escolas de Goiás denunciam violência e perseguições  

Desde segunda-feira (25), estudantes que ocupam unidades de ensino em Goiás denunciam invasão da Polícia Militar nas escolas estaduais Ismael Silva de Jesus e Robinho Martins de Azevedo, durante a madrugada, com agressões aos estudantes e professores que participam do movimento de ocupações em Goiânia. 

Por Railídia Carvalho

Estudantes da escola estadual Ismael de Goiás denunciam no MP - Secundaristas em Luta

Segundo a página do Facebook Secundaristas em Luta a pressão pela desocupação tem gerado uma onda de violência no estado, manipulação de pais e perseguição a estudantes e professores. No final desta tarde, estudantes ocuparam o prédio da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte (Seduce).

Há mais de 40 dias, os estudantes goianos protestam contra a implantação das Organizações Sociais (OSs) na gestão das escolas estaduais. Estudantes e professores tentam, sem sucesso, dialogar com a Secretaria de Educação e propor novas alternativas para a melhoria do ensino no estado. As informações do movimento contam que são 23 escolas ocupadas atualmente.

Intimidação

O estudante Gabriel Tatico, do terceiro ano da escola estadual Olavo Bilac, informou ao Portal Vermelho que dois homens encapuzados invadiram na madrugada desta terça-feira (26) a escola Robinho e forçaram, através de tapas e xingamentos, os estudantes a desocuparem o local. Os estudantes da escola Ismael declararam que foram acordados na segunda-feira com pontapés e também forçados a deixar a escola. Foram registrados ainda dois atropelamentos de estudantes.

Tatico é diretor da União Brasileira de Estudantes Secundaristas de Goiás (Ubes) e participante das ocupações. Para ele, a violência é mais uma forma do governo estadual intimidar o movimento. A diretora da União da Juventude Socialista de Goiás (UJS), Claudia Herlaine, admitiu que teme pela integridade do dirigente estudantil. Tatico recebeu ameaças e contou que desconfia que teve o celular grampeado.

Desde que começaram as ocupações há 40 dias as pressões aos estudantes se alternam entre disciplinares e explicitamente violentas: No dia 18, a secretaria de Educação informou que não entregaria os certificados de conclusão do ensino médio aos estudantes das escolas ocupadas. Em um dos momentos mais tensos das manifestações de rua, um policial à paisana apontou uma arma para um estudante. A imagem correu o mundo.

Ilegalidade

Outras denúncias de práticas ilegais foram denunciadas nesta semana ao Ministério Público. De acordo com informações publicadas no Secundaristas em luta “Os apoiadores presentes no MP também denunciaram a abordagem ilegal que os levou para a delegacia — de policiais não identificados, em carros não identificados, portando armas e acusando-os de diversos crimes”.

A secretaria de educação de Goiás divulgou nota na segunda-feira afirmando que “pais, professores e alunos das escolas participaram das desocupações e reivindicaram o espaço para que as aulas pudessem começar”.

“Ainda não está claro se essas desocupações foram através da Justiça, ou o Estado tenta colocar como ação de populares”, afirmou o advogado Bruno Pena, presidente da Comissão de Direito e Prerrogativa da Ordem dos Advogados do Brasil de Goiás (OAB-GO).

Ele lembrou que recentemente foi barrado na porta de uma escola ocupada quando ia prestar assistência aos estudantes. Bruno disse que o histórico de reintegração de posse do Estado é trágico. O advogado foi responsável pela libertação de três estudantes que foram presos, arbitrariamente, durante a madrugada em suas casas, por participarem dos atos contra o aumento da tarifa em 2014 em Goiás.

“As escolas estão sendo desocupadas à força. Sem reunião da Comissão de Gerenciamento de Crises e sem o conhecimento e participação do MP, até onde se tem notícia. Estudantes estão aparecendo lesionados. Goiás está se tornando terra sem Lei”, escreveu Bruno no perfil do Facebook.

Diálogo

A professora Ailma Maria de Oliveira, do Conselho Estadual de Educação de Goiás, definiu como “absurda violência” o que vem acontecendo nas escolas ocupadas. Segundo ela, está sendo redigido um manifesto em solidariedade aos estudantes e contra a violência. “Neste momento em que tentamos um diálogo acontece a invasão da polícia partindo para a violência física contra professores e alunos”, comentou Ailma.

Sobre as denúncias dos estudantes de que diretores de escolas estão aliados a PM nas ações de desocupação, Ailma ponderou que os gestores sofrem “uma pressão muito grande por parte do governo”. Ela insistiu que são dois ou três gestores que “perderam o controle da democracia” e “eles não podem permanecer”.

Ailma afirmou que as entidades estudantis, movimentos pela educação e movimento social de Goiás vão acionar instâncias judiciais nacionais e internacionais. “E preciso restabelecer o diálogo. Temos alternativas para melhorar a Educação e ela não passa pela privatização”, ressaltou a professora. 

Ocupação na secretaria de Educação

Após serem forçados pela PM a deixarem as escolas, estudantes e simpatizantes do movimento ocuparam, no início da noite desta terça-feira (26), a secretaria de Estado de Educação. A estimativa é de que 150 pessoas participaram do ato.

Os manifestantes pedem a suspensão de edital que seleciona organizações sociais para gerir 23 escolas estaduais, em um projeto piloto.