Autonomia do BC não é para fazer apenas o que o mercado quer
Se pressão política funcionasse para o Banco Central não teríamos uma taxa estratosférica de juros básicos em nosso país. A maior prova de autonomia do Banco Central está na taxa Selic de 14,25% ao ano, a maior de todas as economias do mundo. E que até agora foi pouco eficiente no controle da inflação, posto que esta não é de demanda. Funcionou para o câmbio e para assegurar investimentos estrangeiros no país.
Por Gleisi Hoffman*
Publicado 25/01/2016 09:52

Diante disso, chega a ser ridículo o esforço dos operadores do mercado, louvados por parte da imprensa, para imputar ao Banco Central perda de autonomia, fraqueza.
Economistas renomados e ortodoxos vinham defendendo com insistência a estabilidade da Selic. Como dar mais importância à opinião de operadores financeiros, interessados imediatos em ganhos rápidos nas aplicações de mercado, e desconsiderar o que está acontecendo na economia mundial, com o impacto da queda do preço do petróleo e o enfraquecimento da economia chinesa?!
A autoridade monetária foi avisada pelo FMI e recebeu informações importantes durante a reunião do BIS (Bank for International Settlements), nos dias 9 e 10 deste mês em Basileia na Suíça, sobre a situação crítica da economia internacional e, por consequência, da nacional. Conjuntura mudada e a decisão deveria continuar a mesma a título de resguardar a credibilidade de uma instituição? Ora, credibilidade não se sustenta com decisões erradas.
A arrecadação tributária do governo foi fortemente afetada pelo desempenho fraco da economia. Isso nada tem a ver com a tese da dominância fiscal. Não há descontrole nas contas públicas, o que há é um impacto enorme, quase um dreno, das contas de juros. Podemos cortar todas as outras despesas que não equilibraremos a política fiscal se a política monetária continuar nessa toada.
O reposicionamento do Banco Central foi correto, e ainda teve a elegância, quase caridade, de avisar o mercado antes da decisão. Errática, como atacam alguns, é a posição daqueles que apostam contra o país.