Entidades articuladas dão visibilidade às pautas feministas no Fórum
Cristina Correia, coordenadora da União Brasileira de Mulheres no Rio Grande do Sul, e integrante do Comitê Organizador Local do Fórum Social Mundial temático 2016, destacou a importância da articulação entre as organizações do movimento social para fortalecer a pauta das mulheres no encontro.
Publicado 21/01/2016 18:30
Foram 34 entidades nacionais articuladas na região Sul e que elaboraram e concretizaram, em ações e atividades, a participação das mulheres na programação do Fórum Temático.
Entre as organizações estão a UBM, União da Juventude Socialista (UJS Feminista), Unegro, Secretaria da Mulher do Partido dos Trabalhadores, Mulheres Indígenas, Marcha Mundial das Mulheres, Frente de Mulheres no Hip Hop, Secretaria da Mulher do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Central de Trabalhadoras e Trabalhadores do Sexo (CUTS).
“Boa articulação resultou em vitória dentro da organização do Fórum, que foi de todas as mesas serem paritárias”, ressaltou Cristina.
Diversidade
Na manhã desta quinta a UBM coordenou a atividade autogestionária “Ciranda das Mulheres por um outro mundo possível”. Liége Rocha, Secretária Nacional da Mulher do PCdoB, elogiou o espírito de amplitude e diversidade do encontro que reuniu mais de 150 mulheres na Tenda Redenção.
“Foi um encontro que teve grande diversidade com a participação de mulheres indígenas, ciganas, negras, trabalhadores da saúde mental, prostitutas. Estivemos debatendo a importância da participação das mulheres na defesa da democracia, garantia de direitos, combate ao preconceito e à intolerância. Também tivemos a presença dos homens”, afirmou Liége.
Violência
Na tarde de quarta (20) a Central Única dos Trabalhadores (CUT) promoveu e coordenou a oficina a “Violência Sexista no Local de Trabalho”. O atividade debateu alternativas de enfrentamento a uma das maiores preocupações das trabalhadoras brasileiras: a violência majoritariamente praticada por homens não só no local de trabalho, mas em casa e outros locais públicos.
“Essa violência é praticada pelo simples fato de a pessoa ter nascido mulher”, resumiu Juneia Batista, secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT e coordenadora do evento.
Segundo Juneia, a violência se dá de várias formas, desde a exigência de ser “multifunção” nos setores de produção das fábricas, o fato de receber cerca de 30% menos que os homens para realizar o mesmo trabalho, o desequilíbrio de poder (funções de comando na mão dos homens), normas muito rígidas de controle da mulher no ambiente de trabalho (contagem do tempo de ida ao banheiro) e preconceito (idade e número de filhos, por exemplo, implica restrições na contratação das mulheres).
Para a advogada Beatriz da Rosa Vasconcelos, integrante da Thêmis (Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero), são inclusive culturais as causas das violências contra as mulheres. “A sociedade é machista e, desde pequenas, as mulheres são instadas a cumprir papéis secundários e de subserviência. E esta desvalorização acaba comprometendo toda a vida destas mulheres”, destacou.
Juneia foi enfática ao defender que “Os sindicatos têm obrigação de serem parceiros na luta contra a violência e a discriminação contra as mulheres nos locais de trabalho, denunciando e combatendo os casos de assédio moral e sexual”.
Preconceito
Também na quarta-feira aconteceu a atividade autogestionária “Roda de Conversa Mulheres Indígenas e Cidadania”, realizada no Centro de Referência de Direitos Humanos, em que representantes dos povos Guarani, Kaingang e Apurinã puderam falar sobre vivências, tradições, a luta pela preservação da cultura, o preconceito enfrentado em meio a crescente “indiofobia” no Brasil.
Segundo as mulheres indígenas, entre as tribos indígenas, gênero não se traduz em opressão ou hierarquia. Todos têm igual espaço de fala dentro da comunidade. Kuáwá Apurinã, da etnia apurinã, conhecida como Pietra Dolamita, é bacharel em Direito e mestre em Educação. Ela conta que muitas de suas colegas perguntam sobre o “feminismo indígena”. “Feminismo? Que palavra é essa, nós não temos isso. Não existe feminismo indígena porque não somos oprimidas. Na minha aldeia até as crianças que quiserem falar serão ouvidas”, explica.
Porém, fora de suas aldeias, muitas das mulheres indígenas acabam por conhecer o preço de ser mulher. Kuáwá diz ter muitas histórias de assédio e perseguição. “A mulher indígena, quando jovem, é vista como produto exótico”, afirma ela.
O assédio não é apenas sexual, há também o preconceito. Luana, uma jovem kaingang presente na roda, estudante de Odontologia na UFRGS, disse que resiste para seguir estudando. “Eu estou lá pelo meu povo, eu sempre digo que sou índia e nunca baixei a cabeça para eles”, revela emocionada.
Este preconceito se traduz para muitos indígenas em medo. A guarani Talcira Gomes conta que criou sete filhos sem nunca deixar que eles fossem para a cidade quando crianças. Ela tinha medo. Agora, duas de suas filhas estão fazendo faculdade na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, mas o medo de que algo possa acontecer segue com ela.
Mais informações sobre a programação acesse o Portal Fórum Social 2016