União das forças progressistas conteve conservadorismo, avalia Frente
Nesta segunda-feira (18) em São Paulo, lideranças dos movimentos sociais e políticos integrantes da Frente Brasil Popular realizaram reunião de balanço das ações promovidas em 2015 e debateram os rumos do movimento neste ano. Os dirigentes apontaram como principal conquista da Frente a unidade das forças progressistas e populares em defesa da democracia, que conteve a onda conservadora da direita e seus intentos golpistas.
Por Dayane Santos
Publicado 18/01/2016 18:51
“A Frente é integrada por entidades políticas e sociais muito maduras. Um dos êxitos da Frente Brasil Popular foi ter sabido jogar na unidade em torno do núcleo central que era a causa democrática. Há um consenso muito claro de que nós conseguimos conter a investida golpista ao longo de 2015, mas que os empates seguirão difíceis e prolongados por outros caminhos”, afirmou o vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino, em entrevista ao Portal Vermelho.
A coordenadora da União Brasileira de Mulheres (UBM), Liège Rocha, que também participou da reunião, destacou: “As manifestações realizadas no último dia 16 de dezembro em todo o país, foram construídas de forma unitária entre as diversas forças e potencializam as ações da Frente Brasil Popular este ano”.
Liége reforça que a grande articulação dos movimentos sociais, diante de uma conjuntura muito complexa, demonstrou o poder de organização e de luta para enfrentar as tentativas de retrocesso. “Manter essa unidade é o compromisso da Frente”, reafirmou.
Além de preparar uma agenda de mobilizações, o encontro definiu a criação de dois grupos de trabalho, sendo um para elaborar uma proposta de Plano Emergencial para o Brasil; e outro que vai organizar seminários para discutir a crise econômica internacional e seus reflexos no país. A Frente deve se reunir novamente no dia 3 de fevereiro.
Segundo Sorrentino, a crise econômica mundial é muito severa, afetando diversos países e a recessão pode se aprofundar em 2016. “Está claro que a luta em defesa da democracia deve ser combinada com a luta pela retomada do crescimento econômico, sem o que a nossa base social seguirá intranquila, com receio de perder conquistas e sem uma expectativa maior de avançar nas conquistas”, enfatiza.
Ele afirma que a Frente busca estabelecer um consenso sobre o caminho para o país sair da crise econômica. Segundo Walter, “há controvérsias sadias” entre as entidades que integram a Frente, sobre qual é a margem de manobra que o governo brasileiro tem para forjar uma agenda de consenso e tentar retomar a iniciativa e a liderança política em torno desta agenda.
“De modo que essas controvérsias podem levar a uma certa dose de voluntarismo político na orientação econômica, ou até mesmo a outro extremo, podendo levar à defensiva”, ponderou. “O que está claro é que nós devemos ter a nossa própria agenda, com poucas e concretas medidas para disputar a sociedade e não apenas o governo”, destacou.
Sorrentino disse ainda que os movimentos e partidos integrantes da Frente vão atuar de forma propositiva, mantendo a confiança de que não haverá retrocessos. “O PCdoB manifestou que numa luta política radicalizada como está, nós não devemos perder a relação de confiança com a presidenta baseada em não atingir direitos e conquistas, mas, ao mesmo tempo, jogar o nosso papel autônomo para disputar essa agenda junto ao governo e a sociedade”, defendeu.
Juros
Ainda sobre a questão econômica, Sorrentino comentou a possibilidade aventada pelo mercado financeiro de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central eleve a taxa de juros básica, a Selic, em 0,5 ponto percentual para 14,75% ao ano. A reunião do comitê é nesta terça (19) e quarta-feira (20).
“Um grito de indignação aberto quanto à possibilidade do Copom aumentar a taxa de juros, pois isso representa tudo que o país não poderia fazer em termos de política econômica. Esta política de juros acaba sendo favorável ao ciclo recessivo e da fragilidade fiscal do Estado brasileiro, que se obriga a ter uma conta anual de juros de R$ 480 bilhões, como foi em 2015”, destaca Sorrentino. E acrescenta: “A Frente considera tal medida como uma insanidade. Representa um dos grandes temas em torno do qual reivindicamos a mudança da política econômica”.
Sobre a tentativa do consórcio oposicionista de tentar buscar o caminho do golpe por meio da cassação do mandato da presidenta Dilma Rousseff no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Sorrentindo disse que é preciso “formar um novo consenso” entre as entidades para frear a estratégia conservadora.
“É uma tentativa de contornar o golpismo escancarado por uma manobra que atinge diretamente a soberania popular, do voto, tentando mancomunar a campanha com esse processo da Lava Jato”, salientou.
Com relação ao Congresso Nacional, a expectativa é de que a pauta conservadora deve prevalecer, o que reforça a importância dos movimentos sociais nas ruas e do diálogo permanente do governo com a sua base social. “O governo precisa buscar com lideranças políticas retomar a confiança na presidenta Dilma por uma agenda de consenso contra o ‘quanto pior melhor’… O Conselhão é um passo na repactuação da base econômica e social do governo para a retomada do crescimento econômico”, defendeu Sorrentino.