Wendell Lira do Brasil e o gol mais bonito do ano
O clima era de entrega de Oscar, o tapete vermelho, astros e estrelas, fotógrafos se acotovelando pelo melhor click e fãs ávidos por uma assinatura de seus ídolos. Mas os premiados não seriam filmes, nem atores e nem atrizes. Seriam os artistas da bola. A cerimônia era a 25° Bola de Ouro da Fifa, realizada nessa segunda-feira (11) em Zurique, na Suíça.
Por Thiago Cassis*, para o Vermelho
Publicado 12/01/2016 10:43

Na premiação para melhor jogador de futebol do mundo, no futebol masculino, nenhuma surpresa: o argentino Messi, do Barcelona, faturou mais uma vez o prêmio. Pela quinta vez que o argentino foi escolhido o melhor do planeta com a bola nos pés. No futebol feminino a norte-americana Carli Lloyd garantiu o título de maior craque.
Ainda sem novidades, os melhores treinadores foram, no futebol masculino, Luis Henrique, também do Barcelona e no feminino, Jill Ellis, da seleção norte-americana. Os melhores treinadores fizeram os maiores craques, ou ao contrário? Só com uma análise mais apurada conseguiríamos responder, fato é que o Barcelona no futebol masculino e a seleção Norte-Americana de futebol feminino foram os grandes premiados na noite.
Mas ainda tinha outro prêmio para ser entregue na fria noite suíça. Quem levaria o gol mais bonito do ano, o cobiçado e democrático (é o único em que a votação é aberta ao público) prêmio Puskas? Concorriam Messi, o melhor do mundo, Florenzi, da Roma e Wendell Lira, do, do… do Goianésia!

Wendell na premiação da Fifa nesta segunda-feira (11)
Wendell Lira, atacante brasileiro que começou a carreira com algum destaque na equipe do Goiás, e depois de quase ir para o Milan, sofreu com uma série de contusões e acabou rodando o país, além de ajudar sua mãe na lanchonete da família e quase ter abandonado a carreira. Atlético de Sorocaba, Fortaleza, Tombense e claro, o Goianésia, foram alguns dos clubes pelos quais Wendell passou de 2007 pra cá.
Foi numa partida do Campeonato Goiano de 2015, entre Goianésia e Atlético-GO, que Wendell fez o golaço (assista abaixo). Debaixo de muita chuva e com poucos torcedores nas arquibancadas para testemunhar o feito. Uma gol de placa.
Com uma população que cabe algumas vezes a Itália, a Espanha e até a Argentina, e com uma frequência descomunal nas redes sociais, não foi difícil de mobilizar muitos brasileiros para que votassem no nosso atleta, e fazer com que, ao menos o prêmio de gol mais bonito, viesse para nossa terra. Era nossa única chance, porque se Neymar ganha o troféu de melhor jogador, e ficou entre os três primeiros, o artefato repousaria em uma estante em algum lugar da Catalunha. Wendell Lira venceu, “Wendell Lira do Brasil”.
E para nós brasileiros que amamos futebol, que crescemos arriscando nossos chutes em toda espécie de bola (muitas vezes nem redonda como manda o figurino), não dispensamos nem jogo de primeira fase da Copa de S.P. de Juniores na TV e se estiver passando série B do estadual assistimos também, qual foi a surpresa de um gol como esse em uma partida do Campeonato Goiano? Nenhuma.
Nossos gramados são forrados de Wendell's. Craques humildes, gente muito simples e batalhadora que apostou tudo em correr atrás da bola e até conseguiram se profissionalizar. Mas no caminho não toparam com um empresário e nem com uma marca de artigos esportivos que alçasse o jovem talento para algum clube desses que constam nos jogos de video-game (referência usada pelo próprio Wendell em seu discurso no evento da Fifa). Com isso levam sua carreira adiante aos trancos e barrancos, de clube em clube passam de sua adolescência até os 30 e poucos, ou até quando as pernas aguentarem, tentando bicicletas e voleios por nossos gramados, que muitas vezes nem muita grama tem na verdade.
O que me pergunto é, o que fazer com nossos milhares de Wendell's? Como aproveitar melhor as centenas de jogadores que surgem todo ano de Norte a Sul do país? Com estaduais cada vez mais achatados e sufocados, 20 times da Série A, e mais alguns tentando sobreviver nas séries B, C e D, darão conta de traduzir a diversidade de cores e clubes do nosso futebol?
Só o futuro nos dirá. Certeza mesmo temos de duas coisas: o gol de Wendell Lira (que disputará o campeonato goiano de 2016 pelo Vila Nova) foi lindo e mereceu ganhar e que muitos outros golaços acontecerão já no fim desse mês, quando os gramados de todos país serão ocupados pelos campeonatos regionais, com ou sem prêmio da Fifa.