Carina Vitral avalia a conjuntura educacional e os desafios da UNE 

O ano de 2015 exigiu resistência aos estudantes. Diante de um ambiente de crise, ruas foram tomadas por jovens em defesa da democracia e contra retrocessos sociais. Em meio ao complexo cenário, somou-se o desafio de lutar contra os cortes orçamentários, no intuito de manter as conquistas obtidas na área da educação. A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, avalia o contexto educacional no país e aponta as perspectivas a serem alcançadas em 2016.

Por Laís Gouveia

Congresso da UNE Carina Vitral - Bruno Bou

A jovem Carina, estudante de economia na PUC-São Paulo, foi eleita presidenta da UNE no último mês de junho, e apesar do pouco tempo na gestão, já possui uma intensa agenda de ações à frente da entidade, reflexo de um ano conjunturalmente conturbado, “São cinco meses que se parecem três anos, tamanhas as batalhas enfrentadas durante o último período”, afirma.

A presidenta da UNE diz que o ano de 2015 gerou alguns entraves na educação, fruto do contexto da crise político-econômica que o Brasil enfrenta, porém afirma que alguns fatores positivos ocorreram no recorte das universidades privadas.

Ao avaliar as alterações realizadas pelo Ministério da Educação no Fundo de Financiamento Estudantil, Carina salienta que as mudanças foram necessárias para conter o lucro abusivo dos tubarões de ensino. “A UNE considera de forma positiva, pois o nosso princípio é priorizar a valorização do ensino público universitário e houve uma perda de controle com as regras do Fies nos últimos anos, chegando ao ponto de serem ofertadas 700 mil vagas em 2014, o Prouni, por exemplo, levou 10 anos para atingir um milhão de bolsas, ou seja, isso significa uma falta de domínio com o programa de financiamento, uma prioridade equivocada ao transferir o lucro direto aos empresários do ensino privado, que, em contrapartida, oferecem em suas instituições um ensino sem qualidade.”

“Maior controle nas universidades privadas é um passo importante”

“O ponto positivo nas alterações do Fies é a prioridade em oferecer bolsas a alunos de baixa renda, anteriormente o padrão estabelecido para ter acesso ao financiamento era de até 20 salários mínimos e passa agora a ser de dois salários mínimos e meio. Além disso, a regulamentação do financiamento passou a ter uma cláusula que veta o aumento de mensalidade acima da inflação, mantendo o limite máximo de 6,4% de reajuste. Não é uma regulamentação do ensino privado, mas sinaliza um mecanismo de maior controle por parte do governo”, afirma a presidenta da UNE.

“O governo precisa ter coerência com o slogan da Pátria Educadora”

“Vivemos, nos últimos 10 anos, um período de expansão das universidades federais, que foi freado em 2015 com a crise, gerando dificuldades em aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e cortes de verbas na educação, causando um longo período de contingenciamento de recursos e instabilidade nas instituições públicas de ensino. A UNE se fez presente lutando contra o modelo econômico que prioriza o corte de verbas, a nossa palavra de ordem é de que o governo precisa ter coerência com o slogan da Pátria Educadora”, considera Carina. 

Meia-entrada volta a ser meia-entrada de verdade

Em meio às políticas privatistas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a Medida Provisória (MP) 2208/2001 atingiu em cheio as condições de viabilidade na luta dos estudantes por uma educação de qualidade.

A medida tornou válida a apresentação de qualquer documento, inclusive emitido por entidades falsas e empresas privadas que lucram com as carteiras de estudante, para pagar a metade do preço do ingresso, em shows, eventos culturais e esportivos.

Há dois anos, o Estatuto da Juventude e a nova Lei da Meia-Entrada foram aprovados e careciam de regulamentação para ter funcionamento, o que ocorreu no último mês de outubro. A partir do dia 1º de dezembro deste ano, passou a valer a lei, que muda os critérios anteriores da lei anterior.

“Com a nova Lei da Meia-Entrada, temos um padrão único nacional, que é estabelecido pelas entidades estudantis UNE, Ubes, ANPG e que poderão ser emitidas por grêmios, entidades municipais, centros e diretórios acadêmicos, a condição de estudante irá voltar para as entidades reais, que possuem base social”, diz Carina. 

Assista o vídeo abaixo que apresenta a história da meia-entrada


“Vamos enterrar de vez a crise política e golpismo”

A presidenta da UNE é otimista com o ano que se aproxima e reitera que a entidade seguirá a sua trajetória histórica de lutas em defesa do país. “2016 vai ser tão agitado quanto o ano de 2015, vamos enterrar de vez a crise política e as tentativas de golpe para conseguirmos voltar a discutir os projetos para o Brasil e a saída para a instabilidade econômica. Acredito que não será fácil, o próprio capitalismo se aproveita das instabilidades para retirar direitos trabalhistas e implantar ideias reacionárias na sociedade, mas a União Nacional dos Estudantes seguirá firme e forte na luta”, conclui.