Rapsódia riograndense
Deparei com Tabajara Ruas pela primeira vez nos idos de 1984, quando a revista Oitenta, editada em Porto Alegre, publicou em forma de conto o primeiro capítulo de Os Varões Assinalados. Já nos anos 90, em Porto Alegre, vi o livro em um sebo da rua da Praia e recolhi-me com ele no velho hotel Embaixador.
Por Aldo Rebelo*
Publicado 11/12/2015 15:15

Li até o amanhecer. Eu sabia que gaúchos e pernambucanos escreveram a história do Brasil com caligrafia própria, mas o Rio Grande tinha ali o que faltava aos nordestinos: o ficcionista definitivo de sua epopeia.
Tabajara Ruas não encurrala o leitor entre a lenda e os fatos. Sua narrativa é livre como uma paisagem do pampa. Heróis e vilões são sobretudo humanos, despojados do moralismo fácil e dos julgamentos previsíveis. Talvez a exceção seja Teixeira Nunes, o comandante dos lanceiros negros, espécie de herói puro que se extingue ao final da narrativa pela lança de Manduca Rodriguez.

Certa vez, em carta a Domingos José de Almeida, seu companheiro de jornada farroupilha, Garibaldi, já senhor da luta pela unidade da Itália, recomendava que o Rio Grande encontrasse um lugar digno onde fazer repousar os ossos de seus ilustres filhos. Tabajara Ruas fez mais: construiu com sua obra o altar sublime onde podem, ser apanhadas, em estado puro, a alma, a cultura e a identidade de todo o Rio Grande do Sul e, portanto, do Brasil.