Primavera das Mulheres acirra mobilização contra ações opressoras

Um grito contra o momento fundamentalista que o Brasil vive, resultado das medidas retrógradas tomadas pelo Congresso Nacional, vem tomando conta do país. Mulheres de todas as cores e idades vêm ocupando as ruas e denunciando o Projeto de Lei, de autoria do presidente da Câmara Eduardo Cunha, que visa dificultar abortos por mulheres vítimas de estupro e obriga a vítima a fazer Boletim de Ocorrência na delegacia, para comprovar a violência sexual.

Por Laís Gouveia

Primavera das Mulheres acirra mobilização contra ações fundamentalistas - Roberto Parizotti / Secom CUT

Em São Paulo, a manifestação, que contou com cerca de 5 mil manifestantes, ocorreu no fim da tarde desta quinta-feira (12), na Avenida Paulista e seguiu até o Largo do Paissandu, região central da cidade.

Abrindo a manifestação, mulheres denunciavam os dados apresentados nesta semana, sobre o crescimento de 54% de assassinatos de mulheres negras no país, nos últimos 10 anos. Várias performances culturais ocorreram durante o trajeto e tinham como sentido denunciar a opressão do gênero feminino, como por exemplo, a proibição do aborto. 

Quando o ato passou em frente a Universidade Mackenzie, local que recentemente foi alvo de pichações racistas, as manifestantes registraram a importância do combate ao racismo.

Nathália Keron, estudante universitária e membro da União da Juventude Socialista (UJS), diz que o intuito das manifestações é a popularização do feminismo. “Que mais mulheres negras e periféricas sintam-se abraçadas por nossas ações. Em meio a tantos retrocessos nós fomos às ruas nesta quinta-feira (13), pedir o fora Cunha e dar um basta ao retrocesso aos nossos direitos! Estamos vivendo uma época em que a mulheres não mais se calarão! Temos voz e vamos às ruas até que o PL seja derrubado”, afirma.

A militante feminista Isis, membro do coletivo Fora do Eixo, considera a manifestação vitoriosa. “Primeiro, para alertar sobre o alto índice de mortes das mulheres negras. São elas que sofrem os tipos mais variados de violência e abusos na sociedade brasileira. Outra questão que fortaleceu a manifestação foi a importância que a chamada Primavera das Mulheres possui e a PL do Eduardo Cunha foi um estopim para as mulheres darem um basta a tanta humilhação e subestimação, reflexo dessa sociedade machista, que coloca, por exemplo, na mídia, a mulher negra sempre estereotipada como a empregada doméstica ou em contextos sexuais. Foi um ato pacífico, generoso e consequente, vamos continuar a lutar pelo direito de decidir pelas nossas vidas”, diz a militante.

No fim do protesto, cerca de 200 manifestantes se dirigiram para a Escola Estadual Fernão Dias, para prestar apoio aos estudantes que ocupam o colégio desde terça-feira, em uma ação de resistência contra a medida do governo tucano em fechar 94 escolas em todo o estado.

No Rio de Janeiro, a manifestação ocorreu no centro, no fim da tarde esta quinta-feira (12). Cerca de cinco mil manifestantes rechaçaram a PL do Eduardo Cunha, além de pedirem o seu afastamento da Presidência da Câmara. Também foi pedida a saída do secretário-executivo de coordenação de governo da Prefeitura do Rio, Pedro Paulo Teixeira. Para a construção da manifestação, 30 coletivos participaram da mobilização.