Otan faz maior exercício militar da década tentando intimidar a Rússia
O Trident Juncture, maior exercício militar da Otan em mais de uma década, teve como objetivo treinar as forças da aliança para combater ameaças reais vindas do sul da Europa e uma ameaça percebida vinda do leste – isto é, da Rússia -, segundo matéria publicada pelo jornal alemão Die Welt.
Publicado 07/11/2015 09:31
"Pode-se concluir que a Otan está mostrando seus músculos. Mas para quem? Quem deve ficar impressionado com essa gigantesca demonstração de força?", escreveu o autor do artigo, Thorsten Jungholt.
"Hans-Lothar Domröse, general alemão e comandante das manobras da Otan, não faz nenhum segredo [sobre o objetivo]. A aliança se sente particularmente desafiada pela Rússia, ao leste da Europa; e ao sul, pela Síria e o Mar Mediterrâneo", acrescentou.
Segundo o artigo, a Otan está se armando para uma batalha contra o presidente russo Vladimir Putin e, ao mesmo tempo, contra o grupo terrorista Estado Islâmico, que controla regiões da Síria e do Iraque.
"A mensagem de Domröse para o Kremlin é clara: a defesa da aliança está de pé, e a Otan está pronta a qualquer momento para agir em situações de crise, mesmo fora de seu território", escreveu Jungholt.
"Mas esta mensagem não é destinada apenas a Moscou", acrescentou o jornal, citando o geral Domröse.
"A maior ameaça é o aparecimento simultâneo de desafios no leste e a situação de insegurança nas regiões em crise no sul", disse o oficial alemão, que comandou 3.000 soldados da Bundeswehr na Operação Trident – o que é mais do que o número combinado de todos os soldados alemães atualmente servindo em operações estrangeiras.
Segundo Domröse, a Síria, o Iraque, o Iêmen, a Somália e a região do Magreb (particularmente a Líbia) constituem uma espécie de "anel de fogo" em torno da Europa, para o qual a Otan pode vir a ser chamada em um futuro próximo.
Curiosamente, apesar dos temores ocidentais, a Rússia tem sido a força mais decisiva no combate aos extremistas islâmicos na Síria. Atendendo a um pedido de Damasco, o país tem bombardeado as posições do Estado Islâmico em território sírio desde o último dia 30 de setembro, com resultados flagrantemente mais eficazes do que os conseguidos durante mais de um ano de campanha da coalizão antiterrorista liderada pelos EUA.
Ao todo, 36 mil homens participaram dos exercícios militares Trident Juncture, cuja fase de “exercícios ao vivo” (Livex) chegou ao fim nesta sexta-feira (6). A operação envolveu mais de 230 unidades terrestres, aéreas e navais e forças especiais de 28 países aliados e 7 parceiros (entre eles a Ucrânia), compreendendo mais de 60 navios e 200 aviões de guerra, principalmente na Espanha, na Itália e em Portugal.
No cenário simulado pelos comandantes da aliança ocidental, a região de “Cerásia Leste” sofria ameaça de conflitos devido à escassez de água. Um país invadiu um vizinho menor e ameaçou invadir outro, a fim de tomar o controle sobre represas-chave, e a Otan lançou uma missão internacional de assistência e apoio para proteger os Estados ameaçados.
Os nomes usados nos exercícios, segundo explicou a aliança, foram “fictícios”. No entanto, não se requer muita imaginação para entender que a “Cerásia Leste” é o Leste Europeu, e que o “país invasor” é a Rússia – pelo menos na retórica ocidental, que, fora das simulações militares, acusa Moscou de ter invadido a Ucrânia e de ser uma ameaça real aos Estados vizinhos.
O Kremlin, por sua vez, nega quaisquer pretensões expansionistas e repetidamente chama a atenção para o fato de que é a própria Otan, com sua política de expansão militar para o Leste, que está colocando em risco a estabilidade regional e mundial.