Centrais sindicais defendem empregos contra uso político da Lava Jato

As centrais sindicais se reuniram nesta terça-feira (3) com o ministro do Trabalho e Previdência, Miguel Rossetto. O encontro faz parte da agenda do Fórum de Debates sobre Políticas de Emprego, Trabalho e Renda e Previdência Social, criado pelo governo com o objetivo de discutir propostas de melhorias das políticas públicas.

Reunião centrais ministério do Trabalho - CTB

Inicialmente, a pauta da reunião trataria da Previdência Social, mas os representantes dos trabalhadores enfatizaram que o atual momento exige que a prioridade seja a recuperação da economia. Eles defenderam a mudança da pauta e que as discussões da reforma da Previdência fiquem em segundo plano, neste momento.

Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), defendeu que um dos principais pontos para garantir a retomada do crescimento é a garantia dos empregos, a começar pelas empresas que atuam no setor da Petrobras. O sindicalista destaca que a paralisação das obras por conta das investigações da Operação Lava Jato tem gerado demissões em massa no setor, afetando toda a cadeia produtiva.

“Temos total interesse em dialogar, inclusive com empresários. Precisamos desatar os nós na Petrobras, na indústria, construção civil. A gente sabe que o ambiente hoje não é favorável a acordos, mas precisamos construir caminhos”, afirmou Adilson.

E completa: "O uso político da Lava Jato não pode paralisar a economia do país. É preciso manter as obras da construção, da Petrobras, do pré-sal”.

Números do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) confirmam a denúncia dos sindicalistas. De acordo com o Instituto, a crise do emprego começa com a desorganização da cadeia de petróleo e gás, que tem impacto muito importante sobre a construção civil. Isso porque a maior parte dos negócios está paralisada por conta da falta de acesso ao crédito e às licitações, resultado das investigações da Lava Jato.

As 23 grandes empresas que estão diretamente envolvidas no caso respondem por 13% do PIB. Além disso, outras 50 mil empresas prestadoras e fornecedoras de produtos e serviços respondem por quase 500 mil empregos.

Diante desses números, o secretário de Previdência, Aposentados e Pensionistas da CTB, Pascoal Carneiro, enfatiza que é preciso conciliar o combate à corrupção com a manutenção da atividade econômica.

“É preciso destravar a Lava Jato. As investigações devem continuar e os diretores de empresas culpados devem ser punidos, mas os trabalhadores não podem ser prejudicados. As investigações têm interrompido a atividade econômica gerando milhares de desempregados”, disse Pascoal.

Acordo de leniência

Ele enfatizou que as centrais sindicais foram unânimes em defender a adoção da política de leniência. “Além de punir os que praticam a corrupção, é preciso garantir os empregos. O país não pode parar. Portanto, é indispensável neste momento definir uma estratégia que garanta o desenvolvimento do país, os empregos e, ao mesmo tempo, puna os culpados”, salientou Pascoal.

Sérgio Nobre, dirigente da CUT, enfatizou que o acordo de leniência é a alternativa viável e que as centrais estão dispostas a atuar junto aos empresários para avançar nessa direção. Ele também destaca que o acordo de leniência é uma medida prática em diversos países do mundo.

“Os trabalhadores não têm quer pagar por um erro de diretores das empresas. E o acordo de leniência garante que o processo de punição continue e os culpados respondam pelos seus crimes, sem que isso prejudique os empregos", ressalta.

Previdência

Sobre a agenda da Previdência, Pascoal Carneiro, da CTB, frisou que a proposta deve sair da mesa de negociação com os trabalhadores e criticou a postura dúbia do governo, em que a equipe econômica diz uma coisa e o ministério diz outra.

“A CTB reafirmou na reunião que é totalmente contrária à proposta apresentada pelo ministro Joaquim Levy, de desvincular a aposentadoria do salário mínimo. Isso acabaria, por exemplo, com os trabalhadores rurais e com os municípios que muitas vezes dependem da renda desses trabalhadores”, salientou.