Pesquisadora brasileira inova diagnóstico de dengue no mundo
Publicado em estudo inédito, pesquisa liderada por farmacêutica bioquímica cearense inovou na detecção do antígeno NS1 para dengue.
Publicado 23/10/2015 10:46 | Editado 04/03/2020 16:25
Por iniciativa do Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen), o Estado tem desde 2011 o seu nome inscrito na literatura médica internacional relacionada ao diagnóstico laboratorial da dengue. A pesquisadora Fernanda Montenegro de Carvalho Araújo, farmacêutica bioquímica e sanitarista da Secretaria da Saúde do Estado, liderou as pesquisas de diagnóstico de dengue em amostras de líquor encaminhadas pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO) e de diagnóstico diferencial para dengue de pacientes atendidos no Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), com suspeita de meningite e meningoencefalite. O estudo inédito no mundo para validação de kit de detecção do antígeno NS1 para dengue em amostras de líquor foi divulgado cientificamente pela primeira vez na revista Journal of Virological Methods em julho de 2011.
Líquor é o líquido que banha o sistema nervoso e se encontra dentro das meninges. Foi a quantidade de amostras disponíveis no Lacen que despertou na pesquisadora Fernanda Montenegro a iniciativa de detectar nessas amostras o antígeno NS1, uma proteína produzida quando o vírus da dengue está se replicando no organismo. O estudo inédito e sua validação foram importantes por acrescentarem uma nova amostra em pesquisa de antígeno para o diagnóstico de dengue, além de proporcionar a base para as pesquisas subsequentes.
Com o resultado desse estudo e os testes diagnósticos de dengue – isolamento viral, reação da cadeia pela polimerase e detecção de anticorpo IgM –, já padronizados em amostras de líquor e realizados na rotina do Lacen, foi possível o desenvolvimento da segunda pesquisa, a partir de amostras encaminhadas pelo SVO. A utilização do líquor como material biológico acrescentou 27,8% de positividade ao diagnóstico de dengue em pacientes já negativos para outras amostras biológicas. Nesses casos, foram encontradas as seguintes alterações neurológicas: 41.3% de encefalites, 30.4% de meningoencefalites e 28.3% de meningites. Os resultados desse estudo foram publicados na revista Neurology, em março de 2012.
Até então, não havia dados de pesquisa para dengue em líquor de pacientes com manifestações neurológicas sem evolução fatal no Ceará. Surgiu assim a terceira pesquisa. As amostras de líquor coletadas em pacientes do HSJ foram encaminhadas ao Lacen para pesquisa de bactérias e fungos e não apresentaram resultados positivos para os agentes etiológicos pesquisados. O material foi então submetido aos testes diagnósticos para dengue, incluindo a detecção do antígeno NS1, e quando comparado com o resultado obtido dos pacientes que evoluíram para óbito com a mesma suspeita diagnóstica, verificou-se que havia uma chance 6,74 vezes maior de evolução para o óbito nos pacientes que apresentaram positividade para dengue no líquor.
A descoberta alerta para o diagnóstico de dengue em pacientes com manifestações neurológicas, a fim de evitar um pior prognóstico. "Nossa intenção é despertar o olhar do médico para a possibilidade de dengue em paciente neurológico", diz Fernanda Montenegro. A publicação desse estudo foi feita na revista Emerging Infectious Diseases em abril de 2012.
Para a realização das três pesquisas, Fernanda Montenegro utilizou perto de 400 amostras de líquor disponíveis no Lacen, encaminhadas pelo SVO e pelo HSJ. Depois do aparecimento da dengue no Ceará, em agosto de 1986, a doença se tornou endêmica, com aumento gradativo de casos graves, alguns apresentando manifestações atípicas, com envolvimento do sistema nervoso central. O diagnóstico laboratorial de dengue em pacientes neurológicos em amostras de líquor ainda é incipiente, mas sinaliza possibilidade cientificamente segura, capaz de salvar vidas. As pesquisas lideradas por Fernanda Montenegro, responsável pelo Setor de Virologia do Lacen, resultaram em uma tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal do Ceará (UFC) e três publicações em revistas indexadas norte-americanas de grande prestígio.
Fonte: Governo do Estado do Ceará