Municipalização é foco da reorganização das escolas estaduais
A municipalização do ciclo 2 (6º ao 9º ano) é o motivo da reorganização proposta pela Secretaria Estadual de Educação.
Publicado 19/10/2015 15:48 | Editado 04/03/2020 17:16
Com essa afirmação o representante da Diretoria de Ensino de Jundiaí, Eliezer Pedrozo da Rocha, explicou a proposta apresentada pelo Governo do estado de São Paulo para a rede estadual, durante audiência da Comissão de Educação na Câmara Municipal da cidade, na noite desta quarta-feira, 14.
Presidida pelo vereador Rafael Purgato (PCdoB) a audiência teve como objetivo discutir sobre a reorganização das escolas estaduais proposta pela Secretaria Estadual de Educação e analisar o impacto dessas mudanças entre os professores, pais e alunos.
A dirigente estadual da Apeoesp (Sindicato dos Professores), Francisca Pereira da Rocha Seixas analisou com preocupação o cenário. "Muitas prefeituras não tem condições nem de manter o ciclo 1 (1º ao 5º ano), determinação imposta em 1995, e agora o Estado fala em municipalizar o ciclo 2, muitas prefeituras não terão condições, isso contribuirá ainda mais para a defasagem do nosso ensino. Vamos continuar resistindo a essa proposta".
Questionado pelo vereador sobre os estudos realizados na cidade, Eliezer explicou as propostas iniciais focadas nas escolas Padre Maurílio Tomanik no Cecap, Albino Melo de Oliveira no Engordadouro e Professor Luiz Rivelli na Vila Marlene. “O objetivo era transformar o Tomanik na Diretoria de Ensino, e com isso contribuir para revitalização da região. Porém devido a grande quantidade de alunos da escola e distância, ficaria inviável transferi-los para o Albino, então esse estudo foi descartado”, explicou.
Eliezer explicou a contraproposta apresentada que atingia outras três escolas Bispo Dom Gabriel Paulino Bueno Couto no Anhangabaú, Siqueira de Moraes no Vianelo e Antenor Soares Gandra no centro. “O estudo era transformar a Bispo na DE e transformar o Gandra em ensino médio e o Siqueira em ensino fundamental”.
O vereador Rafael Purgato perguntou ao representante se a Diretoria de Ensino de Jundiaí havia recebido comunicado oficial do não fechamento da escola Bispo, como noticiado nas redes sociais, Eliezer foi enfático ao afirmar que a Diretoria até o presente momento não havia recebido nada oficialmente.
Em sua fala, o dirigente estadual da Apeoesp Wilder de Freitas lembrou a grave histórica dos professores esse ano. “A categoria está fragmentada essa reorganização não foi discutida com os interessados é uma determinação. O Governo Estadual está mais preocupado em abrir presídios do que construir escolas”.
Também compareceram na audiência os vereadores de Jundiaí Márcio Pentecostes de Souza e Eliezer Barbosa da Silva, o vereador de Várzea Paulista Demércio de Almeida, a representante da Udemo-Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo, Egle Picolo e a representante da Afuse-Sindicato dos Funcionários e Servidores da Educação, Sônia Maria Carvalho.
O público presente, em sua maioria professores, pais e alunos das escolas estaduais, fez uso tribuna da Casa para se manifestar contrário a proposta apresentada. A falta de diálogo com a categoria, pais e alunos e a falta de planejamento da educação estadual nortearam as falas.
Para o professor de história da escola Bispo, Evandro Braga a reorganização contribuirá para a evasão escolar. “Essas mudanças irão desmotivar os alunos e a evasão será ainda maior. Essa luta precisa ser constante contra essa proposta, imposta dessa maneira, o movimento que aconteceu no Bispo organizado pelos alunos foi uma aula de cidadania, essa luta não pode parar”, afirmou.
Mesma opinião compartilhada pelo professor Ian Luz do Siqueira. “Ninguém foi consultado sobre essas mudanças que irão impactar na rotina da família, tenho filhos e sei como não é simples assim mudar os alunos de escola, a família precisa de reorganizar, para isso essas famílias precisavam ser consultadas, assim como a categoria”.
Felipe Andrade estudante de licenciatura em Filosofia enxerga o cenário com preocupação. “Da forma que a educação estadual está sendo tratada pelo Governo Estadual, quando eu me formar já não sei se terei espaço para lecionar a disciplina em alguma escola estadual”.
A estudante Bruna Bolson representante da UJS-União da Juventude Socialista convocou os presentes a continuar as lutas pela Educação. "Para onde está indo o dinheiro da Educação em nosso Estado? Propostas como essa apenas com o foco na economia não qualifica o ensino público no estado muito pelo contrário contribui ainda mais para o sucateamento do nosso ensino".
Encaminhamentos
Ao final da audiência o vereador Rafael Purgato fez uma análise do ensino estadual. “A escola estadual já passa por grandes dificuldades, essas mobilizações precisam ser constantes, pode não fechar o Bispo agora, mas o fechamento de salas de aulas é constante assim como a falta de estrutura para as escolas e a falta de valorização dos professores e funcionários”, argumentou.
O vereador apresentou os três encaminhamentos da audiência. O primeiro é enviar relatório da audiência para a Diretoria de Ensino de Jundiaí contra o fechamento e a reorganização das escolas, apresentar na próxima sessão da Câmara moção contra a reorganização das escolas e solicitar à Diretoria de Ensino os estudos realizados para a reorganização das escolas na cidade.
Texto e fotos: Eliane Silva Pinto