Comunistas argentinos defendem manutenção da democracia no continente

Assim como no Brasil, na Argentina a direita também tem promovido uma série de tentativas de desestabilização do governo progressista da presidenta Cristina Kirchner. Diferente daqui, lá o país passa atualmente por um processo eleitoral, cujo primeiro turno das eleições presidenciais acontecem no próximo dia 25. Já no Brasil, a oposição leva adiante um clima de “terceiro turno”, para dificultar a governabilidade de Dilma Rousseff.

Por Mariana Serafini

jorge kreyness - Telesur

O secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista da Argentina (PCA), Jorge Alberto Kreyness, em entrevista exclusiva ao Vermelho, falou sobre os avanços obtidos nos últimos anos em seu país, as conquistas rumo à integração continental e a fórmula imperialista de barrar este processo em países considerados “chave”. O dirigente comunista destacou ainda a importância dos dez anos de derrubada da Alca e o futuro dos governos progressistas.

Articulação de golpes e tentativa de desestabilização

Segundo Kreyness, o imperialismo age de forma parecida em todos os países da América Latina e do Caribe a fim de manter sua ingerência, é o que ele chama de “manuais de desestabilização das agências e institutos dos Estados Unidos”. Países importantes política e economicamente no continente vêm sofrendo constantes ataques à democracia, é o caso da Venezuela, do Brasil, e da Argentina. Os três têm em comum presidentes progressistas que fortaleceram as economias, lutaram por soberania e valorizaram a indústria nacional de petróleo.

Kreyness explica que seu país tem vivido várias tentativas golpistas movidas pela direita e por setores do poder econômico, o processo conta ainda com o apoio da imprensa hegemônica. Porém, mesmo com todo o aparato midiático, “não prosperaram e agora Cristina está terminando seu segundo mandato constitucional”.

Os comunistas argentinos são solidários ao povo brasileiro e defendem a constitucionalidade do mandato da presidenta Dilma, afirma Kreyness. “Trabalharemos por um grande movimento solidário com o povo irmão e com a presidenta”, afirmou.

Para Kreyness a “melhor resposta” ao golpismo é aprofundar as mudanças políticas e sociais, ou seja, aprofundar as medidas que favorecem os trabalhadores e o povo. “[É necessário] colocar limites ao poder econômico do grande capital e aos meios de comunicação hegemônicos com o povo na rua”, defende.

Em novembro os povos da América Latina comemoram os dez anos de derrubada da Alca. O dirigente comunista afirma que este fato “tem alcances históricos” e é a base do atual processo de unidade e integração regional, principalmente no sentido de ter criado condições para fortalecer os mecanismos já existentes, como o Mercosul, a Unasul e a Celac.

A união dos países latino-americanos e caribenhos é a principal arma de luta contra a crise capitalista que atinge diversos países, acredita o dirigente. Segundo ele, a integração é uma espécie de via de mão dupla onde é possível fortalecer os processos progressistas, que, por sua vez, fomentam a união continental a fim de garantir independência e soberania.

Eleições na Argentina

Atualmente o Partido Comunista não integra o governo em nível nacional, porém, é uma “força política aliada ao Kirchnerismo”. Nestas eleições integra a coalizão Frente Para a Vitória, encabeçada pelo possível sucessor de Cristina Kirchner, Daniel Scioli. Os comunistas acreditam que passos importantes foram dados nos últimos anos rumo à redução das desigualdades sociais, no entanto, agora é “necessário radicalizar as mudanças e evitar tanto um retrocesso, quanto um estancamento”.

Pelo que Kreyness explicou, as eleições presidenciais na Argentina podem ser comparadas, de certa forma, com as últimas do Brasil. É um momento de ruptura, onde um grupo quer dar continuidade aos programas sociais e à política econômica de fortalecimento nacional e distribuição de renda, enquanto outro busca implementar novamente a agenda neoliberal que levou os países da América do Sul à falência durante a década de 1990.

Se o resultado das urnas no dia 25 for um reflexo das pesquisas eleitorais que vêm sendo realizadas nos últimos dias, o candidato apoiado por Cristina Kirchner possivelmente assumirá a presidência. Neste caso, o processo colocado em curso por Néstor Kirchner precisará ser aprofundado com uma série de reformas, explica Kreyness. “Sem recuperação da mineração, mudança na matriz tributária e uma nova legislação sobre o sistema financeiro, por exemplo, não será possível avançar a fundo. Isso vai demandar uma luta convicta e unidade das forças mais decididas à impulsionar as transformações”, disse.

O “Kirchnerismo”

Na visão de Kreyness, a anulação da Lei de Anistia que protegia os criminosos da ditadura militar argentina foi um dos grandes feitos do governo de Cristina. “Os genocidas militares e civis da ditadura foram julgados e condenados”, comemora.

O dirigente ressalta ainda os programas sociais de distribuição de renda e inclusão dos mais pobres, entre eles, a Asignación Universal Por Hijo [equivalente ao Bolsa Família]. “Houve aumento de salários e melhora nas condições trabalhaistas, além de decisões que deram suporte ao mercado interno”.

No entanto, Kreyness acredita que grandes desafios aguardam o futuro presidente argentino, caso este seja comprometido em dar continuidade
ao projeto iniciado por Néstor. “Ainda assim não se pulou todos os muros do neoliberalismo e resta muito por avançar em termos de combate à desigualdade e distribuição de riqueza”, avalia.

Com relação à política externa, o dirigente destaca a independência do Consenso de Washington conquistada por Cristina e o fortalecimento do Mercosul, da Unasul e da Celac.

Fundos Abutres

Para o comunista argentino, os Fundos Abutres são uma “tentativa de submeter o país desde os setores mais agressivos do sistema financeiro global em cumplicidade com parte do aparato judicial dos Estados Unidos”. Ele acusa a direita de seu país de agir de forma irresponsável ao “se alinhar aos abutres”.

O governo de Cristina, porém, tem enfrentado de forma enérgica mais esta articulação do mercado financeiro. Atitude que para Kreynesse “tem dado resultados”. “Neste aspecto é importante a resolução da Assembleia Geral da ONU que estabelece princípios de respaldo aos países em processo de reestruturação de suas dívidas exteriores. Este é um dos pontos em que não se pode retroceder”, finalizou.