Diógenes Júnior: A história, juíza implacável

Uma encruzilhada histórica está sendo construída a partir da perspectiva de um golpe e da tentativa de desconstrução da jovem democracia brasileira.

Por Diógenes Júnior*, no Jornalistas Livres

Diógenes Júnior: A história, juíza implacável

Um momento de complexidade tal, jamais visto na história na história de nossa sociedade.
Prostrados diante de um panorama político dos mais conturbados seguimos, ora perplexos, ora indignados, reféns de uma situação que coloca em xeque a reputação e a biografia daqueles que detém o poder para desatar nós, lançar luz sobre as sombras ou no sentido inverso, mergulhar o país em um processo que nos jogaria novamente em trevas sem fim.

A História nos julgará a todos.

Defensores da legalidade e golpistas.

A alguns com maior rigor, até mesmo com a pecha de covardes, de traidores, de oportunistas.
A História é implacável, e julgará a todos, de alto a baixo, do mais alto ao mais baixo escalão.
Sem exceção.

Julgará uma presidenta da República sabidamente inocente, contra quem não existe uma única acusação de corrupção, mandatária máxima de um país cujo governo jaz refém de uma oposição que nivela o debate político à rés do chão, sitiado por uma oposição que, desde o primeiro dia do segundo mandato presidencial tenta, por meio de todos os ardis possíveis, imagináveis e nada louváveis, derribá-la do cargo que lhe foi confiado por 54.499.901 de brasileiros.

Recordemos: no dia 30 de abril de 2014, passados apenas 4 dias da eleição o PSDB, partido do candidato derrotado nas eleições presidenciais — Aécio Neves — pediu à Justiça Eleitoral uma auditoria nas urnas eletrônicas sem apresentar qualquer fato concreto que legitimasse qualquer desconfiança, por menor que fosse.

Eterno opositor de Dilma, o dublê de deputado federal Carlos Sampaio (PSDB — SP) aquele que já fez representações contra a Presidenta por não tolerar que ela usasse um vestido vermelho, alegou à época que“não se tratava de um pedido de recontagem de votos, mas de uma checagem sobre o processo eletrônico de votação e de apuração.”

Jogo de cena e palavras jogadas ao vento.

Escrevia-se então mais um capítulo da empreitada golpista, sendo este deputado um de seus representantes mais obcecados e caricatos.

Criticada, a iniciativa gerou constrangimento até mesmo dentro do PSDB:

“Isso não ajuda a fortalecer as instituições: é preciso analisar o que é boato e o que evidência.” disse o presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo à época, Samuel Moreira (PSDB — SP).

O deputado será lembrado pela incomum lucidez que teve naquele momento, um quadro da oposição que bebeu da fonte da coerência para aceitar a regra básica do sufrágio universal:
“Eleição se ganha ou se perde.”

Nota desse que vos escreve: um ano depois da representação que questionou a apuração das urnas eletrônicas, o PSDB finalmente assumiu o que sempre soube: que não houve nenhum tipo de fraude nas urnas eletrônicas.

Jogo de cena e palavras jogadas ao vento.

Toda sorte de argumentos e estratagemas foram usados pela oposição como pretextos para derribar Dilma da Presidência da República, tentativas golpistas de cassar o voto de 54.499.901 de brasileiros que a escolheram, e também com ela um projeto de Brasil.

Qual será o veredicto da História para a atuação de atores políticos, não só como Carlos Sampaio, mas de outros quadros da oposição?

Qual foi a colaboração que deram para o país, passados quase 12 meses desde que tiveram seu projeto político rejeitado pelas urnas nas últimas eleições?

O que fizeram além de correr atrás de algum motivo que justificasse uma sanha insana para desestabilizar o governo?

Além de semear a discórdia, de vociferar discursos odiosos e procurar factóides, que outra coisa fizeram esses senhores?

Diante dessa encruzilhada histórica, momentos cruciais e decisivos que estamos vivendo, a História está sendo escrita diante de nossos olhos. E como disse acima, nos julgará a todos.

Julgará Carlos Sampaio, o deputado que um dia protocolou na Procuradoria Geral da República representação na qual acusava a presidenta Dilma Rousseff de improbidade administrativa por enviar cartões de Natal aos servidores públicos.

Que protocolou representação contra Dilma Rousseff na Comissão de Ética da Presidência e na Procuradoria Geral da República por conta da escala do voo da Comitiva Brasileira em Lisboa, na volta de uma viagem a Davos onde esta participou do Fórum Econômico Mundial.

Que protocolou na Procuradoria Geral da República representação contra o então Ministro da Saúde, Alexandre Padilha por convocar cadeia de rádio e televisão para divulgar a Campanha Nacional Contra o HPV.

A História julgará Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, aquele senhor evangélico, moralista, que ataca os gays e que defende a família composta por um homem, uma mulher e cinco milhões de dólares.

Julgará também Aécio Neves, que foi acusado de ser espancador de mulheres, que construiu um aeroporto privado com dinheiro público nas terras de sua família, que se recusou a passar por um simples teste de bafômetro quando flagrado em uma blitz dirigindo embriagado e com a habilitação vencida.

E não nos esqueçamos que seu nome figura como um dos protagonistas que receberam dinheiro de corrupção da Lista de Furnas.

Esses são alguns dos atores políticos que outorgam a si predicados morais e políticos para tentar editar a História e retirar o Brasil de uma crise pela qual eles mesmos são os principais responsáveis.
A História está sendo construída nesse exato momento, e um importantíssimo capítulo será escrito ainda essa semana na Câmara dos Deputados.

Resta saber se a História se repetirá como tragédia, como farsa ou se asforças que defendem a democracia prevalecerão contra os farsantes, representantes do golpe que se desenha.
Tragicamente.

“Em tempos de embustes universais, dizer a verdade se torna um ato revolucionário.”

George Orwell

*Diógenes Júnior é ativista social, militante do PCdoB e pesquisador independente. Estudante de Ciências Sociais, paulistano de nascimento, caiçara de coração e gaúcho por opção está radicado em Porto Alegre, RS, de onde escreve sobre Política, História, Cinema, Comportamento, Movimentos Sociais, Direitos Humanos.​