Oclae: “Lutar contra a ofensiva da direita é nosso desafio”
A estudante cubana Heidy Laura Villuendas Ortega, de 23 anos, estudante do 5º ano do curso de Relações Internacionais, no Instituto Superior de Relações Internacionais Raúl Roa Garcia, é a nova presidenta da Organização Continental Latino Americana e Caribenha de Estudantes (Oclae).
Publicado 06/10/2015 09:16
Heidy é integrante da Federação Estudantil Universitária, entidade máxima universitária de Cuba. A Oclae representa 36 Federações Estudantis do continente, entre elas a UNE e a Ubes, em 23 países do Continente Americano.
Em 2016 a entidade completa 50 anos na defesa da soberania e integração entre os povos e nações amplificando e unindo as lutas estudantis de todos os países em defesa da educação e por democracia.
Pela quinta vez em sua história a Oclae elege uma mulher para sua presidência. Em entrevista ao site da UNE, Heidy falou sobre essa responsabilidade e afirmou: “Creio que ainda falta muito por fazer em nosso continente para conquistar a igualdade plena de gênero”.
Leia a entrevista na íntegra:
UNE: Quais são os principais desafios da Oclae para o próximo período?
Oclae: A fundação da Organização Continental Latino Americana e Caribenha de Estudantes (Oclae) respondeu a um momento histórico determinante na luta dos povos da América Latina e do mundo que reivindicavam a libertação social e nacional, em clara contradição com o imperialismo e o capitalismo. E em meio aquilo, o movimento estudantil entendeu o papel que devia jogar, não só na defesa da educação pública, como também na participação na luta dos povos pela sua libertação, onde nós, jovens e estudantes latino-americanos e caribenhos, tivemos uma cota de mártires em nome da liberdade.
Há 50 anos, a conjuntura segue sendo muito complexa. De fato, o próximo período estará cheio de desafios perante uma ofensiva, cada vez mais visível, da direita no continente. Seguir lutando e jogando o papel que nos toca perante este cenário é um dos principais, se não o principal, desafio que creio que teremos pela frente.
Para isso é necessário ter na Oclae uma organização ampla, unida, sólida, democrática, com a reafirmação de seus princípios. Levantando, por nossos povos e juventudes, as reivindicações históricas por uma educação pública e encabeçando as lutas que virão, cujas quais não restam outra opção se não vencer.
Qual legado você quer deixar à frente da entidade?
Não penso em um legado de maneira individual. A Oclae é muito mais que qualquer de nós em particular, a Oclae somos todos. E é neste sentido de pertencimento, de todos contribuírem a objetivos comuns, que penso.
Creio que, nestes tempos, se impõe fazer com que o movimento estudantil avance na sua consciência anti-imperialista em contraposição ao sistema que se impôs a humanidade, e avance também na busca de uma educação pública que tenha como norte a transformação da sociedade em que vivemos.
A partir de agora, temos que seguir sendo referência de opinião, luta e consequência entre o que dizemos e fazemos, vinculando todos os setores possíveis, levando de maneira cabal as consignas do 17º Congresso Latino-americano e Caribenho de Estudantes (Clae), com pluralidade e unidade. Assim, devemos desenvolver todo o processo sobre o 50º aniversário da Oclae, fortalecendo a instituição de maneira geral e promovendo a unidade dentro deste mecanismo de articulação estudantil.
Por outro lado, devemos consolidar o trabalho, a unidade e a comunicação do Secretariado Executivo e aperfeiçoar, através deste e das secretarias correspondentes, o trabalho nas comunicações da Oclae e fortalecer a vinculação com os movimentos sociais do continente.
Quantas mulheres já foram presidentas da Oclae? Qual a importância da entidade empoderar as mulheres?
Sou a quinta mulher presidenta da Oclae. Dos 24 presidentes anteriores, 20 foram homens e somente quatro mulheres assumiram esta responsabilidade: Ana María Pellón Sáez (1986-1988), Kenia Serrano Puig (1996-1998), Yanelis Martínez Herrera (2001-2003) y Gisleidys Sosa Cabrera (2005-2006).
Para mim implica uma grande responsabilidade e uma tremenda honra, não só como mulher, se não também como jovem cubana anti-imperialista e revolucionária. Creio que ainda falta muito por fazer em nosso continente para conquistar a igualdade plena de gênero. Em muitos lugares as mulheres seguem sendo descriminadas ou tratadas como seres inferiores. É uma realidade que há que seguir lutando para transformar e através da Oclae temos que contribuir para isso.
Quais são os problemas mais comuns dos estudantes latino-americaos e caribenhos? Como podemos lutar juntos contra estes males?
Nós estudantes não vivemos em uma bolha de cristal, portanto não estamos isolados dos problemas que têm as sociedades onde nos desenvolvemos. Em muitos países temos que seguir lutando para obter uma maior participação real na tomada de decisões e para que nossas vozes sejam ouvidas e nossos critérios respeitados.
Em torno desta realidade, o tema da educação joga um papel decisivo no desenvolvimento de nossos povos; é por isso que a Oclae e suas organizações se propõem a ser a voz das reivindicações sociais legítimas dos povos, arrebatadas pela nefasta aplicação do modelo neoliberal que ainda segue causando sequelas graves em muitos países da região, e recuperar a educação pública. Por isso reafirmamos os princípios do Manifesto de Córdoba de 1918, os mesmos que de uma ou outra forma se encontram em muitas declarações, acordos mundiais e latino-americanos por parte dos Estados, reivindicando a educação pública como algo fundamental. Por isso resgatamos, como elemento de transcendência e transversalidade, os princípios que nos chamam a manter a unidade, a organização e a luta com os povos e trabalhadores para a conquista de melhores dias e o avançar de uma educação emancipadora e popular que nos leve a um sistema mais justo, equitativo e solidário.
Isso implica o compromisso de todos por fazer da Oclae um espaço de debate e, por sua vez, buscar a consolidação da unidade como elemento fundamental para construir e protagonizar as transformações sociais. Despojando-nos de elementos sectários e enfrentando os problemas que nosso último congresso já identificou.
Qual é o papel da Oclae na luta contra a ofensiva conservadora que está em curso em nosso continente?
A direita sempre esteve presente e sempre tratará de ganhar terreno a custa dos espaços que deixemos vazios. Nós temos um cenário muito complexo, no qual a direita se reorganiza e toma força em uma contraofensiva perigosa para o futuro próximo de nossos povos. Frente a esta conjuntura, nosso dever é o de nos consolidar como um espaço de articulação onde se fortaleça a unidade e continuar lutando sem descanso pelo bem-estar de nossos povos.
Estamos conscientes que a América Latina e o Caribe ainda são a região mais desigual do mundo, tendo os 15 países mais desiguais do planeta, uma região com mais de 180 milhões de pobres e 70 milhões na indigência, onde os índices de desemprego na população economicamente ativa ainda seguemaltos e onde se prolifera o trabalho informal. Ou seja, ainda nos falta muito por brigar, mas também muita esperança por conquistar.
O verdadeiro revolucionário não tem direito a cansar-se, como diria Che “…o que se cansa tem direito a cansar-se, mas não tem o direito a ser um homem de vanguarda”. Impõe-se seguir lutando sem cansaço!