Indígenas são feridos em ataque de pistoleiros no Mato Grosso do Sul

Um ataque iniciado na madrugada do último sábado (19), contra a comunidade do Tekoha Potrero Guasu, no Município de Paranhos, no Mato Grosso do Sul, deixou três indígenas Guarani Ñandeva feridos a tiros de arma de fogo. O cacique Elpídeo Pires foi alvejado na perna esquerda, Meterio Morales no braço e Celso Benites levou três tiros nas costas. O acampamento ficou completamente destruído.

Violência contra indígenas - Cimi

Celso Benites conseguiu furar o cerco de capangas e pistoleiros para se dirigir ao hospital de Paranhos. "O tiro que me acertou atravessou a coxa. Dói e sangra muito, mas o procurador [do Ministério Público Federal] informou que a Força Nacional está a caminho para garantir que a gente também vá ao hospital”, afirma o cacique Elpídeo.

Parte da comunidade se refugiou numa área de 30 hectares adquirida pela Fundação Nacional do índio (Funai) dentro dos 4.025 hectares reivindicados pelos Ñandeva. No acampamento sob ataque, que ocupa uma área tradicional da antiga Fazenda Ouro Verde, um outro grupo de indígenas se nega a deixar o local. O Tekoha Potrero Guasu foi declarado como território indígena, em 2000. Os indígenas ocupam, conforme o MPF/MS, apenas 6,5% do total de hectares declarados.

"Recebemos várias ameaças, mas governo não vê essas coisas. Espera acontecer. Não acho bom isso. A Justiça reconheceu a nossa área e, depois o fazendeiro faz esse ataque”, denuncia o cacique. De acordo com o líder indígena, mais uma vez, no Mato Grosso do Sul, fazendeiros mandaram avisar que atacariam previamente sem nada ser feito por parte das autoridades.

O cacique Elpídeo conta que, na tarde da última sexta-feira (18), por volta das 16h30, ele retornava à aldeia, depois de prestar depoimento na Delegacia de Polícia Civil de Paranhos. A comunidade de Potrero vem sendo alvo de acusações e criminalização por parte dos fazendeiros. A perseguição começou em 2012. Elpídeo já estava nas proximidades do acampamento, quandoum capanga o abordou e avisou que 80 pistoleiros atacariam a região.

Histórico

Os Guarani Ñandeva, de acordo com relatórios da Funai, foram expulsos por colonos do território tradicional de Potrero Guasu, a partir da década de 1930. Nos anos 1970, os indígenas foram colocados na Reserva Pirajuí. A irrevogável decisão dos mais velhos de retorno ao tekoha e a situação de confinamento na reserva motivaram o início da luta dos Guarani Ñandeva por Potrero. Em 2012, depois de retomada, os Ñandeva também foram atacados.

Em agosto do ano passado, a 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região cassou uma liminar que impedia há 14 anos a continuidade da demarcação de Potrero Guasu, que fica a 460 quilômetros ao sul de Campo Grande. A Justiça seguiu os argumentos do Ministério Público Federal (MPF) ao considerar que "não deveria ser amparada pelo Judiciário, de modo cautelar, a suspensão de atos administrativos por período tão longo”. A decisão que paralisou o procedimento, em 30 de janeiro de 2001, era da Justiça Federal de Ponta Porã.