Trinidade e Tobago dá nova chance a partido de centro-esquerda
A vida sócio-política de Trinidade e Tobago teve uma nova viragem com a volta ao poder do Movimento Nacional Popular (PNM), cuja vitória o consolidou como o partido que domina a política do país caribenho.
Por Yolaidy Martínez*, na Prensa Latina
Publicado 19/09/2015 12:24

O Movimento – que governou por três décadas consecutivas – ganhou as eleições no dia 7 de setembro e passará a ocupar 23 dos 41 assentos do Parlamento, depois de uma campanha disputada e severa onde predominaram os ataques contra seu líder Keith Rowley.
Várias pesquisas e analistas apontavam à vitória do político, principalmente nos distritos com população afrodescendente, ainda que em maio passado foi suspenso de todas suas funções legislativas por difamar sem fundamento a ex-presidenta Kamla Persad Bissessar e outros membros do Executivo.
A ex-presidenta liderou muitas pesquisas e tinha ampla popularidade, no entanto as críticas a seu gabinete, as acusações de acentuar as diferenças étnicas, além de uma série de escândalos de corrupção arrasaram suas pretensões eleitorais.
Uma das polêmicas mais prejudiciais foi a vinculação com Jack Warner, um dos ex-diretores da Federação Internacional de Futebol (Fifa) acusado de lavagem de dinheiro, suborno e extorsão.
O mesmo Warner revelou a entrega de dinheiro a Persad-Bissessar, bem como os contatos entre o ex-presidente da Fifa Sepp Blatter e as eleições de Trinidade e Tobago.
A ex-presidenta negou todas essas informações e tentou enterrar o assunto, mas ainda assim o caso precipitou a derrota nas urnas de sua aliança Associação do Povo.
Agora, a coalizão ocupa a oposição e nas recentes eleições só manteve 18 assentos, ou seja, 11 a menos que os obtidos há cinco anos.
Por causa dos resultados eleitorais, o líder do PNM assumiu como o sétimo premiê da ex-colônia britânica.
Rowley é um vulcanólogo de 65 anos de idade – nascido na ilha de Tobago – que, depois de entrar em 1987 para a política, ocupou assentos legislativos e dirigiu os ministérios de Agricultura e Recursos Marítimos e Terrestres, de Planejamento e Desenvolvimento, de Moradia e de Comércio e Indústria.
Conduziu seu partido à vitória com um programa que promete melhorias na infraestrutura, mais desenvolvimento, equidade e justiça social, além de maior acesso à educação, à saúde e aos serviços públicos, entre outras questões.
Mas a prioridade será diversificar a economia e blindá-la contra as oscilações do mercado internacional que afetam o investimento estrangeiro e as exportações de petróleo e gás natural, os principais pilares do país.
Trinidade e Tobago sofreu nos últimos tempos as consequências da queda nos preços desses dois produtos e, em consequência, teve uma contração de 1,2% no primeiro trimestre de 2015, o desemprego aumentou a 3,7 pontos e a inflação continuou elevada.
Além disso, o déficit público duplicou entre outubro e maio passados, alcançando US$ 365 milhões.
Como parte de seus planos, Rowley se propõe a estabilizar as finanças, criar postos de trabalho, diversificar os setores produtivos para obter valor agregado e elevar a confiança no investimento.
Com esse fim, prevê introduzir uma reforma impositiva, descentralizar alguns serviços oferecidos pelo Estado, estimular projetos individuais de trabalho e também envolver os sindicatos e o setor privado no desenho de políticas e iniciativas que estimulem a produtividade.
Sua agenda inclui um convite à diáspora trinitária para que façam negócios em sua terra natal, a assistência permanente às empresas e investimentos no setor agropecuário, na indústria, manufatura, transporte e infraestrutura.
Outro ponto importante da nova administração será a luta contra o crime e para isso Rowley propõe modernizar todas as instituições de segurança, reformar o sistema de justiça e implementar programas de prevenção para os jovens.
Com respeito à corrupção, o líder do PNM propõe introduzir mudanças que garantam a integridade e a transparência nos órgãos do Estado.
Sua política exterior estará enfocada em fortalecer as relações com países como Venezuela, Cuba, Panamá, Jamaica, Catar, Rússia e Chile, entre outros.
Também dará atenção especial aos vínculos com seus sócios da Comunidade do Caribe, à reativação do mercado comum da região e ao apoio à livre circulação de trabalhadores.
No entanto, Rowley indicou que para materializar cada aspecto do plano é necessário a unidade entre todos os setores de Trinidade e Tobago pois "tempos duros" estão se aproximando.
Para o novo governante está claro que o principal desafio de seu mandato será tentar curar as feridas abertas pela histórica rivalidade étnica dos afro-trinitários (39,6% da população) e os descendentes de indianos (40,3%).
Nenhum dos governos anteriores pôde dar um fim aos conflitos políticos e sócio-econômicos provocados pela complexa divisão racial, cujas origens datam da época colonial.
*Chefa da Redação Centro América e Caribe da Prensa Latina.