Publicado 08/09/2015 08:31
No final do século 19 vários movimentos socialistas e revolucionários surgiram na Rússia. A rápida industrialização do país, neste período levou à formação de um operariado urbano e ao crescimento da classe média. Entretanto, o sistema político era o mesmo de 1547, quando se iniciou o czarismo.
Se por um lado a nobreza feudal e o próprio czar procuravam manter o absolutismo, por outro, essas novas classes reivindicavam reformas democráticas. Isso porque a população vivia em uma situação de extrema miséria e sob repressão política.
As ações do último czar russo, Nicolau II, apelidado de "o Sanguinário", ilustram essa situação. Por exemplo, na cerimônia de sua coroação, aberta ao público, em 1896, cerca de 1.500 pessoas morreram ao tentar participar do evento, em um episódio que ficou conhecido por “Tragédia de Khodynka”.
O desempenho desastroso das forças armadas russas na Guerra Russo-japonesa intensificou as contradições daquela sociedade e foi o estopim para a Revolução de 1905.
A Guerra Russo-Japonesa
Entre 1904 e 1905 o Império do Japão e o Império Russo disputaram os territórios da Coreia e da Manchúria. Apesar de enfrentar severas crises econômicas o Japão, que tinha tradições militares, impôs uma derrota humilhante ao inimigo e se consagrou como potência imperialista perante as diversas nações da Europa. A derrota russa, por sua vez, evidenciou a decadência do regime czarista, que gastou milhões para se recompor militarmente.
Greves e protestos contra o regime, organizadas pelos líderes socialistas, explodiram em diversas regiões da Rússia, envolvendo operários, camponeses, marinheiros e soldados do exército.
O Domingo Sangrento
No dia 22 de janeiro de 1905, um domingo, foi organizada uma manifestação pacífica de um milhão e meio de pessoas, liderada pelo padre ortodoxo Gregori Gapon, com destino ao Palácio de Inverno do czar, em São Petersburgo.
O objetivo era entregar uma petição, assinada por cerca de 135 mil trabalhadores, reivindicando direitos como reforma agrária, tolerância religiosa, fim da censura, a presença de representantes do povo no governo e melhores condições de vida.
Insensível às reivindicações populares, o grão-duque Sergei Alexandrovitch, ordenou à guarda do czar para afastar o povo do palácio e dispersar a manifestação. Como a massa resistiu, a guarda disparou contra a multidão transformando aquela manifestação pacifica, em um massacre.
A Revolução
Após esse trágico episódio vários grupos se mobilizaram, entre os quais destacam-se os camponeses, os trabalhadores urbanos, os intelectuais e liberais, setores das forças armadas e nacionalidades minoritárias.
Protestos ocorreram durante todo aquele ano. Em São Petersburgo, mais de 400 mil trabalhadores entraram em greve logo após o Domingo Sangrento, influenciando outros centros industriais. Em treze de outubro já se contava mais de 2 milhões de trabalhadores em greve.
A Revolta do Encouraçado Potemkin
Em junho, no Encouraçado Potemkin, navio de guerra da frota russa com base no mar Negro, a tripulação revoltou-se contra as péssimas condições em que viviam, sobretudo contra a péssima alimentação (carne podre), e por ter sido informada que seria enviada para lutar contra os japoneses. Aquele motim evidenciou que parte das Forças Armadas já não se mostravam subservientes aos desmandos da monarquia (em 1925 o cineasta Serguei Eisenstein, retratou a revolta no filme O Encouraçado Potemkin).
Os sovietes de São Petersburgo
Logo no início dos movimentos de 1905 surgiu a ideia de criar conselhos operários (os sovietes) para coordenar as greves. A instalação do "Soviete de Representantes Operários" aconteceu em 13 de outubro de 1905, em São Petersburgo. O soviete chegou a ter de 400 a 500 membros, eleitos por aproximadamente 200 mil trabalhadores e representando cinco sindicatos e 96 fábricas da região. Com maior influência no grupo, os bolcheviques assumiram o comando dos sovietes, organizando as greves e apoiando os trabalhadores.
A greve geral de outubro de 1905 ocorreu espontaneamente sem a intervenção do soviete. E, sob o medo de repressão, os grevistas voltaram ao trabalho.
A Duma
Para tentar contornar a situação, o czar Nicolau II lançou em outubro de 1905, o famoso "Manifesto de Outubro", que viabilizou a criação de uma Duma (parlamento) nacional e a existência de partidos políticos. Tais medidas, entretanto, não passavam de fachada, visto que os partidos eram vigiados e a Duma era controlada pelo czar.
Além disso, após o término da guerra contra o Japão, as tropas russas retornaram ao país e, a mando do soberano, reprimiram o movimento. Muitos líderes oposicionistas, como Vladimir Ilitch Lenin e Leon Trótski, foram presos ou exilados, e os sovietes colocados na ilegalidade. As promessas feitas pelo manifesto de outubro foram deixadas de lado, com exceção da Duma, que continuou a funcionar.
Mas os acontecimentos de 1905 assinalaram o início da derrocada definitiva do czarismo. Lenin chamou aquele ano de “ensaio geral”, uma espécie de prelúdio da Revolução Russa de 1917, que fortaleceu a ideologia socialista e a expandiu pelo mundo.