Vanessa Grazziotin:  Momento é de unidade e defesa da democracia

Para quem construiu uma trajetória política participando ativamente dos movimentos populares e ainda como integrante de um partido que teve grande parte de seus dirigentes mortos pela ditadura militar, avalio as manifestações em curso no país como resultado da conquista das mais amplas liberdades e como fundamental para o aprimoramento da jovem democracia brasileira.

Por Vanessa Grazziotin*

Dilma na Marcha das Margaridas - Agência Brasil

Nesse sentido, as manifestações do último domingo (16) foram bem-vindas. A maioria dos manifestantes elegeu como principal alvo o combate à corrupção, o que vai ao encontro aos anseios de todos os brasileiros. No entanto, ficou nítido o caráter partidário que se tentou dar ao movimento por parte daqueles que insistem em não aceitar os resultados das urnas, ou seja, a vontade soberana dos 54 milhões de brasileiros.

Mais uma vez os defensores do impeachment da presidente Dilma, da campanha do ódio e intolerância, aproveitaram o momento para reforçar suas ambições de reaver o poder a qualquer preço.

A tática é conduzir o país à instabilidade, à ingovernabilidade, de aprofundar a crise econômica. Uma conduta fadada ao malogro. Dois dias antes da manifestação, por exemplo, o Instituto Data Popular divulgou pesquisa na qual 71% dos eleitores acreditam que a oposição age com oportunismo, “agem por interesse próprio, não pelo bem do país”.

A pesquisa aponta que oposicionistas e descontentes não são a mesma coisa. O primeiro grupo são eleitores que não votaram na presidenta Dilma, "rejeitam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, avaliam o atual governo como “ruim ou péssimo” e querem o impeachment". Eles são contra as políticas sociais como o Bolsa Família, Prouni e políticas de cotas. Os 44%, que estão na categoria dos descontentes, dizem não acreditar que a oposição resolveria a atual crise.

Crise, aliás, que está sendo superdimensionada para favorecer ao aprofundamento da crise política. É conhecido que o desempenho da economia mundial, por exemplo, está prejudicando a retomada do mercado de trabalho em vários país. Mesmo assim, a taxa de desemprego do Brasil 6,2% é menor que a média de 11,3% na Europa.

Nos Brics, países como África do Sul (24,3%) e a Índia (8,6%) têm nível de desemprego acima do brasileiro. Na América do Sul, a taxa de desemprego na Colômbia foi de 10,2% da população economicamente ativa e na Argentina de 6,9%, muita parecida com o percentual brasileiro.

Diversos setores da sociedade já compreenderam que o momento é de unidade para superar essa crise, entre eles estão os meios de comunicação, empresários, movimentos sindicais e sociais. Todos rechaçam a tentativa desenfreada do caminho apontado pela oposição golpista.

No entanto, eis que surge o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com o discurso sugerindo a renúncia da presidente Dilma. Uma posição que nos surpreende pela própria história do ex-presidente, considerado um dos mais moderados nessa tertúlia demo-tucano. Um palpite infeliz. Uma irresponsabilidade sem tamanho.

Um momento inoportuno. Feito no átimo do debate sobre a necessidade do diálogo, do consenso em torno da retomada do crescimento, da proteção das empresas e dos empregos. Trata-se de uma ignominiosa conduta para prejudicar o país. O ex-presidente só reforça a tese do quanto pior melhor.

Diante dessa conjuntura política instável e perigosa, o que menos se esperar é a insensatez. Por isso, é fundamental a unidade de todas as forças democráticas e progressistas em defesa não só de um governo legitimamente eleito, mas da própria democracia.