Para economistas e cientistas políticos, Brasil sairá mais forte
Embora as principais crises vividas pelo Brasil no século 20 tenham ocasionado rupturas dos modelos econômico e político, o atual cenário vivido pelos brasileiros durante o segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff pode fortalecer a democracia e as instituições republicanas.
Publicado 11/08/2015 08:47
Durante as crises de 1929 e da hiperinflação na década de 1980, o Brasil passou por mudanças de regime, o que não deve acontecer agora, segundo especialistas. Apesar do pessimismo da população, Gustavo Krause, ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco, entende que a crise atual não é institucional.
Em sua avaliação, passamos por uma falta de confiança dos agentes econômicos “devido ao ajuste fiscal” e por instabilidade política “devido à operação Lava Jato”, mas as instituições estão funcionando.
“O Judiciário e o Legislativo continuam fortes, ainda que tomem rumos equivocados. O Executivo está enfraquecido, mas segue constituído. Após este período, os Poderes serão mais robustos. As instituições sairão fortalecidas e mais independentes. Também acredito na resiliência do povo brasileiro em momentos delicados”, disse.
O otimismo do ex-ministro é compartilhado pela historiadora da PUC-Minas Júlia Calvo, para quem a Lava Jato terá poder transformador na cena política nacional.
“O volume da corrupção descoberta alcançou os grandes caciques, o que vai nos levar a uma troca de agentes políticos. Além disso, o Judiciário e a Polícia Federal são importantes neste momento e, quando a crise acabar, eles ficarão mais representativos. A sociedade civil também estará mais organizada para não deixar que aconteça o que aconteceu nos últimos anos em relação à corrupção. As manifestações de 2013 exemplificam isso”, enfatizou Calvo.
Aproveitando o momento de crise política, o ex-aliado do Planalto e presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), quer resgatar a proposta de alterar o sistema político de presidencialismo para parlamentarismo. A empreitada, no entanto, não deve passar do discurso, na avaliação do cientista e consultor político Carlos Manhanelli.
“A maneira como o governo está lidando com a crise econômica sinaliza um alcance de médio prazo. Entendo que o presidencialismo, já escolhido pelos brasileiros em plebiscito em 1993, não vai mudar. Não acredito em mudança para o parlamentarismo, por exemplo. Temos um modelo sólido o bastante para suportar o momento atual.”
Na opinião do vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen, o país já tem uma democracia mais madura. Ele ressalta que uma ruptura pioraria a crise econômica.
“O Brasil atual é diferente. As instituições são maduras. Isso significa que as rupturas são menos prováveis. Se ela acontecesse, a crise econômica seria agravada. Para superar a crise política, é preciso fortalecer a democracia. O eleitor pode escolher outro candidato em 2018. É importante não termos rupturas até lá.”
Pettersen aponta que a turbulência deve fazer o governo mudar a forma como combate a inflação. “Temos que superar a nossa política cambial, que segue a mesma cartilha há 30 anos. Ela é utilizada de maneira equivocada apenas para controlar preços. Você não pode definir a competitividade de uma indústria apenas pela taxa de câmbio”.
Em 2015, o Brasil completou 30 anos ininterruptos de vigência da democracia. É o maior período do país neste modelo de regime. Atualmente, a democracia brasileira é a quarta maior do mundo.