André Araújo: Vazamento é a alma do negócio
De todos os aspectos da Lava Jato, de sua desconstrução da economia brasileira, da criação de um clima pesado e negativo que desencoraja novos empreendimentos porque qualquer passo pode ser mal interpretado e levar à cadeia, o que chama a atenção como tática da operação é o ilimitado vazamento de informações para servir de base à desmoralização dos pretensos investigados.
Por André Araújo, no Jornal GGN
Publicado 25/06/2015 16:38
Presos na porta do avião, portanto, em área fechada e restrita, onde só deveria estar a polícia, a tripulação tem a Globo fotografando e filmando; as diligências de busca e apreensão também têm a escolta da Globo. Essa mídia faz parte da Lava Jato, integrada por Juízo, Ministério Publico Federal, Polícia e Globo.
Em troca do privilégio, a Globo apoia todo e qualquer aspecto da operação, sem juízo crítico. O monarca Merval Pereira e as papisas Miriam Leitão, Cristiana Lobo, Renata Lo Prete e companhia, seguem a onda sem nenhuma crítica ao custo para a economia, aos atropelos e aspecto cruzadeiro da Lava Jato.
A aliança entre Globo e esse grupo é antiga. Na operação que levou Daniel Dantas à prisão, foram incluídos, sem nexo lógico, Naji Nahas e o ex-prefeito Celso Pitta. O primeiro porque propôs algum negócio a Dantas, e o segundo porque pediu dinheiro emprestado a Nahas.
Pitta foi preso às 6 horas na porta de seu apartamento, de pijama, sendo o primeiro da fila a bater na porta o repórter César Tralli, da Globo, enfiando o microfone na cara de um Pitta ainda sonolento. Uma cena dantesca: Pitta já doente, com câncer e sem saber o que estava acontecendo, já deveria dar declarações ao agressivo Tralli, papagaio de polícia e sempre pronto para tarefas degradantes.
Esse mesmo Tralli já tinha atacado Pitta em outro episódio, poucos dias antes do fim de seu mandato. Tralli foi à Prodam, companhia de informática da Prefeitura, e filmou mesas vazias para mostrar que os funcionários não trabalhavam. Isso foi usado na campanha da Marta Suplicy para prefeita. Semanas depois, ela então assume e um de seus primeiros atos foi nomear o pai do Tralli como assessor na Prodam. Esse é o modelo Globo de parceria.
As mesas vazias na Prodam eram o resultado de corte de funcionários, e não porque não trabalhavam, como disse a capciosa reportagem de encomenda.
A Globo tem pesadas pendências fiscais com a Receita Federal, que ao fim vão cair na mão do Ministério Publico Federal. Pode ser apenas coincidência, mas a emissora sabe operar em certas situações complicadas.
O vazamento de todas as etapas investigativas tem consequências jurídicas. Seu objetivo é fazer a opinião pública se virar contra os investigados, fazendo o famoso escracho. Outro objetivo é desmoralizar os investigados perante seus amigos, funcionários, família e clientes, enfraquecendo sua defesa e seu ânimo.
Na prisão dos dirigentes da Fifa, em Zurique, não houve escracho. Marin saiu preso sem mostrar a cara, agindo a Polícia com profissionalismo e imparcialidade.
O escracho já se tornou tão comum que ninguém mais registra que se trata de grosseira irregularidade na investigação. A ideia de uma justiça neutra desapareceu completamente no Brasil. Na Lava Jato, há um grupo operacional de combate às empresas, ninguém mais sabe onde começa o Juízo, o Ministério Público e a Polícia. Parece aos olhos de todos uma coisa só, a imparcialidade é zero e para colocar a cereja no bolo, a Globo aparece como máquina de propaganda da operação, sempre à coté da execução dos mandados de prisão e busca e apreensão.
Se está sempre junto é porque foi avisada com antecedência para preparar as equipes de reportagem, mas isso é legal?
Na operação da Justiça é fundamental a lógica das ações e a proporção entre atos e custos.
Ações de investigação que destroem grandes empresas não têm paralelo no mundo. A conta não deve ser menor que um milhão de empregos diretos e indiretos. Só as duas últimas, Andrade Gutierrez e Odebrecht, controlam por si e subsidiárias 410.000 empregos. Os estaleiros, todos sob ameaça clara de fechamento, têm 46.000 empregos diretos e mais 200.000 indiretos. A Engevix, maior empresa de projetos do país, tinha 2.000 engenheiros e técnicos; a OAS também era das grandes.
Todas estão se desfazendo dos ativos, está tudo à venda, aeroportos, usinas hidrelétricas, eólicas e solar, estaleiros.
O desmonte está sendo completo. No exterior, grandes ações anti-corrupção contra Siemens, Alstom, Halliburton, Lockheed, nunca puseram em risco as empresas porque sempre houve cuidado para mantê-las funcionando e bem, caso contrário, como pagariam as multas? Aqui estão sendo impostas multas estratosféricas que jamais serão pagas, serão créditos em massas falidas porque, ao mesmo tempo que impõe multas de dez vezes o valor das propinas, impedem a empresa de assinar novos contratos, como então ela pagará a multa?
Na História não ficará a operação em si, mas a covardia, a abulia, a apatia, a falta de consciência de país daqueles que assistiram de camarote ao desmanche de importantes pedaços da economia nacional, no altar de um moralismo tosco e desligado da realidade econômica em que vive o Brasil de hoje, em profunda e crescente recessão. Quebrar empresas nessa situação é de uma irresponsabilidade inacreditável.
De um amigo que trabalha na Odebrecht: "O ambiente aqui está de velório."
Vocês conseguiram, o dano é irreparável.
Enquanto isso, os salários, férias e auxílios do setor improdutivo da economia estão garantidos.