Publicado 24/06/2015 18:47
Filho mais novo de uma família de oito irmãos, brasiliense, apaixonado pelos traços que o céu da cidade e as curvas arquitetônicas podem revelar. Antes de reconhecer na fotografia um caminho profissional, Richard Silva (repórter fotográfico), 44, aprendeu cedo o hábito de ouvir música brasileira, rock and roll e blues. A influência vinha dos irmãos, de acordo com ele “era uma coleção vasta de vinis, que iam de Luiz Melodia ao clássico Deep Purple que marcaram muito”.
Assim, descobriu a guitarra e suas possibilidades melódicas. A primeira paixão da vida se revelava nos estudos sobre a trajetória da irreverente banda inglesa Rolling Stones, exercendo forte impulso para tornar os solos parte de um caminho que agora era seu também. “Fiquei fascinado por saber que o nome da banda se baseava em uma canção do bluesman norteamericano Muddy Waters”. Para Richard Silva aí estava a trilha que deveria ser a dele dali por diante.
“Eu prestei atenção sempre pelo que me deixava encantado, era o som da guitarra”. Com este gás e determinação foi estudar outros grandes mestres do blues como Buddy Guy, Steve Ray Vaughan, B.B. King, entre tantos ícones do gênero.
Neste período de mergulho no universo da música conheceu Luiz Kaffa (guitarrista e vocalista), ainda em início de carreira. “Com ele aprendi a ouvir a Ângela RoRo, Blues Etílicos e muitos músicos que faziam uma blueseira fantástica”, destaca Silva. Não demorou muito para o novo amigo ser convidado a montar um projeto voltado aos acordes da musicalidade afroamericana e encarar os palcos do Distrito Federal.
"A ideia surgiu com meu amigo e compadre Richard, guitarrista hoje dedicado à música de louvor. Queríamos fazer algo parecido com o som do Celso Blues Boy, que foi uma grande influência,e de quem, no final da vida, toquei junto e me tornei amigo", lembrou Luiz Kaffa.
Aí estava o embrião da histórica Brazilian Blues Band, que primeiramente teria o nome de Marginal Blues, inspirada no homônimo disco de Celso Blues Boy. Fundada em 18 de abril de 1994, a banda definiu que seguiria os passos de um som voltado aos timbres e compassos do blues sem perder o que era para Richard o swing “essencialmente brasileiro”. Desta forma surgia no cenário brasiliense a Brazilian Blues Band, batizada por Richard Silva. Hoje com 20 anos de estrada e sem a presença de Silva.
Do blues nasce o repórter fotográfico
“A Brazilian Blues Band é uma grande influência na minha outra formação”. A relação de amizade com os integrantes não se desfez. Ao contrário, apontou o novo caminho profissional do ex-guitarrista. Quando se afastou da parte musical, Richard Silva assumiu, à pedido dos demais músicos, a tarefa de fotografar as apresentações.
Já como profissional das lentes, esteve presente nos momentos importantes da banda. Aprendendo seu novo ofício ao som do velho e bom blues. Certamente, os acordes impactantes das canções o inspiraram. Agora, observava o rio da margem, procurando as luzes centrais e marginais que iluminavam a Brazilian. Sua fonte de construção musical e de percepção imagética. “Eu adorava estar com os caras na estrada, naquela mesma sensação que as canções proporcionam”.
A formação acadêmica fluiu para a criatividade, inerente aos fotógrafos e músicos. Silva procurou na Publicidade a expressão para a arte pulsante em sua travessia, a mudança desejada e a união entre as duas verves que alimentavam sua alma. É possível que a sensibilidade desse artista reinventado seja traduzida no olhar atento que apresenta em cada clique, como se dedilhasse uma nova melodia.
Com essa nova fase veio, também, a estabilidade financeira, possibilitando a compra de instrumentos novos. Realizando assim, mesmo que por diversão apenas, a continuação do sonho musical nunca abandonado. Foram escolhas complicadas, mas que com o tempo se completaram no “melhor momento da vida”, segundo Richard Silva.
Na capital do Brasil não existe o rio Mississippi, nem a atmosfera própria da cultura negra norteamericana. Mas, o Lago Paranoá inspira muitas trajetórias de vida que merecem ser contadas em todos os tempos. Atrás das câmeras, nos bastidores de Brasília, encontramos um personagem raro que com extrema sensibilidade segue sua lida por tornar o mundo um lugar mais interessante de se viver.
O blueseiro fotógrafo Richard Silva conseguiu aliar a poesia das canções com a luta no Congresso Nacional. “Eu sinto que, meu trabalho de hoje, é como uma missão. Um compromisso de levar para o público, da melhor maneira possível, as tantas histórias da política nacional. Faço por vocação, sonho. É a minha contribuição para extinguir o lamento, tão presente no blues, do povo brasileiro por dias mais justos”.
Entre os próximos passos da banda, já está em curso a gravação de novas canções para o terceiro CD e a produção de um DVD com uma compilação dos trabalhos anteriores. A atual formação da Brazilian Blues Band conta com Leonardo Vilela (guitarra), Célio de Moraes (baixo), Rafael Paez (bateria) Marçal Leones (teclados) e Luiz Kaffa nos vocais.