No Maranhão: Domenico Losurdo desconstrói mitos liberais burgueses
Ao resgatar as relações entre colonialismo e escravidão, o filósofo italiano ataca a contradição fundamental do liberalismo político em relação à democracia e aos direitos humanos universais. Conferência na Universidade Federal do Maranhão foi prestigiada por intelectuais locais e membros do Governo do Estado.
Publicado 22/06/2015 10:31
O filósofo italiano Domenico Losurdo atraiu uma multidão de estudiosos ao auditório da Universidade Federal do Maranhão, onde foi realizada a conferência “Marx e o balanço histórico do século 20”. Foi uma oportunidade inédita oferecida aos maranhenses pela Fundação Maurício Grabois e a UFMA, assim como as editores Anita Garibaldi e Boitempo, que lançaram os livros do autor.
Losurdo é um dos mais respeitados pensadores marxistas da atualidade. Leciona filosofia da história na Universidade de Urbino. Possui uma obra monumental e é um dos estudiosos italianos mais traduzidos no mundo. Desde 1988 preside a Internationale Gesellschaft Hegel-Marx für Dialektisches Denken (Sociedade Internacional Hegel-Marx para o pensamento dialético), e é membro fundador da Associação Marx Século 21.
Nesta sua turnê pelo Brasil, que teve início esta semana em São Paulo e incluirá também o Rio de Janeiro, Losurdo gentilmente aceitou o convite da Fundação Maurício Grabois para deslocar-se até São Luís. Na conferência que ministrou na cidade, Losurdo apresentou novas facetas de seu trabalho intelectual, todo ele voltado à desconstrução dos mais importantes mitos do liberalismo político – os mesmos que povoam nossa imprensa como verdades incontestáveis.
Entre esses mitos, destaca-se a ideia de que a democracia moderna e a universalização do conceito de homem – e, portanto, a aceitação dos direitos humanos como atributos de todos, sem distinção de sexo, idade, raça e credo – seriam consequências lógicas ou naturais do desenvolvimento do liberalismo burguês.
Losurdo lembra que escravidão e liberalismo conviveram em relativa harmonia tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos. Estes últimos continuaram excluindo os negros de seus direitos básicos até passado muito recente. Também não se enquadravam no conceito liberal de humanidade os povos das colônias, encarados – na melhor das hipóteses – como crianças a serem tuteladas.
Mesmo o tão decantado direito de livre organização teve de ser conquistado pelo proletariado em luta. Por isso, na visão do intelectual italiano, “a democracia moderna não pode ser compreendida sem as ideias e lutas da tradição democrático-socialista”.
Losurdo foi prestigiado pelo reitor da UFMA, Natalino Salgado, e a reitora recém-eleita da Universidade, Nair Portela. Acompanharam o professor Losurdo, o presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, e o professor adjunto do departamento de Comunicação Social da Ufma, Fábio palácio. A sessão de autógrafos no hall do auditório lançou os livros “Marx e o Balanço Histórico do Século 20”, editado pela parceria entre Fundação Maurício Grabois e editora Anita Garibaldi, e “A Luta de Classes – Uma História Política e Filosófica”, publicado pela Boitempo Editorial.
Grabois maranhense
O evento serviu também ao relançamento da FMG-MA, cuja diretoria foi empossada com os seguintes membros: Alan Kardec Duailibe, professor da UFMA, Cristiano Capovilla, professor da UFMA, Egberto Magno, advogado e historiador, Elba Mochel, professora da UFMA, Fátima Oliveira, médica e escritora, Fernando Lima, médico, Joãozinho Ribeiro, bacharel em direito e professor universitário, Jonathan Almada, historiador e secretário-adjunto de Ciência e Tecnologia do Governo do Estado do Maranhão, Laurinda Pinto, pedagoga e secretária da Mulher do Governo do Estado do Maranhão, Luiz Pedro, jornalista e diretor da Tv Assembleia do Maranhão, Régina Galeno, educadora, Sálvio Dino, advogado, e Fábio Palácio, que assumiu a Presidência da Seção Regional Maranhão da Fundação Maurício Grabois.
A Fundação tem a finalidade de promover estudos, pesquisas e análises nas áreas política, econômica, social e cultural, sobre realidade brasileira e mundial; realizar trabalho de educação política e formação militante, e organizar acervo sobre a história e a memória do Partido Comunista do Brasil e do movimento operário e popular.
Segundo Palácio, para cumprir suas finalidades e enfrentar as tarefas teóricas da contemporaneidade a Fundação terá de realizar seu trabalho interagindo com o conjunto das forças e intelectuais progressistas e de esquerda.
"Com base neste entendimento, a Fundação foi concebida como um espaço de confluência, um local para o encontro entre o labor intelectual desenvolvido pelos comunistas e o trabalho de semelhante natureza realizado por intelectuais e outras organizações do campo marxista e progressista do Brasil e de outros países. Tendo em vista esse intercâmbio com o pensamento avançado, a Maurício Grabois valoriza o diálogo com a universidade brasileira e outras instituições de pesquisa e estudo, e também com intelectuais, pesquisadores e personalidades do mundo da cultura que tenham afinidade com seus propósitos e se disponham a colaborar com o êxito de seu trabalho”, explicou.
A Fundação Maurício Grabois, para defender, difundir e enriquecer o marxismo, conhecer e compreender mais e melhor o Brasil e a realidade mundial, de acordo com o novo presidente, desenvolve ampla agenda de atividades tanto por iniciativa própria quanto em parceria com outras organizações congêneres ou instituições afins. “É uma agenda diversificada e contempla a realização de pesquisas, estudos, seminários, conferências, debates, cursos e outras atividades de formação, e ainda, iniciativas editoriais”.
No Maranhão, a seção estadual da Fundação buscará agregar aos seus objetivos originais, o conhecimento da realidade regional. De acordo com Palácio, os propósitos principais são “o desenvolvimento e a divulgação do pensamento marxista e de esquerda no estado e a formulação de propostas de políticas públicas que contribuam para o esforço ora empreendido pelo governo Flávio Dino no sentido de livrar o Maranhão dos flagelos da pobreza e do subdesenvolvimento”. “Começamos esta nova fase de nossas atividades em alto estilo, trazendo a São Luís um dos mais importantes pensadores políticos da atualidade”, celebrou Palácio, destacando a nova fase política pela qual passa o Estado com a eleição do governador comunista Flávio Dino.
Dentro da agenda do pensador italiano na capital Maranhense, ele não podia deixar de conhecer o governador comunista que derrotou a oligarquia Sarney, em 2014. Losurdo pode testemunhar as primeiras ações do Governo Flávio Dino, que enche os maranhenses de esperança na possibilidade de superar a extrema pobreza que assola o Estado, há tantas décadas.
Foi na quinta-feira (18), que o governador Flávio Dino, em reconhecimento ao valor e importância da visita do professor Losurdo ao Maranhão e suas contribuições teóricas e políticas, o recebeu no Palácio dos Leões para um almoço, dando as boas vindas ao Estado.
Também reconhecendo o papel da Fundação Grabois, Dino convidou para o almoço integrantes da seção estadual da Fundação, membros do seu Secretariado e os reitores da UFMA.
Novo debate
Na sexta-feira (19), Losurdo fez novo debate com maranhenses no auditório do hotel onde se hospeda. O debate versou sobre a realidade atual na Europa e as condições da esquerda europeia. Foi uma troca de impressões, em que Losurdo também ouviu Márcio Jerry, secretário do governo do Maranhão e presidente do PCdoB-MA. Antes do professor, Jerry apresentou um panorama da situação politica do Maranhão e os desafios do governo de tornar vitorioso o projeto que foi eleito nas urnas.
O presidente da Grabois, Adalberto Monteiro, participou de toda a movimentação e teve encontros com membros da seção estadual da entidade. O novo presidente da seção local, Fábio Palácio, trocou ideias sobre a agenda no Maranhão, focando sobretudo em reunir e agregar acadêmicos, intelectuais e artistas maranhenses para o debate de caminhos e ideias que possam levar ao desenvolvimento social do Estado.