Folha de S. Paulo e as duas faces de uma moeda
O bom editorial da Folha de S. Paulo publicado no último domingo (14) despertou em muita gente esperanças de um ajuste na linha editorial do jornal. Não no sentido de que a Folha iria se transformar em um órgão progressista, pois isso seria negar sua origem. Não esqueçamos que o jornal, assim como seus congêneres, apoiou a ditadura militar, chegando a emprestar carros para transportar presos destinados à tortura e à morte.
Publicado 17/06/2015 22:13
“Mas – pensaram alguns otimistas – quem sabe a Folha não passe a adotar um jornalismo mais plural, com um certo verniz de isenção, que tanta falta faz à nossa imprensa, e que no período da redemocratização foi uma das marcas do jornal”. Eram, como já desconfiávamos, vãs esperanças. Quem duvida, basta ler a Folha desta quarta-feira (17). Da capa até a página A8 (onde termina a editoria Poder) o tom é monocórdio, sempre com o mesmo alvo. Um editorial ataca um ex-ministro do PT (Antonio Palocci) no que é secundado por um colunista amestrado, enquanto outro da mesma espécie ataca o PT em geral. Apenas dois textos não investem contra a odiada (pela Folha) organização. Um, o editorial principal, intitulado “Um veto pelo futuro”, onde o jornal pede a manutenção do fator previdenciário, para que os brasileiros (esses vagabundos) não se aposentem cedo e aproveitem a vida com os altos proventos pagos pela previdência brasileira. Outro, é um artigo do Delfim Netto defendendo a terceirização e criticando o socialismo, segundo o articulista, uma invenção de “intelectuais”. Isso tudo apenas na página A2, que ainda teve espaço para uma charge que joga água no moinho de que as coisas estão ruins e ainda vão ficar piores.
Folha: Mais do mesmo
Nas páginas seguintes, mais do mesmo. Em meio a um solitário artigo assinado por Guilherme Afif Domingos (ministro-chefe da Secretaria da Micro e Pequena-Empresa da Presidência da República) com elogios à presidenta Dilma, mais notícias contra o PT, contra o ex-presidente Lula, etc. Como, querido leitor? Se tem alguma notícia desfavorável, mesmo que de leve, a algum cacique da oposição? Claro que não. São todos probos e inatacáveis. O quê? Se tem alguma menção ao escândalo do HSBC (onde o presidente da Folha de S. Paulo aparece como um dos implicados), ou à operação Zelotes, ou ainda mesmo uma mísera notinha sobre os trabalhos da CPI da Carf, que está funcionando no senado? Não, caro leitor, infelizmente nesta edição não saiu nada sobre estes escândalos que envolvem o “andar de cima”. Na verdade, hoje em dia a Folha já não engana muita gente, afinal de nada adianta ter duas faces se ambas pertencem a uma mesma moeda falsa.
Aloysio, o Paraná é mais perto
Pleonasmo é um vício de linguagem que é caracterizado pela redundância de um termo ou expressão com o mesmo significado. Exemplo: Senador tucano hipócrita. A Folha de São Paulo publicou com destaque o protesto do senador Aloysio Nunes Pereira (PSDB-SP) contra “gente sendo massacrada nas ruas”. Ele não estava falando do Paraná, onde seu correligionário Beto Richa mandou a polícia massacrar professores, ele estava falando, vejam vocês, da Venezuela, país soberano, que tem seu próprio governo e parlamento eleitos por seu povo e que não precisa das falsas lições de quem não tem nada a ensinar em matéria de democracia.
A resposta de Putin
O governo americano vai aumentar seu efetivo nos países bálticos e do Leste Europeu. Isso incluí armamento pesado, mobilizando 5.000 soldados. Quem anunciou isso no último sábado (13) foi o conhecido jornal “bolivariano-comunista” The New York Times. Em coluna publicada no Portal Vermelho, intitulada “A Otan lança o Tridente”, Manlio Dinucci, professor italiano de geopolítica, afirma que “todos os comandos e bases dos Estados Unidos e da Otan estão em plena atividade para preparar a ‘Trident Juncture 2015’ (TJ15), o maior exercício militar da Otan desde o fim da guerra fria”. Informa ainda Dinucci que a operação “será realizada na Itália, na Espanha e em Portugal, de 28 de setembro a 6 de novembro, com unidades terrestres, aéreas e navais e com forças especiais de 33 países (28 da Otan e mais cinco aliados): mais de 35 mil homens, 200 aeronaves, 50 navios de guerra”.
A resposta de Putin – Desagravo a William Waack
Dinucci informa ainda que “participarão também as indústrias militares de 15 países para avaliar de que outras armas a Otan necessita”. Em resposta a uma clara ameaça, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou nesta terça-feira (16), em Moscou, a instalação de 40 mísseis intercontinentais. Cinicamente, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, classificou o anúncio de Putin como “desestabilizador e perigoso”. O problema é que em nossa domesticada mídia hegemônica, comentaristas da qualidade de um William Waack invariavelmente apresentam Putin como sendo o provocador e não o provocado. Já que falamos em William Waack, queremos mais uma vez deixar claro que de maneira alguma aceitamos a acusação de que ele é um agente americano. Voltamos a repetir que ele apenas é muito amigo do pessoal da embaixada dos EUA, que constantemente o convida para um chá com torradas e um bate papo sem compromisso. E dizem que o chá é ótimo e os diplomatas americanos são uns bonachões. Como recusar tais convites?
EUA – O telhado é de vidro
Um senador republicano considerou “vergonhoso” que os EUA não enviem abertamente armas para os fascistas ucranianos. O site Sputnik se dispôs então a lembrar ao nobre senador fatos realmente vergonhosos da história do seu país, e fez uma lista modesta que inclui: Genocídio de povos indígenas, segregação racial, bombardeio nuclear de Hiroshima e Nagasaki, guerra no Vietnã, bombardeios na Iugoslávia, invasão do Afeganistão, criação do Estado Islâmico. A lista é boa, mas ainda falta muita coisa como, por exemplo, o apoio e o financiamento às ditaduras latino-americanas, o apoio ao apartheid, e muitos outros fatos capazes de envergonhar até o Bolsonaro.
Por falar nisso – A verdadeira ideologia americana
Em determinado trecho do texto do Sputnik, é mencionado o fato de que os negros só tiveram direito à voto nos EUA em 1967 e, referindo-se à policiais, a matéria diz que “há pessoas até hoje que acham que segregação é legal”. Porém, o aparelho policial reflete apenas a elite americana, majoritariamente egoísta, racista e intolerante. Vejam o caso de Donald Trump. Ele é um bilionário estadunidense, famoso tanto por ostentar sua fortuna quanto por apresentar um programa de TV. Pré-candidato à presidência pelo Partido Republicano, Trump declarou, nesta terça-feira (16), que “eu sou realmente rico. Esse é o tipo de pensamento que precisamos para esse país”. Detalhe, sua fortuna vem do ramo imobiliário, um dos principais vetores da gigantesca crise econômica que estorou em 2008.
A verdadeira ideologia americana e a leitora que sempre tem razão
Estranhamente, no entanto, os pobres americanos, que não tinham um tostão investido em imóveis, ficaram mais pobres com a crise, enquanto que, se Donald Trump ficou menos magnata, ninguém notou a diferença. O pré-candidato também prometeu que, se eleito, vai construir um muro (mais um) na fronteira com o México e fará o país latino pagar pela construção pois, segundo Trump, os mexicanos “trazem drogas, trazem crimes, são estupradores”. Ouço uma leitora altear sua doce voz e afirmar que a elite brasileira e seus ventríloquos não são muito diferentes e, constrangido (pois a voz é doce, mas a afirmação é amarga) sou obrigado a concordar. E se a mesma leitora insistir (com a voz já um tanto endurecida, mas sem perder a ternura) que um Eduardo Cunha deve pensar dos haitianos o mesmo que Trump pensa sobre os mexicanos, direi,um tanto contrafeito, que ela, mais uma vez, tem razão.
Um país inteiro viajando
Falando de um assunto mais agradável. Imaginem que toda a população da Noruega resolvesse viajar ao exterior, toda mesmo. Incluindo guardas da fronteira, médicos, professores, operários, estudantes, etc. E vamos imaginar ainda que, não querendo viajar sozinhos, convidem toda a população do Uruguai a acompanhá-los. Pois bem, a soma das populações dos dois países não chega ao número de chineses que, apenas no primeiro trimestre deste ano, viajaram ao exterior. Segundo o Diário do Povo online “dados divulgados nesta segunda-feira (15) pela Administração Estatal de Turismo mostram que mais de 8,95 milhões de chineses viajaram para o exterior no primeiro trimestre deste ano, um aumento de 21,38% em comparação com o mesmo período do ano passado”. E a mídia hegemônica perdendo tempo com meia-dúzia de coxinhas que vão bater perna na heróica Venezuela bolivariana.