Brasil tem três novos patrimônios culturais

 A prática artesanal de fazer cuias, realizada por mulheres de comunidades ribeirinhas do Baixo Amazonas, no Pará, a maestria do paisagismo de seis Jardins de Burle Marx, no Recife (PE), e a história, arte e beleza do parque Campo de Santana, no Rio de Janeiro (RJ), ganharam, nesta quinta-feira (11), o título de Patrimônio Cultural do Brasil.

Arte de fazer cuias - Janine Moraes

A proposta para registro (para o ofício das Cuias) e tombamento (no caso dos jardins de Burle Marx e Campo de Santana) foram avaliadas durante a 79° reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), realizada em Brasília.
Durante a reunião, a presidenta do Iphan, Jurema Machado, explicou que o reconhecimento do registro das Cuias resulta de um trabalho de conversas de cerca de dez anos entre o Iphan e as artesãs. Ela enfatizou a necessidade de haver um trabalho contínuo pós-reconhecimento.

"Queremos estar permanentemente associados a esse grupo em ações de Salvaguarda, contribuindo para a promoção, transmissão de conhecimento e valorização dessa pratica riquíssima e das pessoas", afirmou.

Raimunda Santana Azevedo, integrante da Associação das Artesãs Ribeirinhas de Santarém (PA), comemorou o registro do ofício das cuias. "Para nós, é uma grande vitória. Com o reconhecimento, as vendas vão aumentar, seremos mais reconhecidas e mais respeitadas também. Estamos muito felizes", destacou.

O modo de produzir cuias é transmitido de geração em geração e requer cuidadoso trabalho por parte das artesãs, na maioria mulheres ribeirinhas da região do Baixo Amazonas. Inicialmente, os frutos retirados da árvore popularmente chamada de cuieira são partidos ao meio com facão ou serrote para secar. As duas metades são acondicionadas para amolecer na água, em bacias ou em pequenos cercados à beira do rio, quando então é realizada uma primeira raspagem das superfícies internas e externas.

Após este processo, as cuias são expostas ao sol, e inicia-se o processo de tingimento com cumatê, pigmento natural extraído do axuazeiro ou cumatezeiro. A água tingida é passada em ambos os lados das cuias secas, e as peças permanecem sobre um jirau para secar. São alocadas então em um estrado denominado cama ou puçanga, que é preparado com uma camada de areia e cinzas, em local coberto. Nessa camada é borrifada urina humana (para extração da amônia) colhida durante a noite anterior a esta preparação, em cuias grandes denominadas coiós.

Assim, é colocada uma cobertura de palha sobre a camada molhada com a urina, onde as cuias são emborcadas e abafadas com pano ou lona, permanecendo assim por cerca de seis horas. O procedimento é repetido com as cuias desemborcadas, quando se passa ao processo de ornamentação.

Tombamentos

O Conselho Consultivo do Iphan também aprovou o tombamento de seis jardins do paisagista Roberto Burle Marx no Recife (PE) e do Parque Campo de Santana, no Rio de Janeiro (RJ), construído no século 17 e palco de celebrações oficiais e cívicas ligadas à condição do Rio de Janeiro enquanto sede do Império.

A presidente do Iphan explicou que o Campo de Santana é uma área inusitada, já que o local foi tombado em 1938 e destombado cinco anos depois para construção da Avenida Presidente Vargas. "Tínhamos essa dívida. É incompreensível como um jardim daquela qualidade não tinha sido reconhecido como patrimônio nacional. Isso implica também proteger o perímetro imediato, onde estão, por exemplo, a Casa da Moeda e o Arquivo Nacional", comentou.

Já os jardins de Burle Marx, criados na década de 30, estão localizados nas praças Euclides da Cunha, Casa Forte, do Derby, da República, Jardim Campo das Princesas, Salgado Filho e Faria Neves, em Recife (PE). Trazem, em comum, a característica inovadora do artista, que utilizou o tripé higiene, educação e arte, no qual a vegetação é o elemento principal.

"É o trabalho do jovem Burle Marx, quando ele começa a fixar uma linguagem nos jardins", comenta Jurema Machado. "São praças que precisam de notoriedade porque estão em ambientes urbanos densos e complexos. A proteção representa a possibilidade de manter integridade do desenho da concepção e cuidar do entorno para que não os danifiquem", conclui.