Formação: Curso de Nível II aborda questões políticas e partidárias
Com o intuito de dar continuidade ao trabalho de formação de militantes e quadros do PCdoB, a Escola Regional de Formação e Propaganda João Amazonas, na Região Nordeste 2, iniciou na última quarta-feira (10/06), e segue até o próximo domingo (14/06), em Maranguape, mais um curso de Conceitos Básicos do Marxismo Leninismo (Nível II). Com 40h/aula, o curso conta com a participação de cerca de 50 filiados, representantes dos estados do Pará, Paraíba, Piauí, Maranhão, Rio Grande do Norte e Ceará.
Publicado 11/06/2015 11:03 | Editado 04/03/2020 16:25
Na aula inaugural, Benedito Bizerril, vice-presidente do PCdoB-CE, recebeu os comunistas e destacou a importância da realização do curso no momento difícil pelo qual o país vive. “Estamos em plena crise, com o avanço das forças da direita e debate crescente marcado pela luta de ideias. Por isso, para enfrentarmos esta batalha, precisamos estar preparados e municiados, com consciência e conhecimento. Só assim, poderemos intervir nessa realidade, garantindo o aprofundamento da democracia”, defendeu.
Membro do Comitê Central do PCdoB e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado, Inácio Arruda também participou da aula inaugural do curso. Em sua intervenção, o ex-senador fez uma breve contextualização do momento pelo qual o país vive. “Esta luta que estamos enfrentando se mostra dura. Trata-se de um movimento que se acumulou em logo período da história. Desde 1930, ainda com Getúlio Vargas, há no país o desejo forte de construir uma nação mais preparada para crescer em qualidade de vida. Com Lula e Dilma foram dados grandes passos, mas a cobrança também aumentou”, avaliou.
Segundo Inácio, além da cobrança de uma parcela da população que não tinha acesso a uma vida melhor e passou a ter, o atual governo também enfrenta outros adversários. “A elite brasileira é de tradição, profundamente conservadora, oligárquica e forte. Por isso, a batalha para romper o cerco por ela imposta tem sido tão difícil”, considerou.
Inácio reforçou que os ataques que o Governo tem sofrido são “sistemáticos”. “Desde Getúlio, não conseguimos estruturar no Brasil um caminho que consolide uma forte unidade popular, que garanta este desenvolvimento. Por isso, a direita tem criado fôlego e passou a atacar”.
E este movimento, reforçou, segue não só no Brasil, mas em toda a América Latina. “Vivenciamos governos progressistas na Bolívia, Venezuela, Equador, Chile, Uruguai e Brasil. Lá, assim como aqui, todos os governos sofrem uma resistência brutal imposta pela elite. Esses governos, mesmo oferecendo melhores condições de vida para o povo, são atacados e obrigados a dar passos firmes. E, nesse enfrentamento político, têm que conter a caminhada e fortalecer a base ampla que os sustentam”, avaliou Inácio.
Segundo o secretário, esses ataques sofridos pelo governo brasileiro têm ainda mais desdobramentos. “Colocar de pé uma nação continental como o Brasil, segurar o impacto que os ataques trazem para a economia de toda a região, é um desafio enorme. A pressão daqui é ainda maior do que nos demais países do entorno, pois o país exerce papel destacado junto aos demais governos”, considerou.
Diante de tantos percalços, Inácio Arruda destacou a importância de manter o foco no desenvolvimento do país. “Este é o desafio da batalha política: no meio do nevoeiro, conseguir levar o barco. Saber onde juntar forças para preservar conquistas democráticas e abrir caminho para encaminhar o país adiante. É preciso também reforçar o diálogo com a sociedade, porque essa massa pode ser conduzida pela direita, que a insufla diariamente contra o governo. É preciso ainda ter a capacidade de compreender a batalha política e aliar elementos para continuar seguido o caminho do desenvolvimento. E isso o PCdoB tem feito: trabalhamos de forma positiva, mesmo com os desgastes que sofremos, defendendo o governo do campo popular. Estamos fazendo política com muita sabedoria, podendo sair ainda mais fortalecidos dessa fase tão difícil”, encerrou.
Carlos Augusto Diógenes, o Patinhas, também foi palestrante na aula inaugural do curso de formação. O coordenador do Departamento Nacional de Quadros do PCdoB falou, à luz da 10ª Conferência do Partido, realizada no final de maio deste ano, em São Paulo. O encontro nacional do PCdoB teve como pauta três pontos centrais: o cenário político atual no mundo e no Brasil, a real situação organizativa do Partido e ainda a sucessão presidencial da legenda. “Foi um processo coroado de êxito, tanto nos debates realizados nos estados quanto na plenária nacional”, avaliou.
Segundo Patinhas, o momento exige uma compreensão do jogo político que existe não só no Brasil, mas no mundo. “Além da crise global do capitalismo, enfrentamos também um processo de transição do poder geopolítico”, ratificou.
Sobre a crise, o dirigente comunista destacou que ela vem com grande prolongamento, já que eclodiu no final de 2007. “Esta situação coloca em xeque a prosperidade das nações e acarreta o aumento das desigualdades sociais, o desemprego, a falta de moradia, e a estagnação que ainda se mantém”. Além disso, acrescenta Patinhas, o imperialismo unipolar dos Estados Unidos, que busca comandar o mundo, tem o “poder contestado tanto do ponto de vista econômico quanto político. E o mundo tende para uma mudança de poder, para a multipolaridade tendo como centro o BRICS, que surge como bloco geopolítico importante”, considerou.
Diante deste cenário internacional, o Brasil vive uma “singularidade política”. “Ganhamos uma eleição suada, mas quem está na ofensiva é a direita. Recuamos na nossa ação”, ponderou. Diante disso, Patinhas reforça que o PCdoB tem feito uma análise concreta da situação. “Isso é Leninismo. Não podemos traçar a política levando em consideração outra correlação de forças. Temos que lidar com o que está posto: uma situação de instabilidade, ameaças e incertezas”, reconheceu.
O membro do Comitê Central destacou que o governo Dilma tem enfrentado um consórcio oposicionista, que agrega partidos de direita, mídia, sistema financeiro, e núcleos da Polícia Federal, do Ministério Público e até do poder judiciário. “O caso da Operação Lava Jato é exemplo disso. As investigações estão caminhando, os culpados devem ser punidos, mas há um ano, diariamente, a mídia tenta agregar os desvios da Petrobras ao PT. Em situação de crise, não podemos tapar o sol com a peneira, mas encarar os problemas com visão ampla”, alertou.
O dirigente comunista questionou como se explica, diante dos avanços no ponto de vista democrático e social, que o país tenha chegado a esta situação. “Tanto devido aos fatores externos, como a crise do capitalismo e a interferência norte americana, quanto aos internos, com o ressurgimento de uma oposição articulada e forte”.
Patinhas destacou mudanças nos primeiro e segundo governos de Dilma. “No primeiro, a presidenta já pegou uma nova situação na economia mundial, diferente do vivenciado pelo então presidente Lula. Mesmo assim, ela enfrentou o desemprego, o capital estrangeiro, fortaleceu o sistema de partilha na exploração do pré sal, instalou uma política de fortalecimento do salário mínimo, investiu no programa Minha Casa Minha Vida e manteve uma política no sentido de que a economia garantisse uma melhor distribuição de renda, apostando em projetos estruturantes. A culpa não foi só dela. A crise continuou e não se diluiu conforme imaginamos”.
Carlos Augusto também destacou que, no segundo governo, Dilma vem enfrentado grave crise política, econômica, inclusive com manifestações de rua. “Na regra do jogo atual, quem dá a carta é o rentismo. Eles causaram a crise e utilizaram-se do Estado para resolver seus problemas. Além disso, a presidenta está tendo que lidar com o desequilíbrio real das contas públicas no Brasil. O Estado foi até onde poderia ir. Dilma deve cuidar das contas públicas para manter o equilíbrio fiscal levando em conta a crise política. Aí vieram a seca no Sudeste, o aumento da tarifa de energia e o embate com a mídia, que tenta demonizar a esquerda e os movimentos sociais”, enumerou.
Do ponto de vista político, Patinhas reforçou que ainda no 13º Congresso do Partido, o PCdoB defendia reeleger Dilma “para avançar nas mudanças”. “Mas, ao contrário, a agenda que vemos é a do retrocesso. Por isso agora defendemos a construção de uma frente ampla, tendo como centro a democracia. Faz parte da nossa bandeira de atuação a defesa intransigente do governo Dilma, da Petrobras e da retomada do crescimento da economia nacional. Sabemos que este problema econômico não é só nosso. Segue o desafio de crescer com o mundo em crise”.
Para Patinhas, o governo já dá sinais de uma retomada de uma agenda positiva. Ele citou a mudança do núcleo do governo, com a inclusão de novas lideranças, o programa Pátria Educadora, mais investimento na infraestrutura, o recém anunciado Programa de Investimento em Logística, a confirmação da parceria com a China, o fortalecimento do Plano Safra voltado à agricultura familiar e o Plano Nacional de Exportação. “Dilma busca retomar os investimentos, tentando manter uma certa estabilidade”, considerou.
Sobre as recentes e polêmicas votações no Congresso, como o Projeto de Lei sobre as Terceirizações, as Medidas Provisórias 664 e 665, o ajuste fiscal e ainda a reforma política, Patinhas reforçou que a atual composição do parlamento não é favorável. “A direita se aproveita dessas questões para enfraquecer o governo usando os pontos negativos do próprio governo para manobrar e pressionar a opinião pública. É nosso papel também manter o arco de apoio a Dilma e instruir a população sobre o que tem acontecido nos bastidores da política”.
Carlos Augusto ratifica a posição crítica que o PCdoB tem em relação a essas questões, mas sempre com a visão de fortalecer o governo democrático de Dilma. “Ela é uma líder. Temos dado um voto de confiança, pois acreditamos que a presidenta irá retomar o crescimento do país. Dilma tem convicção de um novo tempo, é uma democrata, tem ideia profunda de nação e soberania nacional”, enfatizou.
Sobre a postura do PCdoB diante destes temas espinhosos, Patinhas reforçou a trajetória política do partido mais antigo do país. “Temos que extrair lições dessa batalha. O que está em jogo são questões estratégicas para nós, brasileiros. Não somos um partido de esquerda qualquer. Temos projeto de nação, com convicção de que o país pode ser uma grande potência. Examinamos nosso objetivo estratégico e levamos em consideração nossa história quase secular de heroísmo, acertos e bandeiras do nosso povo, mas reconhecemos que cometemos alguns erros e extraímos lições para ter essa visão estratégica”.
O dirigente comunista destacou ainda os avanços partidários conquistados na frente institucional, com a eleição de Flavio Dino para o Governo do Maranhão, e o fortalecimento dos movimentos sociais, com o protagonismo da CTB e da UNE em várias bandeiras.
Patinhas encerrou sua intervenção destacando a importância de os comunistas estarem preparados para os embates. “Este curso é apenas um estimulo para que a militância continue o estudo individual, incentivem o esforço de organizar mais cursos nos Estados visando entender a complexidade da luta de classes. Precisamos de um partido comunista forte e influente em todos os setores da sociedade e nós somos as peças de construção do PCdoB”.
Ainda segundo o dirigente, a recente mudança da presidência do Partido é bastante simbólica. “Renato Rabelo presidiu o PCdoB por 13 anos, substituindo brilhantemente João Amazonas. Agora Luciana Santos assume a nossa legenda. Mulher, nordestina, negra e jovem, ela representa a confiança que temos nessa nova geração de comunistas. Prestes a completar 100 anos de história, estamos renovados. Somos um Partido de futuro”, enalteceu.
O curso prossegue até o próximo domingo (14), com aulas de Filosofia, Estado e Classes, Emancipação da Mulher, Questão Racial, Economia Política e Desenvolvimento, Socialismo e Questões de Partido.
De Fortaleza,
Carolina Campos