Especialista reclama de racismo no atendimento à mulher negra
A mortalidade materna entre mulheres negras por causas variadas está aumentando no Brasil. O dado revela um fosso que separa as mulheres pretas e pardas das brancas, independentemente da classe social. Esse dado é reconhecido pelo Ministério da Saúde e foi tema de audiência pública da subcomissão especial que avalia as políticas de assistência social e saúde da população negra.
Publicado 10/06/2015 10:22
O evento, na tarde desta terça-feira (9), na Câmara dos Deputados, reuniu representantes de ONGs de mulheres negras e do governo, com representantes da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e do Ministério da Saúde.
Segundo a coordenadora-geral da Saúde das Mulheres do Ministério da Saúde, Maria Esther de Albuquerque Vilela, além dos fatores clínicos e socioeconômicos, outro motivo é o racismo institucional.
Maria Esther citou estudos que provam que profissionais consideram as mulheres negras mais resistentes à dor. E que 92% das mortes são evitáveis, provocadas pela demora no atendimento.
“Elas são menos tocadas do que uma mulher branca, elas são negligenciadas. Tem toda uma questão de racismo institucional”, alertou ela, acrescentando que “temos trabalhado para mudar a cultura das instituições para que a gente possa diminuir o risco de morte materna de mulheres negras."
Segundo Maria Esther, uma das estratégias do governo é a Rede Cegonha, lançada em 2011, que busca incentivar o parto normal humanizado e intensificar a assistência integral à saúde de mulheres e crianças, desde o pré-natal até o segundo ano de vida do filho e que atende 2,6 milhões de gestantes.
Negligência
Na opinião da representante da ONG Criola, Jurema Werneck, nem a falta de acesso ao pré-natal é mais “desculpa”. "A maioria das mulheres negras no Brasil hoje em dia já faz todas as consultas necessárias. No Brasil ela passa pelas sete consultas. As intercorrências vão aparecendo e os profissionais que as acompanham não usam toda a técnica necessária.”
Jurema enfatizou que se a mulher branca consegue atendimento na mesma condição e vai para o parto com desfecho melhor com os mesmos profissionais, no mesmo sistema de saúde, significa que a negligência é motivada por alguma razão. “O racismo é de fato essa névoa que faz com que ele (o profissional) acabe sendo negligente, não toque a mulher, não examine o quanto deve."
Segundo dados da SPM, há 62 mortes maternas por 100 mil partos no Brasil. A maior causa de mortalidade materna no Brasil é a hipertensão, responsável por 20% das mortes, depois vêm casos de hemorragia, com 12%, infecção puerperal com 7% e aborto, que provoca 5% das mortes.
Mas o número de mortes maternas provocadas por intercorrências vem diminuindo entre as mulheres brancas e aumentando entre as negras. De 2000 a 2012 as mortes por hemorragia entre mulheres brancas caíram de 141 casos por 100 mil partos para 93 casos. Entre mulheres negras aumentou de 190 para 202. Por aborto, a morte de mulheres brancas caiu de 39 para 15 por 100 mil partos. Entre negras, aumentou de 34 pra 51.