Discurso da presidenta do PCdoB Luciana Santos

Eleita para presidir o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Luciana Santos, fez seu primeiro discurso já como presidenta da legenda, no ato de encerramento da 10ª Conferência Nacional do partido, no fim da manhã deste domingo (31), no teatro da Unip, na capitla paulista.

- Foto: Tom Dib

Abaixo à integra do discurso da presidenta Luciana Santos

É com grande alegria, e também grande emoção, que me dirijo a esta plenária no encerramento desta 10ª Conferência do PCdoB.

Desde sua fundação, em 1922, e ao longo de 93 anos de história, a marca da ousadia, da vanguarda e da combatividade acompanha nosso partido. O PCdoB viveu 60 anos na clandestinidade; combateu ditaduras; defendeu exemplarmente o patrimônio nacional na histórica campanha “o petróleo é nosso”; lutou bravamente contra o fascismo em apoio aos pracinhas na , mobilizou-se pelo fim da Guerra da Coréia e do Vietnã; e na Guerrilha do Araguaia pela liberdade e os direitos do povo; resistiu à perseguição brutal nos duros anos da ditadura militar que começou em 1964 e na Guerrilha do Araguaia pela liberdade e pelos direitos do povo.

Nós nos mantivemos firmes ao longo desses quase cem anos, camaradas, porque nos alimentamos do sentimento de justiça e da esperança de ver um mundo mais justo e solidário. Nos alimentamos do desejo e da determinação em construir o socialismo!

A luta pelo Socialismo, que está em nosso DNA desde aqueles idos de 1922 em Niterói, deve ser a nossa bússola. Como está consagrado em nosso Programa Partidário, sabemos que o Socialismo vive ainda a sua infância. Deu seus primeiros passos no século passado com a construção da União Soviética a partir da grande revolução socialista de Outubro na Rússia, sob a liderança de Lênin, em 1917.

Mesmo sob circunstâncias adversas o Socialismo conheceu um grande ciclo de edificação e seu legado é precioso, apesar da derrota da experiência pioneira da União Soviética. O socialismo prossegue no cenário mundial a marcha da humanidade por conquistas civilizatórias em vários países, rejuvenescido pelas lições da história, e pelas particularidades construídas em cada país, como por exemplo, na China, Vietnã e Cuba. É preciso observar também a realidade de vários países em que jovens experiências proclamam a determinação de realizar a transição do capitalismo para o socialismo na América Latina, além da experiência da África do Sul.

No Brasil o programa do PCdoB não trata da construção geral do socialismo, mas da transição preliminar do capitalismo para o socialismo. Traça o caminho, na realidade atual, para reunir condições políticas e orgânicas para essa transição.

Nosso Partido luta pela construção de uma nova formação política, econômica e social, convencidos de que somente o socialismo é capaz de sustentar a soberania da Nação e a valorização do trabalho, no esforço comum de edificação de um país soberano, democrático, solidário. Nosso partido que no dizer de Pablo Neruda nos permitiu “ ver a claridade do mundo e a possibilidade da alegria”. Que nos faz “indestrutíveis porque com ele não terminamos em nós mesmos”, é um bem precioso!

Apenas o socialismo, camaradas, é capaz de se contrapor aos valores inspirados pelo capitalismo. Nesse momento em que a disseminação do ódio, da intolerância e de preconceitos das mais diversas origens se manifesta com vigor na nossa sociedade é preciso termos claro que só o socialismo é capaz de fazer contraposição ao individualismo e a todas as mazelas atreladas à lógica do lucro e da busca desenfreada pelo capital. Gosto de ouvir, nos movimentos mais urbanos, a máxima – “existe amor”- uma expressão comum na luta em defesa das cidades e de alguns movimentos, porque identifico ali os valores do socialismo. Existe amor no socialismo. E existe amor no PCdoB, que tem em sua história gerações de militantes que se dedicam a uma causa; alguns destes inclusive tombaram nas trincheiras de batalha, entregando sua vida pelo sonho de democracia e justiça.

Muitos homens e mulheres deram sua contribuição através dos tempos. Lembraremos, sempre, o papel de João Amazonas, que entre tantas lições nos exultou a nos manter firme na luta. “Verbo por verbo – no presente ou no futuro -, lutar ainda é o melhor. Lutar para transformar a nossa pátria na terra da liberdade, da cultura, da fartura, da justiça social, da solidariedade humana. Terra de homens livres, terra da revolução libertadora”, nos ensinou nosso querido Amazonas.

E é utilizando a palavra LUTA, camaradas, que quero iniciar aqui uma saudação especial ao nosso bravo, incansável e aguerrido lutador Renato Rabelo.

Nosso líder, para além do que já dissemos aqui nesses dias de conferência, é um líder respeitado no campo político progressista, como já disse aqui na presença da Presidenta Dilma e que foi reafirmado por ela, aqui mesmo nessa tribuna. Suas opiniões são ouvidas e consideradas; no Partido, fruto de talento e trabalho, e em decorrência também de suas características inconfundíveis, tais como, ter paciência para ouvir e levar em conta o que ouve; a firmeza de decidir e a determinação de tornar realidade o que foi decidido; a sagacidade de perceber e valorizar as ideias novas… por tudo isso, se tornou uma liderança inconteste nas fileiras comunistas; conquistou não apenas liderança, mas o apreço e o carinho de todos.

No seu Informe político, o camarada Renato nos disse do desafio que se apresentou diante dele, quando, em 2001, assumiu a presidência do Partido, sucedendo João Amazonas, essa histórica liderança dos comunistas brasileiros. Renato tinha pela frente a tarefa de sustentar o ciclo de crescimento e florescimento que o PCdoB passou a viver já depois da Anistia, em 1979, e, sobretudo, a partir da redemocratização e da conquista da sua legalidade em 1985.

Renato, meu camarada querido, posso dizer aqui respaldada por cada um dos militantes do PCdoB, pode ter certeza do dever cumprido!

Há uma frase de Clarice Lispector que diz, “palavras até me conquistam temporariamente. Mas atitudes me ganham para sempre”. Tuas atitudes demonstraram a essência, a matéria de que és constituído.

Recebemos de tuas mãos, um Partido Comunista forte e influente, contemporâneo – ressalto aqui que para esta conferência realizamos cerca de 506 atividades desde reuniões de base a plenárias, mobilizando quase 15 mil filiados e militantes, com a participação de 3.398 destes nas sessões estaduais que deliberaram sobre o documento desta conferência e com a eleição de 321 delegados a este momento. Esse Partido que recebemos de ti Renato, dá, portanto, mais uma demonstração de sua força, um partido que é dotado de um Programa Socialista que tem se revelado uma orientação segura neste mar revolto do Século 21, sacudido pela terceira grande crise do capitalismo; um Programa certeiro ao curso do fértil ciclo progressista iniciado no nosso país em 2003. Programa que renovou e enriqueceu nosso pensamento estratégico e tático.

Recebemos um partido que constrói, zela, defende sua unidade de ação, pois sabe que ela é uma das principais condições de sua força. Unidade construída em rica democracia interna, de debate, de pesquisa, de liberdade de opinião. O nosso Estatuto é eficaz porque foi escrito a partir da prática concreta de edificação do PCdoB neste período de legalidade que já soma 30 anos. Ele firma a identidade comunista, identidade de classe do Partido, nossa gema permanente, da qual não abrimos mão, e a associa com a renovação, sem a qual o Partido fenece.

Verdade também, somos um Partido que acerta e erra, que muito mais acerta do que erra, mas sobretudo, uma legenda que sabe extrair lições de sua prática transformadora. Aliás, quero registrar que em 13 anos de presidência, diga-se em mares nunca dantes navegados, o Partido sob a presidência de Renato não cometeu nenhum erro grave, que comprometesse nosso processo de acumulação de forças. E este é um feito extraordinário.

O Partido hoje tem mais de 300 mil filiados, mais de 100 mil militantes, está organizado nas 27 unidades da Federação, presente em mais de 2 mil municípios – Já disse antes, torno a dizer: isso sim deveria ser critério para cláusula de barreiras! O que mantém o Partido, esse organismo vivo, em atividade permanente, em estudo, em movimento, em luta são exatamente nossos quadros. Por isto, a importância de formá-los sempre, de criar condições para que sejam promovidos a responsabilidades cada vez mais complexas, de indicá-los para o papeis adequados aos seus talentos. Essas são questões presentes na nossa valiosa política de quadros.

Camaradas,
Se Renato, em 2001, se sentiu diante do grande desafio de suceder a João Amazonas e de dar prosseguimento ao percurso de expansão de nosso Partido, imaginem eu, nesta hora, como me sinto à frente de uma grande responsabilidade.

Tenho convicção, no entanto, que as questões do desafio da luta política ou da formulação política, encontram resposta no nosso DNA, no acúmulo político que conquistamos coletivamente ao longo dos anos e que tão bem está expresso no nosso programa, em seu caráter antiimperialista, anti-rentista, que aponta a transição do capitalismo ao socialismo através de seis reformas estruturantes: a reforma política ampla, reforma tributária, da educação, dos meios de comunicação, reforma agrária e a reforma urbana.

O nosso desafio é aplicar essa estratégia à tática, à nossa luta cotidiana. Se o socialismo é o rumo, o caminho é a acumulação de forças, e acumular forças significa também ter a arte e a capacidade política de aplicar isso na realidade concreta.

Criatividade e audácia, camaradas. Essas são palavras que gosto muito. Nosso programa também é um programa audacioso e nós temos que ter a capacidade criativa de aplicá-lo a tal da realidade concreta.

Mas, estou segura, estou convicta, de que a partir do legado da presidência de Renato Rabelo, contando com apoio que sei que terei de todos vocês, da nossa militância, dos nossos quadros – da velha à jovem guarda –, seguiremos avante. E destaco, como grande trunfo não apenas da nova presidência, mas de todo partido, a continuidade de Renato Rabelo no nosso Comitê Central, na nossa Comissão Política, nos oferecendo ideias, nos dando apoio e realizando trabalhos que de comum acordo venhamos estabelecer.

Vamos nos guiar pelo nosso Programa Socialista, pelas lições da trajetória de mais de 90 anos do PCdoB, e saberemos, seguindo o exemplo de Renato, apoiados na inteligência do coletivo, atualizar e renovar nossa orientação política sempre que as mudanças ocorridas na realidade exigirem.

Unidos, coesos, conduzidos por uma política acertada, justa, manteremos o PCdoB na rota do crescimento. Nossa histórica legenda, construída por várias gerações de comunistas, das quais se destacam expoentes como Astrojildo Pereira, Luiz Carlos Prestes e João Amazonas, marcha para o centenário.

Faço a todos nós um convite-convocação. Mês a mês, ano a ano, vamos qualificá-lo cada vez mais para os desafios da contemporaneidade, torná-lo cada vez maior e mais forte, mais enraizado nas lutas dos trabalhadores e do povo, trilhando o caminho pelo desenvolvimento do Brasil rumo à transição do capitalismo para o socialismo.

Flávio Dino disse aqui, no ato político que a esperança é uma das substâncias da felicidade, eu completaria: a outra substância da felicidade é a luta pelo socialismo. Vamos juntos, juntas, construir a felicidade para o nosso povo, para o nosso Brasil.

Obrigada Renato pela confiança que deposita em mim para prosseguir com esta trajetória marcada por êxitos e abnegação. Você é um amigo querido, um camarada estimado que aprendi a admirar, a respeitar e a ter como exemplo e como referencial.

Receba o carinho, o agradecimento e as homenagens de todos os comunistas do Brasil!

Firme na luta!
Viva o Partido Comunista do Brasil!