Carina Vitral, a militante comunista rumo à presidência da UNE

Este ano a UNE vai realizar o maior congresso dos últimos tempos. Quase todas as universidades brasileiras foram mobilizadas e mais de 2 milhões de estudantes elegeram, com voto em urna, os 7 mil delegados que participarão do Conune. A UJS já tem a representante que irá concorrer, pela chapa Abre Alas, à presidência da entidade. Trata-se da atual presidenta da UEE-SP, Carina Vitral, que conversou com exclusividade com o Portal Vermelho e contou sobre sua expectativa com este desafio.

Carina Vitral - UJS

Apesar da pouca idade, apenas 26 anos, Carina já carrega uma bagagem política expressiva. Estudante de Economia da PUC-SP, a presidenta da União Estadual dos Estudantes de SP (UEE-SP) se prepara agora para receber um novo desafio: assumir a presidência da UNE, a maior e mais representativa entidade estudantil do país. A escolha é feita durante a plenária final do Conune, que será realizado em Goiânia de 3 a 7 de junho.

Comunista convicta, Carina é o quadro mais jovem do Comitê Central (CC) do Partido Comunista do Brasil e vê com bons olhos essa confiança que o Partido deposita em sua juventude. “Eu tenho a honra de ser do CC e isso mostra que o PCdoB é um partido que empodera seus jovens e suas mulheres”, afirma.

Ainda na adolescência, Carina já se interessava por política e atuava em entidades estudantis e assistenciais de sua cidade no litoral paulista. Foi por meio desta militância que conheceu a UJS e o PCdoB e ingressou no movimento estudantil.


Durante sua militância, Carina sempre esteve à frente da luta por mais direitos para a juventude | FotoUJS

Mas foi preciso uma viagem à Venezuela para ela conhecer os comunistas brasileiros. Durante o Fórum Social Mundial de 2006 ela entrou em contato com a esquerda do Brasil e de lá pra cá fez da militância uma atividade cotidiana. “Quando eu conheci a luta de classes eu me tornei, de uma militante de esquerda em uma militante comunista. Eu me apaixonei pela UJS e pelo PCdoB devido à convicção política, é essa ousadia que me faz até hoje ter bastante orgulho do meu partido e a minha contribuição na luta pelo socialismo é através dos movimentos sociais, uma das tantas frentes de atuação do PCdoB”.

Carina iniciou o curso de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina e, já neste período assumiu uma grande responsabilidade. Foi a diretora da pasta de Universidades Privadas da UNE durante a gestão do presidente Daniel Iliescu, de 2011 a 2013. “Neste período a minha geração viu o Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidade) ser consolidado, foi uma gestão muito combativa”.

Durante este mandato a jovem comunista adquiriu experiência para cada vez mais longe em suas tarefas no movimento estudantil. Depois de deixar a pasta na UNE assumiu a presidência da UEE-SP, a qual exerce atualmente. Neste meio tempo transferiu o curso para São Paulo e passou a viver na capital paulista.


Carina Vitral e Dilma Rousseff durante a campanha presidencial de 2014 | Foto: Arquivo pessoal 


De fala tranquila e desenvoltura destacada, Carina não parece hesitar diante do desafio que tem a enfrentar, sabe muito bem o que significa ser a voz da juventude brasileira. “A gente sabe que vai precisar de muita mobilização para conquistar um novo ciclo de direitos para a juventude, mas também vai precisar de muita sabedoria porque num momento de instabilidade política você não pode jogar água no moinho da direita ou fazer uma entidade poderosa como a UNE ser instrumentalizada para servir a interesses que não são avançados na sociedade”, destaca.
Atualmente a UNE é presidida pela também comunista Virgínia Barros. Esta será a primeira vez, caso Carina seja eleita, que o cargo será ocupado sucessivamente por duas mulheres.

Reforma política e ampliação da Educação Pública

O movimento estudantil brasileiro foi protagonista na resistência à ditadura militar e pela redemocratização do país. Também sempre esteve à frente da luta por reformas estruturantes com ideias avançadas. “Imagine se na época da ditadura militar quem estivesse à frente da UNE fossem pessoas de direita e a entidade tivesse apoiado o golpe dos militares? Ou se agora, se não fosse a esquerda, se não fosse uma política acertada que estivesse à frente da entidade, a UNE, uma organização tão histórica no Brasil poderia estar apoiando a ideia de golpe. É um desafio muito grande porque a UNE acaba sendo a porta-voz da juventude brasileira e é importantíssimo que ela se mantenha com ideias avançadas”, explica Carina.

Virgínia Barros, atual presidenta da UNE, Dilma, Barbara Melo, presidenta da Ubes, Tamara Naís, presidenta da ANPG, Carina Vitral, presidenta da UEE-SP e Angela Meyer, presidenta da Upes 

Apesar de ter como principal bandeira a reforma universitária, a UNE nunca se esquivou do debate político e social como um todo, sempre esteve presente em lutas históricas importantes, como é o caso da campanha “O petróleo é nosso”, ou as “Diretas Já!”. Atualmente a UNE engrossa as fileiras em defesa de uma reforma política democrática. Junto a outras entidades, compõe a Coalizão Pela Reforma Política, uma lei de iniciativa popular que defende, entre outras pautas, o fim do financiamento privado de campanha. O congresso nacional não é só conservador, ele tem, em si representantes de interesses econômicos muito específicos. Ao invés de ser a Casa do Povo, o espelho do povo e das ideias avançadas, eles [parlamentares] são um espelho de interesses econômicos bastantes alheios ao próprio povo, então, a UNE vai ter no próximo período esta luta”, explica.
 

Carina acredita que para mudar a correlação de forças é preciso fortalecer a unidade dos movimentos sociais e defende a mobilização popular, com muita passeata nas ruas e nas universidades. “O PCdoB lidera uma iniciativa para a formação de uma frente ampla dos partidos de esquerda e a UNE vai ter um papel decisivo nisso porque hoje a entidade já tem na composição de sua diretoria uma ampla expressão de forças políticas reais da sociedade. Eu penso que a entidade pode ser a representante juvenil dessa experiência unitária dos movimentos sociais”.


Carina Vitral comemorou o aniversário do ex-presidente Lula em 2014 


De acordo com Carina, nos desafios da próxima gestão da UNE também estão incluídas as lutas em defesa da Petrobras e da indústria nacional, da democracia e da soberania do voto popular que elegeu a presidenta Dilma. Além disso, a entidade vai fortalecer a luta pela reforma universitária. “Vamos defender a consolidação da expansão das universidades federais, um maior investimento na assistência estudantil porque o perfil do universitário mudou no último período e uma ampliação acadêmica. É verdade que a gente ampliou e democratizou o acesso, mas a gente precisa repensar a universidade como um todo”.

Carina afirma que muito do que se avançou na democratização do acesso à universidade se deu por meio de vagas em universidades privadas, por isso acredita ser necessário haver uma regulação maior nessas instituições. A dirigente estudantil defende também uma maior fiscalização com relação ao custo de tarifas e mensalidades que em muitas universidades podem ser consideradas abusivas.

A questão da mercantilização da educação não é um problema só no Brasil, vários outros países da América Latina passam por problemas até mais graves que aqui, como é o caso do Chile, onde não existe faculdade pública. A UNE está alinhada a outras entidades estudantis da América Latina une esforços nesta luta comum com os estudantes dos países vizinhos.