Carina Vitral, a militante comunista rumo à presidência da UNE
Este ano a UNE vai realizar o maior congresso dos últimos tempos. Quase todas as universidades brasileiras foram mobilizadas e mais de 2 milhões de estudantes elegeram, com voto em urna, os 7 mil delegados que participarão do Conune. A UJS já tem a representante que irá concorrer, pela chapa Abre Alas, à presidência da entidade. Trata-se da atual presidenta da UEE-SP, Carina Vitral, que conversou com exclusividade com o Portal Vermelho e contou sobre sua expectativa com este desafio.
Publicado 26/05/2015 11:27
Apesar da pouca idade, apenas 26 anos, Carina já carrega uma bagagem política expressiva. Estudante de Economia da PUC-SP, a presidenta da União Estadual dos Estudantes de SP (UEE-SP) se prepara agora para receber um novo desafio: assumir a presidência da UNE, a maior e mais representativa entidade estudantil do país. A escolha é feita durante a plenária final do Conune, que será realizado em Goiânia de 3 a 7 de junho.
Comunista convicta, Carina é o quadro mais jovem do Comitê Central (CC) do Partido Comunista do Brasil e vê com bons olhos essa confiança que o Partido deposita em sua juventude. “Eu tenho a honra de ser do CC e isso mostra que o PCdoB é um partido que empodera seus jovens e suas mulheres”, afirma.
Ainda na adolescência, Carina já se interessava por política e atuava em entidades estudantis e assistenciais de sua cidade no litoral paulista. Foi por meio desta militância que conheceu a UJS e o PCdoB e ingressou no movimento estudantil.
Durante sua militância, Carina sempre esteve à frente da luta por mais direitos para a juventude | Foto: UJS
Mas foi preciso uma viagem à Venezuela para ela conhecer os comunistas brasileiros. Durante o Fórum Social Mundial de 2006 ela entrou em contato com a esquerda do Brasil e de lá pra cá fez da militância uma atividade cotidiana. “Quando eu conheci a luta de classes eu me tornei, de uma militante de esquerda em uma militante comunista. Eu me apaixonei pela UJS e pelo PCdoB devido à convicção política, é essa ousadia que me faz até hoje ter bastante orgulho do meu partido e a minha contribuição na luta pelo socialismo é através dos movimentos sociais, uma das tantas frentes de atuação do PCdoB”.
Carina iniciou o curso de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina e, já neste período assumiu uma grande responsabilidade. Foi a diretora da pasta de Universidades Privadas da UNE durante a gestão do presidente Daniel Iliescu, de 2011 a 2013. “Neste período a minha geração viu o Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidade) ser consolidado, foi uma gestão muito combativa”.
Durante este mandato a jovem comunista adquiriu experiência para cada vez mais longe em suas tarefas no movimento estudantil. Depois de deixar a pasta na UNE assumiu a presidência da UEE-SP, a qual exerce atualmente. Neste meio tempo transferiu o curso para São Paulo e passou a viver na capital paulista.
Carina Vitral e Dilma Rousseff durante a campanha presidencial de 2014 | Foto: Arquivo pessoal
De fala tranquila e desenvoltura destacada, Carina não parece hesitar diante do desafio que tem a enfrentar, sabe muito bem o que significa ser a voz da juventude brasileira. “A gente sabe que vai precisar de muita mobilização para conquistar um novo ciclo de direitos para a juventude, mas também vai precisar de muita sabedoria porque num momento de instabilidade política você não pode jogar água no moinho da direita ou fazer uma entidade poderosa como a UNE ser instrumentalizada para servir a interesses que não são avançados na sociedade”, destaca.
Atualmente a UNE é presidida pela também comunista Virgínia Barros. Esta será a primeira vez, caso Carina seja eleita, que o cargo será ocupado sucessivamente por duas mulheres.
Reforma política e ampliação da Educação Pública
O movimento estudantil brasileiro foi protagonista na resistência à ditadura militar e pela redemocratização do país. Também sempre esteve à frente da luta por reformas estruturantes com ideias avançadas. “Imagine se na época da ditadura militar quem estivesse à frente da UNE fossem pessoas de direita e a entidade tivesse apoiado o golpe dos militares? Ou se agora, se não fosse a esquerda, se não fosse uma política acertada que estivesse à frente da entidade, a UNE, uma organização tão histórica no Brasil poderia estar apoiando a ideia de golpe. É um desafio muito grande porque a UNE acaba sendo a porta-voz da juventude brasileira e é importantíssimo que ela se mantenha com ideias avançadas”, explica Carina.
Carina acredita que para mudar a correlação de forças é preciso fortalecer a unidade dos movimentos sociais e defende a mobilização popular, com muita passeata nas ruas e nas universidades. “O PCdoB lidera uma iniciativa para a formação de uma frente ampla dos partidos de esquerda e a UNE vai ter um papel decisivo nisso porque hoje a entidade já tem na composição de sua diretoria uma ampla expressão de forças políticas reais da sociedade. Eu penso que a entidade pode ser a representante juvenil dessa experiência unitária dos movimentos sociais”.
Carina Vitral comemorou o aniversário do ex-presidente Lula em 2014
De acordo com Carina, nos desafios da próxima gestão da UNE também estão incluídas as lutas em defesa da Petrobras e da indústria nacional, da democracia e da soberania do voto popular que elegeu a presidenta Dilma. Além disso, a entidade vai fortalecer a luta pela reforma universitária. “Vamos defender a consolidação da expansão das universidades federais, um maior investimento na assistência estudantil porque o perfil do universitário mudou no último período e uma ampliação acadêmica. É verdade que a gente ampliou e democratizou o acesso, mas a gente precisa repensar a universidade como um todo”.
Carina afirma que muito do que se avançou na democratização do acesso à universidade se deu por meio de vagas em universidades privadas, por isso acredita ser necessário haver uma regulação maior nessas instituições. A dirigente estudantil defende também uma maior fiscalização com relação ao custo de tarifas e mensalidades que em muitas universidades podem ser consideradas abusivas.
A questão da mercantilização da educação não é um problema só no Brasil, vários outros países da América Latina passam por problemas até mais graves que aqui, como é o caso do Chile, onde não existe faculdade pública. A UNE está alinhada a outras entidades estudantis da América Latina une esforços nesta luta comum com os estudantes dos países vizinhos.