Será uma grande honra liderar o PCdoB, afirma Luciana Santos
“Sinto-me muito honrada em assumir a liderança do nosso Partido. E ao mesmo tempo com um grande senso de responsabilidade dos desafios que teremos pela frente”, declarou a vice-presidenta do PCdoB, Luciana Santos, em entrevista ao Portal Vermelho, ao falar sobre sua indicação à Presidência do Partido e sobre os desafios do PCdoB na luta política em curso.
Por Joanne Mota
Publicado 24/05/2015 12:15
Durante conversa nesta tarde de sábado (23), Luciana Santos, que também é deputada federal pelo PCdoB de Pernambuco, falou sobre a conjuntura política, a onda conservadora e golpista e sobre o posicionamento do Partido na defesa das reformas e da democracia.
“Estamos diante de desafios gigantescos, exatamente, por conta da adversidade do momento. Saímos de uma eleição muito polarizada, na qual estava em disputa dois projetos antagônicos. Penso que já ali, no processo eleitoral, já se revelou o que nós iríamos enfrentar, de lá para cá ficou claro que a esquerda consequente, e as demais forças populares e progressistas do país, precisavam tomar as rédeas de uma ofensiva política”, destacou Luciana.
A líder comunista também falou sobre o ciclo de mudanças, mas alertou que sem as reformas não alcançaremos os avanços tão necessários. “Um conjunto de fatores subjetivos mostra que, mesmo com os avanços citados, não conseguimos elevar a consciência social e política do nosso povo. Daí a urgência e necessidade das reformas democráticas e estruturantes. Ou seja, nossa proposta é fazer valer uma agenda nessa direção, que remodele as estruturas e fortaleça o aspecto democrático do Estado brasileiro”.
Acompanhe a entrevista:
Portal Vermelho – O Partido organizou uma série de atividades em razão da Conferência Nacional pelo país que, mais uma vez, revolveu a inteligência coletiva e convocou os comunistas a refletirem com mais afinco a atual conjuntura. Como avalia esse processo em meio a um ambiente de disputa tão complexo?
Luciana Santos – Estamos diante de desafios gigantescos, exatamente, por conta da adversidade do momento. Saímos de uma eleição muito polarizada, na qual estava em disputa dois projetos antagônicos, um contra o Brasil e outro que já buscava analisar a conjuntura para dar conta dos desafios que se avizinhavam. Penso que já ali, no processo eleitoral, já se revelou o que nós iríamos enfrentar, ganhamos um pleito na defensiva política, de lá para cá ficou claro que a esquerda consequente, e as demais forças populares e progressistas do país, precisava tomar as rédeas de uma ofensiva política.
É bom lembrar que vivemos, desde o final de 2014, um terceiro turno, o qual o Partido situou bem, como instável, perigoso e indefinido, exatamente, porque a correlação de forças pende para o lado daqueles que não querem ver esse Brasil de hoje avançar. O PCdoB soube bem analisar essa realidade e se movimentar, desde o primeiro de janeiro de 2015, em direção a uma ofensiva, a qual não tem outro foco, senão, o do avanço das mudanças.
Nossa história é reveladora e comprova que os comunistas, como sempre, não se abatem, pelo contrário, reagem firmes com respostas concretas e balizadas por ideias de avanço e construção de um ambiente sempre mais avançado e de fortalecimento de direitos.
Diante dessa realidade e a partir de um ciclo de debates travados nas trincheiras do Partido, com a realização de uma série de conferências que convoca os comunistas a incidir cada vez mais na luta política em curso, o PCdoB aponta para a necessidade de se construir um frente ampla para reagir a esse momento, uma frente ampla que possui como lastro um projeto de Brasil cada vez mais pujante, que associa entre muitas bandeiras a defensa da democracia e ao mandato da presidenta Dilma; o combate à corrupção; a defesa da Petrobras, pela sua importância estratégica para o nosso desenvolvimento; e, por fim, as reformas democráticas e estruturantes, bandeira antiga do PCdoB e sem as quais não conseguiremos avançar nos ganhos até aqui alcançados; e mais, nossa luta é por uma frente que seja capaz de aglutinar as forças necessárias para barrar a onda impulsionada pelo que chamamos de consórcio golpista que tem como projeto primeiro desmantelar o Estado e retirar direitos. De modo que nossa luta é contra o retrocesso e na defesa de cada conquista até aqui alcançada.
PV – A Senhora falou sobre as reformas democráticas e estruturais. Entendemos que todas possuem importância fundamental, mas, duas, que hoje são consideradas "irmãs siamesas", ganham cada vez mais destaque, a reforma política e a da comunicação. O que elas significam para o enfrentamento dos desafios postos?
LS – O ciclo político iniciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e continuado pela presidenta Dilma Rousseff computaram avanços importantes, que podem ser visto no grande processo de inclusão social, com distribuição de renda; a valorização do salario mínimo; o acesso ao ensino superior agora com universidades mais fortes e estruturadas, seja através do Enem, seja via programas como o ProUni; os projetos de fomento ao trabalhadores e trabalhadoras rurais, que colocaram a agricultura familiar em outro patamar; o aumento importante dos investimentos na Saúde e Educação; um conjunto de ações que incluíram mais de 40 milhões de brasileiros. Além disso, é preciso lembrar que, nestes 13 anos, passos importantes para enfrentar nós no setor produtivo, também foram fundamentais. Porque, em que pese ter mantido uma política macroeconômica de cunho neoliberal, foram realizadas flexões nesse setor que induziram um desenvolvimento com valorização do trabalho e inclusão social, nas quais a Petrobras e o BNDES tiveram papel fundamental.
No entanto, no que diz respeito às reformas, sobretudo, ao Estado democrático, aí, avançamos quase nada. Nós não mexemos um milímetro o marco legal das comunicações, embora na nossa Constituição exista pontos muito avançados sobre essa agenda; estamos em luta por uma reforma política que tenha por centro o fim do financiamento empresarial de campanha, que fortaleça os Partidos e a presença da mulher; também não avançamos em uma reforma tributária mais justa; bem como as demais reformas que defende o PCdoB.
Ou seja, um conjunto de fatores subjetivos mostra que, mesmo com os avanços citados, não conseguimos elevar a consciência social e política do nosso povo. Daí a urgência e necessidade das reformas. Fica claro que o governo tem perdido o debate da comunicação o que torna ainda mais complexa a conjuntura de luta, nossa proposta é fazer valer uma agenda nessa direção, que remodele as estruturas e fortaleça o aspecto democrático do Estado brasileiro. Não há mais como sustentar no Brasil a vanguarda do atraso no que se refere a democratização da comunicação, esse vetor é fundamental para avanço e empoderamento social.
PV – O PCdoB tem como referencial para sua estruturação ideológica e orgânica a atuação um tripé base (a frente de ideias, a frente de massa e a frente institucional) importante para a luta encampada pelo coletivo comunista. Isso é um diferencial do PCdoB, especialmente, quando se enfrenta um conjuntura complexa como a de agora?
LS – Podemos posicionar o PCdoB como um vetor fundamental para a superação do capitalismo em nosso país, seja por sua história de luta, que se confunde a história política do país, seja pelo seu empenho em entender a realidade concreta, pensar sobre ela e propor caminhos para que nossa nação siga um rumo mais avançado. Entendemos a dimensão da responsabilidade para enfrentar os desafios e alcançar esse objetivo estratégico.
A construção do Partido é diretamente proporcional ao movimento de aumento da nossa influência nos diferentes espaços da sociedade e esse movimento se dá de forma a pensar como incidir de forma concreta e impulsionar a transformação da nossa realidade. Daí a importância dessas três frentes para a luta política do PCdoB.
Sem perder de vista nosso Programa Socialista, em nossas trincheiras sempre refletirmos sobre o nosso objetivo estratégico, que não é outro senão a construção do socialismo no Brasil. E entendemos que o caminho é a acumulação de forças para que alcancemos tal objetivo. Para tanto, nossa luta diária é fazer do PCdoB um partido forte e influente. E como realizar tal feito?
Nosso Partido tem como estratégia a construção de uma linha partidária que atue nessas três frentes: de massa, de ideias e institucional. Em um movimento complementar e sustentado, que ao passo que transforme, através de políticas, a realidade, imprima, também, um modo de visão que seja mais crítico, mais humano e que eleve a consciência subjetiva do nosso povo.
Nesse sentido, compreendemos que a 10o Conferência vai no sentido de fortalecer e persistir nessa linha.
PV – Com a sua indicação para a presidência, o Partido já possui um nome para a vice-presidência?
LC – Nessa Conferência iremos apresentar a indicação do camarada Walter Sorrentino para assumir a vice-presidência do nosso Partido. Essa indicação foi discutida na Comissão Política do nome a ser apresentado ao Comitê Central.
Nesses últimos 13 anos, ao lado do nosso presidente Renato Rabelo, Sorrentino teve um papel estratégico na Secretaria de Organização do PCdoB ajudando de forma fundamental na formulação política e construção partidária. Além disso, forjou-se como uma figura de importante participação nas fileiras do Partido durante toda a sua vida política, uma figura que além dos compromissos com a causa revolucionária, formula teoricamente e conhece muito bem o Partido. De modo que estará ao meu lado numa linha de complementariedade nos rumos e lutas do PCdoB.
PV – O Brasil assiste um movimento singular em sua história, o qual computa ganhos e mudanças fundamentais, entre essas mudanças está o papel da mulher na luta na sociedade, que hoje se posiciona em novo patamar. A senhora é nordestina, mãe, parlamentar, é considerada a melhores prefeitas desse país e é indicada para assumir um Partido, cuja a história de luta se confunde com a história política do país. Isso é uma boa resposta ao machismo e a onda conservadora que toma conta do país nesse momento?
LC – Não tenho dúvida disso. Uma das formas de enfrentamento da cultura machista são os símbolos e o PCdoB mais uma vez comprova seu papel na luta social e política ao reafirmar sua batalha contra o que há de mais conservador e retrógrado. Mesmo tendo sido criado em 1922, o nosso Partido confirma seu caráter de renovação e entendimento do processo histórico, um Partido aberto e sempre presente nas lutas mais candentes.
Sinto-me muito honrada em assumir a liderança do nosso Partido. E ao mesmo tempo com um grande senso de responsabilidade dos desafios que teremos pela frente.
PV – Qual mensagem a senhora envia aos comunistas de todo o Brasil, que nesse momento tão complexo sinalizam estar prontos para a luta e não saírem das ruas.
LS – Os comunistas são assim, quando instados a cumprir seu papel de guerreiros da nação de guardiões das conquistas eles estão firmes e em luta. É na adversidade que nossa energia coletiva cresce e mostra sua força. Então, a mensagem que deixo é que sigamos em luta, em unidade e em defesa do Brasil.