Desigualdade diminui na América Latina e aumenta em países ricos
Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado nesta quinta-feira (21) aponta que a desigualdade social diminuiu na maioria dos países da América Latina, em especial no Brasil. Segundo o estudo, a desigualdade de renda atingiu níveis recordes na maioria dos países da OCDE.
Publicado 21/05/2015 11:51
As pessoas que fazem parte do grupo dos 10% mais ricos agora ganham 9,6 vezes a mais na comparação com os 10% mais pobres. Na década de 80 essa relação era de 7 vezes.
"Chegamos a um ponto de inflexão. A desigualdade nos países da OCDE está em seu nível mais alto desde que os registros começaram ", disse o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, no lançamento do relatório em Paris. "A evidência mostra que a alta desigualdade é ruim para o crescimento. O caso para a ação política é tanto econômico como social. Por não abordar a desigualdade, os governos estão cortando o tecido social dos seus países e prejudicando o seu crescimento econômico a longo prazo."
O relatório destaca a necessidade de abordar as condições de trabalho. A crescente proporção de pessoas que trabalham com contratos temporários ou trabalhadores por conta própria é um importante fator de desigualdade. Entre 1995 e 2013, mais de 50% de todos os empregos criados nos países da OCDE caiu nessas categorias. Trabalhadores temporários pouco qualificados, em particular, têm rendimentos muito baixos e mais instáveis do que os trabalhadores permanentes.
Os jovens são ainda mais afetados: 40% estão em trabalho não-padrão e cerca de metade de todos os trabalhadores temporários possuem menos do que 30 anos. Eles também são menos propensos a conseguir trocar um emprego temporário por um permanente e estável.
Outro ponto discutido pelo relatório é que as mulheres ainda ganham cerca de 15% menos que os homens.
Os países que mais registraram desigualdade entre os membros da OCDE foram Turquia, Estados Unidos, Israel, Dinamarca, Eslovênia e Noruega. A desigualdade é ainda maior em grandes economias emergentes, embora tenha caído em muitos destes países, incluindo o Brasil.
À BBC Brasil, Horácio Levy, analista de políticas sociais da organização informaou que "a trajetória da América Latina contrasta com a dos países da OCDE, onde a desigualdade de renda tem aumentado desde o início dos anos 80".
Gini
De acordo com a BBC, levando em conta o coeficiente Gini (indicador que mede a desigualdade de renda e que vai de 0 a 1, sendo que quanto mais alto, maior é a desigualdade), a média dos países da OCDE é de 0,32, nos anos 80 era de 0,29, ou seja, houve um aumento de 11% na desigualdade. No Brasil, o coeficiente Gini passou de 0,6 nos anos 90 para 0,55, uma queda de cerca de 8%.
Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2014 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), com um IDH de 0,744, o Brasil melhorou uma posição em relação a 2012 no ranking de países, aparecendo agora em 79º entre os 187 países e territórios reconhecidos pela ONU.
Este IDH é superior ao IDH médio da América Latina e do Caribe (0,740) e ao IDH calculado para os países de Alto Desenvolvimento Humano (0,735), grupo do qual o Brasil faz parte. Os valores e rankings do IDH são calculados utilizando dados internacionalmente comparáveis para saúde, educação e renda.
Queda da desigualdade na América Latina
Ainda segundo o analista da organização, "houve, a partir do início dos anos 2000, uma queda generalizada da desigualdade na América Latina. Essa redução não ocorreu de forma tão acentuada em outras regiões", e completa: "Dessa vez o bolo cresceu, com o crescimento econômico, e foi melhor dividido. É um fato novo na realidade latino-americana".
"Os gastos na área de saúde e educação também aumentaram, o que teve impacto importante na redução das desigualdades" na América Latina, diz o analista da organização.
Para reduzir a desigualdade e aumentar o crescimento inclusivo, a OCDE diz que os governos devem: promover a igualdade de gênero no emprego; ampliar o acesso a melhores empregos; e incentivar um maior investimento na educação.
Redistribuição de renda via impostos e transferências também é uma forma eficaz de reduzir a desigualdade. Para resolver isso, as políticas públicas têm de assegurar que os indivíduos mais ricos e as empresas multinacionais paguem uma parte maior da carga tributária.