O estranho caso do evento que João Doria organizou para Alckmin
Depois que ficou-se sabendo que o governo de São Paulo pagou 600 mil reais por um contrato de seis meses com a editora de João Doria no ano passado, fazia sentido Alckmin comparecer a um evento do próprio Doria em Nova York? Nenhum conflito de interesses?
Por Kiko Nogueira*, no Diário do Centro do Mundo
Publicado 17/05/2015 15:36
Doria organizou um café da manhã para, em tese, Alckmin apresentar o estado a investidores nacionais e internacionais. Ele é dono do Lide, sigla sob a qual organiza seminários e encontros entre empresários e gente do governo.
Faz um convescote anual famoso na Ilha de Comandatuba, na Bahia, com gincana e farta distribuição de jabás para jornalistas, que escrevem resenham elogiosas na volta à redação. Neste ano, não compareceu ninguém do PT, o que o levou a chamar petistas de “fujões”. Em compesação, Rogério Chequer, do Vem Pra Rua, deu um showzinho.
No dia 13, em NY, Alckmin falou que esperava uma recuperação rápida da economia brasileira. Lembrou que a sociedade é melhor que sua elite política. Poupou o governo federal, em contraste com Fernando Henrique Cardoso, homenageado na véspera como “pessoa do ano” pela Câmara de Comércio dos EUA.
“Paulatinamente fomos voltando à expansão sem freios do setor estatal, ao descaso com as contas públicas, aos projetos megalômanos que já haviam caracterizado e inviabilizado o êxito de alguns governos do passado”, disse FHC, que bateu pesado.
Alckmin estava fazendo seu papel ao vender seu peixe. Mas tudo bem que o organizador do comício é beneficiado há anos por sucessivas administrações tucanas? O dinheiro tucano é apenas para bancar as revistas de Doria que ninguém lê?
João Doria tem uma longa folha de serviços prestados ao PSDB. Apenas no ano passado fez inúmeros jantares para Aécio, com ampla cobertura deslumbrada e desmiolada de todas as colunas sociais. Teve a promessa de um ministério se o mineiro emplacasse. Acabou ficando com uma boquinha na CBF.
Com o tipo de agrado que aconteceu nos Estados Unidos, Doria garante, no mínimo mais algumas edições de seus magazines com anúncio de SP. 2018 está aí, Geraldo está no páreo e a chapa vai esquentar.
Na volta, FHC ainda pegou uma carona no jatinho do anfitrião até a República Dominicana. Sem problema nenhum. Agora, imagine só se fosse o Lula.
*Kiko Nogueira é Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo, Jornalista e músico