O Globo entrega a Ancelmo Gois o troféu Fagundes
Quem não se lembra do personagem “Fagundes”, do excelente cartunista Laerte? Fagundes era o suprassumo do puxa-saquismo. Nada existia que fosse mais importante para ele do que agradar ao “chefinho”. O colunista amestrado Ancelmo Gois, cada vez mais afinado com a linha editorial dos seus patrões, os irmãos Marinho, esta semana conseguiu piorar o já baixo padrão de jornalismo que é praticado sob as ordens de Ali Kamel.
Publicado 16/05/2015 10:54
Os irmãos Marinho amam Fernando Henrique Cardoso, que, no entanto, é completamente desprezado pelo povo. Durante a presidência do tucano, a Globo não pedia, mandava e a família Marinho, é forçoso reconhecer, sabe ser grata aos seus serviçais. Na última terça-feira (15) FHC recebeu em Nova York o título de “Homem do Ano” outorgado por uma associação comercial. Ancelmo Gois, sabedor do prestígio do ex-presidente junto aos seus chefinhos (os irmãos Marinho) se desdobrou em salamaleques a FHC (que ele chama, com doce intimidade, de FH). Na coluna que leva o seu nome, Ancelmo não se conteve. Fagundes não chegaria a tanto. No Brasil e no universo, nada acontecia de mais importante para o colunista amestrado. Foram, durante a semana, nada menos do que quatro dias consecutivos (segunda, terça, quarta e quinta) com notas sobre o evento de transcendental importância que galvanizou a atenção do mundo inteiro: a homenagem de uma associação comercial a FHC. O vencedor do troféu Fagundes dedicou as três primeiras notas na sua coluna de segunda-feira (11) ao prêmio recebido por FHC.
Ancelmo se derrete
Na primeira nota Ancelmo se derrete. Vejam um pequeno trecho: “Aos 83 anos, FH anda com a agenda cheia aqui e lá fora. Mesmo longe do poder há 12 anos ele e Bill Clinton serão homenageados em Nova York com o título ‘O Homem do Ano’ (…)” e a nota segue em sua descrição do evento. A segunda nota do dia 11 também tem o mesmo gancho: a homenagem a FHC. A terceira nota tem o título: “Já Lula…”, onde Ancelmo se esbalda. Enquanto FHC brilha nos palcos iluminados, o pobre do Lula se reúne com Renan Calheiros. Dá-lhe Ancelmo!! João Roberto Marinho (um dos irmãos Marinho), adorou esta tirada e fez questão que Ancelmo soubesse. O colunista ficou entusiasmado. Na edição de O Globo de terça-feira (12), de novo as duas primeiras notas da coluna eram sobre o prêmio que FHC iria receber naquele dia. Imaginem vocês a emoção do colunista. Foi com lágrimas nos olhos que ele contou de novo sobre o prêmio e deu a notícia bombástica: “FH”, depois da cerimônia, foi ao musical “The King and I” em companhia de Clinton e Hillary. É muito prestígio. José Roberto Marinho (outro irmão Marinho), ligou no mesmo dia para elogiar a coluna.
Ancelmo e o Aécio na fila do banheiro
Na quarta-feira (13) Ancelmo já não tinha muito que dizer sobre a homenagem. Mas não se conteve. Tendo como pretexto um jantar em torno do artista plástico Vick Muniz em Nova York, o colunista iniciou assim a notícia: “FH, que ganhou o título de Homem do Ano pela Câmara do Comércio Brasil-EUA, não é o único brasileiro festejado estes dias em Nova York”. Brilhante não? Já era a sexta vez em três dias que o jornalista repetia a mesma notícia, sem nada de novo ou relevante a acrescentar, movendo-o apenas o desejo de servir. Desta vez foi Roberto Irineu Marinho (o irmão Marinho que faltava) que ligou parabenizando. A esta altura o leitor já está convencido de que, na quinta-feira (14), Ancelmo já não teria mais o que falar sobre a homenagem a FHC. Ledo engano. Nunca subestime a capacidade de um bom puxa-saco. No dia 14 foram mais duas notas sobre o evento. Na primeira ele reporta que durante a cerimônia “teve gente gritando, volta presidente”. Na segunda nota ele informa que na fila do banheiro do Waldorf Astoria (local do evento) o senador Aécio Neves (PSDB) ouviu uma declaração de apoio para presidente. Desta vez foram os três irmãos Marinho que, reunidos, chamaram o colunista para comunicar a entrega do troféu Fagundes, instituído em homenagem aos funcionários mais “dedicados”. Não vamos aqui descrever a reação de Ancelmo Gois ao receber a notícia. Não pegaria bem. Em breve será divulgado o local e a data da cerimônia de entrega do prêmio. Dizem que Sérgio Moro ficou magoado com a escolha. Ele sonhava com mais esta medalha. Calma Moro, o que não falta na família Marinho é prêmio para distribuir para os Fagundes. Pergunte ao Joaquim Barbosa.