Valor Econômico: Lições de como se tornar um carneiro

O jornal Valor tem um consultório sentimental para executivos. É a sessão “Divã executivo”, onde consultores convidados respondem às cartas. Ao final é publicado um aviso garantindo que a coluna “reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico”, embora a escolha dos consultores obedeça a um padrão. Ainda vamos ler alguém lembrar aos executivos que olhem para os lados sempre que atravessarem a rua, rezem antes de dormir e não faltem ao respeito com a mamãe, a vovó e o CEO. 

carneiros

O “Divã executivo” desta quarta-feira (13) não chega a recomendar isto. Mas passa perto. Um leitor com o pseudônimo “Gerente sênior”, escreve que tem dúvida em aderir ou não ao PDV. Com 55 anos de idade e 23 de companhia ele já ouviu insinuações de que deve aderir ao PDV que a empresa está promovendo. O leitor afirma que gosta do que faz mas desconfia que pode ser demitido e teme perder as benesses oferecidas pelo PDV. “O que devo fazer? ”, indaga. O consultor Marco Tulio Zanini responde. Começa com um texto que pode servir de introdução a qualquer livro de autoajuda: “Precisamos nos tornar mais sábios com a idade, pois a beleza da vida se transforma para cada um com o tempo. Os novos desafios que vêm ao nosso encontro têm um poder enorme de nos ensinar a renascer a cada dia”. Logo depois deste início poético, Marco aconselha: “A primeira grande lição que a experiência pode nos ensinar é aceitar os fatos e não brigar com eles”. É sem dúvida um grande conselho. O carneiro, que por sinal é um animal adorável, tem a mesma filosofia de vida. Um bom carneiro não chega nem a balir quando lhe passam a faca.

Valor Econômico: A culpa é do carneiro

O consultor aconselha ainda que o “Gerente sênior” reflita “sobre as suas escolhas ao longo dos anos, responsabilizar-se por elas (é a única forma de aprender com o sofrimento) e aproveitar a experiência para se reinventar. Você afirma que gosta do que faz. Talvez devesse estar fazendo outras coisas e, por hábito ou acomodação, deixou de revisitar as suas práticas e ver se estavam adequadas aos desafios do tempo”. O sujeito dedica boa parte de sua existência (23 de 55 anos, mais de 41% do seu tempo de vida) a uma empresa. Gerou muito lucro para seus patrões. Agora, que passou a melhor parte da juventude servindo a companhia, chega à meia-idade e os patrões querem se livrar dele, provavelmente para contratar alguém mais jovem ganhando bem menos. E tudo o que lhe dizem é que ele deve aceitar a situação pois, afinal, a culpa é dele mesmo que não se esforçou o suficiente. Para Marco Tulio, seu consulente deve entrar no PDV e se “reinventar”. Nos manuais esta fórmula tem um certo encanto, mas na vida real, para um trabalhador de 55 anos, por melhor que seja a sua qualificação, a história é bem diferente. Esperemos as próximas edições do Divã Executivo e suas várias dicas de como se dizer “sim senhor”, se ajoelhar da forma correta aos pés do deus capital para, no final, ganhar, como dizia Gonzaguinha, “um diploma de bem-comportado”.

Mídia hegemônica internacional ignora os 70 anos da vitória sobre o nazismo

Em excelente artigo reproduzido, tanto no Portal Vermelho, quanto no Blog Resistência, intitulado “O cancelamento da História”, o jornalista italiano Manlio Dinucci denuncia o servilismo da mídia ocidental que fez um pacto de silêncio em relação às comemorações na Rússia pela passagem dos 70 anos da derrota do eixo. “O 70° aniversário da vitória sobre o nazismo, em 9 maio em Moscou, foi boicotado sob pressão de Washington por todos os governantes da União Europeia (UE), exceto o da Grécia, e posto à sombra pela mídia ocidental, numa grotesca tentativa de cancelar a História. Não sem resultados: na Alemanha, França e Reino Unido, 87% dos jovens ignora o papel da União Soviética na libertação da Europa do nazismo, papel que foi determinante para a vitória da coalizão antinazista”. Por outro lado, afirma Manilo que “boicotando, a reboque dos Estados Unidos, o 70º aniversário da vitória sobre o nazismo, a Europa ocidental (os seus governos) cancela a história da sua própria Resistência, traindo-a ao apoiar os nazistas que foram ao governo de Kíev. Subestima a capacidade de reação da Rússia, quando é lançada ao canto do ringue. Ilude-se de poder continuar a ditar as leis, quando a presença em Moscou de alguns dos máximos representantes do Brics, a partir da China, e de tantos outros países, confirma que o domínio imperial do Ocidente está em declínio”.

O jornaleiro tem razão

Bruno Barbosa, estudante, morador de Florianópolis, faz um interessante relato. A parte sublinhada merece atenção.

“Fui comprar a Carta Capital com capa do Eduardo Cunha, daí espiei uma pilha grande da revista Veja, em plena quarta-feira. Pergunto ao jornaleiro: Puxa, cresceu a saída da Veja? Ele respondeu: Não, caiu bem, é quarta já, tá sobrando. Vendo mais agora a Carta, Le Monde e Piauí. Eu já ia saindo, e o jornaleiro completou: E quer saber mais? O distribuidor, por alguma razão incomum, entrega a Veja no dia certo e atrasa as outras… Mas mesmo assim a galera tá refutando”.

A nota abaixo confirma a informação do jornaleiro.

O monopólio da distribuição em bancas

Em 2007 a Dinap, empresa de distribuição em bancas da Editora Abril, comprou a Fernando Chinaglia, maior distribuidora do país. Na época, Renato Rovai alertou: “Classifico essa notícia como a pior para o mercado editorial nos últimos anos. É ruim para todos os outros editores que disputam as bancas com a empresa dos Civita e péssima para a liberdade de informação. Querem um exemplo? Fórum sempre criticou Veja. Vai continuar a fazê-lo, porque Veja não vai deixar de fazer o jornalismo golpista que a caracteriza. O que você acha que vai acontecer com a Fórum com a compra da Chinaglia pela Dinap? Fórum corre risco de não ser mais distribuída em bancas de todo o Brasil. Outras publicações passam pelo mesmo tipo de situação. Algo precisa ser feito urgentemente. As bancas de jornais não podem virar um monopólio de uma única editora (…) É preciso iniciar um movimento contra essa ameaça de monopólio já, antes que se torne um fato consumado”. O movimento foi feito, mas o fato foi consumado. O Cade, órgão vinculado ao Ministério da Justiça, que teoricamente deveria evitar a formação de monopólios, aprovou a aquisição. A Dinap foi fundida com a Fernando Chinaglia dando origem à DGB Logística SA que passou a concentrar 100% da distribuição de produtos editoriais em bancas. Neste ano, a DGB comunicou às pequenas editoras que só vai fazer pagamentos quatro meses após as vendas, o que na prática representa o fechamento destas empresas impulsionando o monopólio. Para descontrair só mesmo a piada da última nota.

A piada do bêbado

“Um grupo de amigos está jogando xadrez e um bêbado fica ao lado da mesa só assistindo. As horas vão se passando. Uma, duas, três, … durante todo este tempo, constantemente alguém passa e dá um forte tapa na cabeça do bêbado, mas ele continua lá, olhando o jogo. Até que um dos jogadores propõe:

– Ei, amigo! Você está aí olhando a gente jogar há horas. Vem jogar também!

– O quê? – Disse o bêbado, revoltado. – Xadrez? Eu não tenho paciência pra esse negócio não!”.

Na luta pela regulação da mídia o governo parece o bêbado desta piada. Só olha, apanha, diz que não, mas tem uma paciência que ninguém entende.

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