Racismo é causa do alto índice de mortes de jovens negros
Os movimentos sociais que participaram, na semana passada, de audiência pública na CPI que investiga a violência contra jovens negros e pobres afirmam que o alto índice de assassinatos se deve ao racismo. Geovan Bantu, representante do Fórum Nacional de Juventude Negra de Salvador, destacou que ele mesmo se encaixa no perfil de "suspeito padrão", ou seja, o negro entre 15 e 29 anos de idade, morador das periferias das cidades brasileiras.
Publicado 11/05/2015 14:36
Segundo Bantu, essa imagem do "suspeito padrão" está inserida na sociedade e suas instituições, principalmente as polícias, que veem esse jovem como um inimigo do Estado a ser eliminado.
"Essas mortes não têm valor. Não comovem. Não chocam. O corpo de um jovem negro no chão é como se isso fosse normal. Da mesma forma que a gente acha natural um menino preto vendendo bala num sinal. A gente acha que aquele menino faz parte da paisagem, daquele cenário", critica.
Geovan Bantu ressaltou que essa discriminação explica as estatísticas, segundo as quais sete em cada 10 vítimas de assassinatos no Brasil são negras: "Isso está dentro de um processo mais amplo, de um processo que nossa sociedade está instituída, que é o processo do racismo institucional”.
“Nós não podemos deixar de dizer que essa questão da violência contra a população negra, do extermínio da juventude negra, não esteja diretamente ligada ao racismo que nós vivemos no País”, acrescenta. “É o racismo que estrutura as relações dentro do Legislativo, dentro do Judiciário, dentro do sistema penitenciário e, de fato, desumaniza a população negra."
Nesta segunda-feira (11), a CPI promove nova audiência pública na Assembleia Legislativa do da Bahia, um dos estados com maior população negra e também com um dos mais elevados índices de violência contra os negros.
Maioridade penal
O representante do movimento baiano manifestou repúdio à proposta que reduz de 18 para 16 anos a maioridade penal. Bantu também cobrou providências das autoridades contra a banalização das mortes desses jovens.
A opinião é compartilhada pelo rapper Neemias MC, que também participou do encontro. Abandonado aos 14 meses na rodoviária de Brasília pela mãe biológica, Neemias foi morador de rua e hoje é produtor e ativista social. Ele contou que chegou a cometer pequenos furtos para vencer a fome, foi preso e sofreu violência por parte da polícia.
Neemias atribui a situação vivenciada por ele e outros milhares de jovens negros à omissão do Estado e ao descumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O rapper também criticou o tratamento dado aos jovens negros por setores da mídia.
"É essa a mídia sensacionalista que a gente quer? São programas como os do Datena, que a todo momento ridiculariza o nosso povo, que somos a causa da violência. Mas não fala das questões absurdas que são sofridas por essa juventude. Não fala que a juventude está, a todo momento, sendo exterminada pela polícia", ressaltou.
Comunidade virtual
O presidente da CPI que investiga a violência contra jovens negros e pobres, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), informou que a CPI criou uma comunidade virtual para debater o tema. Quem quiser participar é só acessar a página aqui.
Fonte: Agência Câmara