Fábio de Oliveira Ribeiro: Nero Richa e seu Tigelino
Nero foi elevado à condição de Imperador de Roma graças à determinação e astúcia de Agripina. Mulher ambiciosa e autoritária, Agripina tentou controlar o filho e Nero resolveu se livrar dela. As três fontes históricas deste episódio (Tácito, Suetônio e Dião Cássio) concordam que Nero mandou matar a mãe.
Por Fábio de Oliveira Ribeiro, no Jornal GGN
Publicado 04/05/2015 15:54
Dião Cássio relata que quando os assassinos a encontraram, Agripina teria dito "Ataque meu útero!", pois se arrependia de ter gerado um "filho tão abominável".
Em uma versão cinematográfica laudatória de Nero feita em 2004, o imperador diz casualmente que gostaria de ver a mãe morta. Tigelino interpreta o desejo como sendo uma ordem e executa pessoalmente a mãe do imperador.
Semana passada, a PM comandada por Beto Richa proporcionou ao país cenas dignas dos filmes épicos rodados em Hollywood nos anos 1950. Os professores, muitos dos quais adeptos do cristianismo, tiveram a ousadia de se reunir para pedir clemência ao governo paranaense. O imperador do Paraná não hesitou, mandou sua guarda pretoriana dissolver a multidão com tiros, pauladas, socos e mordidas de cachorros. Nero Richa repetiu, portanto, o feito do seu duplo romano. Levado ao poder pela mãe, Nero a matou. Eleito pelo povo Nero Richa se voltou brutalmente contra o mesmo.
A imprensa santificou a ação de Nero Richa como se ele mesmo fosse uma espécie de Jesus imolado na cruz pelos perversos romanos metidos em trajes de professores inofensivos. Os jornalistas repetem, portanto, a convenção literária presente em Ab Urbe Condita Libri. Tito Lívio também descrevia as vítimas dos patrícios romanos como violentas, bárbaras e pérfidas. A glorificação da barbárie, dependendo de sua origem, não é algo novo. E para falar a verdade, a prosa de Tito Lívio é bem mais agradável e sofisticada que a dos editorialistas da Folha, do Estadão e do O Globo, que se esforçaram para justificar o injustificável.
Em razão da reação política e popular à violência que empregou, Beto Richa deu um ponta-pé na bunda do seu Tigelino. O coronel Chehade Elias Geha, comandante das operações de guerra contra os direitos cívicos e humanos dos professores em Curitiba, foi afastado do cargo. Isto basta? Creio que não.
As perversidades de Nero só tiveram fim quando ele se suicidou. O imperador do Paraná ainda não abdicou do cargo como se ele mesmo fosse a única fonte do poder que exerce. A soberania popular, contudo, já se faz sentir. A julgar pelo que ocorreu num estádio paranaense, o povo não vai perdoar Nero Richa enquanto ele não enfiar um adaga na garganta.