Publicado 24/04/2015 08:34 | Editado 04/03/2020 16:25
É surpreendente, pelo menos até agora, as entidades que representam os funcionários do Banco do Nordeste não se manifestarem sobre as declarações do senador e líder do PMDB, Eunício Oliveira, publicadas no Jornal O Povo, edição de 20/04/2015, em que ele informa ter indicado o economista Marcos Holanda para possivelmente a presidência do BNB, e declara que o BNB “não é para dar lucro”.
Trabalhei durante 21 anos no Banco do Nordeste, de 1974 a 1995, e desde então jamais vi um homem público e influente como o senador Eunício (tão influente que é capaz de indicar o presidente do BNB) declarar que o Banco não é para dar lucro. Acredito que nem seus correligionários, que já dirigiram o Banco, Mauro Benevides e João Alves Melo, concordam com essa tese. Muito menos os acionistas e principalmente os funcionários dessa instituição, que acabam de receber a melhor PLR (Participação nos Lucros e Resultados) de todos os tempos, fruto do maior lucro líquido que o BNB já alcançou em toda sua história, R$ 747,4 milhões, uma alta de 107% em relação ao ano anterior, conforme registra seu balanço de 2014.
Eu até concordaria com o senador se esse lucro tivesse sido obtido em detrimento do papel de banco de fomento do BNB. Mas não é isso o que vem ocorrendo, pois os fatos demonstram o contrário. Nunca o Banco do Nordeste investiu tanto nos setores que mais precisam de financiamento e com taxas muito abaixo do mercado (chegando até a 4% ao ano com o bônus de adimplência) e com prazos e condições bem melhores, assim como nunca essa instituição se preparou tanto para exercer seu papel de banco de desenvolvimento como agora, na gestão de Nelson Souza.
Hoje mais da metade dos recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) destina-se a empresas de mini, micro, pequeno e até pequeno-médio portes. Somente no microcrédito urbano o BNB deverá aplicar neste ano R$ 8,5 bilhões, beneficiando 2,1 milhões de empreendedores. O microcrédito do BNB é referência em toda a América do Sul e o Crediamigo foi reconhecimento internacionalmente em novembro de 2014 com o prêmio BID/Fomin de Inclusão Financeira, concedido pelo Fundo Multilateral de Investimentos, que faz parte do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O microcrédito é um dos responsáveis pelo extraordinário lucro obtido pelo Banco em 2014 por sua baixa inadimplência.
A estrutura operacional do Banco vem se expandindo como nunca aconteceu antes. Somente nos últimos dois anos, o número de agências cresceu 55%, chegando a 289 unidades e deverão ser inauguradas mais 49 agências até o final deste ano. Até 2012, eram apenas 189. O Banco vem admitindo novos funcionários concursados, inclusive de nível superior, e passará a contar com um contingente de 8.450 até dezembro/2015. Até o ano passado, eram apenas 7.150. Embora existam ainda duas importantes pendências trabalhistas, a reintegração de funcionários demitidos injustamente na gestão de Byron Queiroz (1995 a 2003) e uma ação trabalhista de 1991, de equiparação de funções do BNB ao Banco do Brasil, a atual gestão do Banco tem resolvido por acordo com os sindicatos quase todas as pendências que restaram de gestões anteriores.
Por tudo isso, o senador Eunício Oliveira deveria enaltecer o desempenho operacional do BNB e não o contrário. Infelizmente, o olhar político-partidário obscurece o interesse social e inibe a boa gestão pública, como vem, infelizmente, ocorrendo no Governo Dilma, refém de uma política achacadora, como bem denunciou o ex-ministro Cid Gomes em sua breve passagem pelo Ministério da Educação. Mas ainda é tempo de a presidenta Dilma acordar e começar a governar com o andar de baixo, onde sobrevivem aqueles que a elegeram, e não apenas ficar à mercê do jogo político-eleitoral dos que habitam o andar de cima, o Congresso Nacional.
*José de Sousa Júnior é publicitário e ex-funcionário do BNB.
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