Congresso dos EUA, os pretextos para ampliar o uso da força
A política externa da Casa Branca está sob um detalhado escrutínio do Congresso norte-americano, em particular a estratégia contra o Estado Islâmico (EI), destinada a estender a guerra contra os fundamentalistas, sem limites de fronteiras.
Publicado 19/03/2015 15:08
O Comitê de Relações Exteriores do Senado examinou em 11 de março o projeto de Autorização para o Uso da Força Militar (AUMF) – com a finalidade de combater o EI no Iraque e na Síria – apresentado em fevereiro passado ao Capitólio pelo presidente Barack Obama.
Participam da sessão o secretário de Estado, John Kerry, o chefe do Pentágono, Ashton Carter, e altos oficiais das forças armadas.
Os funcionários enfrentaram o ceticismo dos senadores de ambos partidos sobre os termos dessa petição, que deverá ser aprovada pelo Congresso.
Para os republicanos, a AUMF não tem todo o alcance que precisa nestes momentos e favorecem um papel mais ativo dos Estados Unidos no combate aos jihadistas, incluindo ações contra o Governo sírio, com o fim de projetar o poderio bélico norte-americano sem restrições.
Por sua vez, alguns democratas negam-se a avaliar um projeto que não proíbe de forma explícita o uso de grandes agrupamentos de tropas terrestres em combates de longa duração e envergadura.
No entanto, a proposta de Obama avaliza o uso de Forças de Operações Especiais estadunidenses em missões de resgate de pilotos, espionagem dentro do território inimigo, sabotagem, entre outras atividades.
A AUMF está agora sob a análise dos painéis da Câmara de Representantes e do Senado que atendem o tema, e se o Congresso finalmente a aprova, teria validade por três anos, sem limitações geográficas para que os militares norte-americanos possam perseguir os irregulares.
Segundo um artigo recente da revista estadunidense U.S. News and World Report, a solicitação provocou uma batalha de vontades sobre o uso da força, que põe os congressistas ante um dilema difícil, pois o chefe da Casa Branca quer limitar essa ameaça sem levar o país a outro caro conflito.
Apesar do fim da guerra no Iraque e a morte do líder da organização terrorista Al-Qaida, Osama Bin Laden, a turbulência no Oriente Médio é um problema complexo para o chefe da Casa Branca, que busca limitar essa ameaça sem levar o país a outro conflito custoso, acrescenta a publicação.
Estas discussões na opinião pública e no Congresso norte-americano têm lugar no meio do que alguns especialistas assinalam como um excesso de otimismo de altos oficiais estadunidenses sobre supostos avanços na luta contra os jihadistas.
A esse respeito, o chefe do Comando Central (Centcom) dos Estados Unidos, general Loyd Austin, afirmou em 3 de março no Capitólio que as forças do EI que operam no Iraque e na Síria estão a ponto do colapso e assegurou que para derrotá-las não será necessário o emprego de tropas terrestres norte-americanas.
Desta forma Austin tentou neutralizar as críticas que alguns legisladores democratas e republicanos reiteram a Obama pela falta de efetividade das ações combativas e por sua relutância em permitir o uso de unidades de terra em ações contra os irregulares.
O general disse que o grupo está perdendo a capacidade para governar e manter sob controle áreas em territórios da Síria e Iraque, após mais de sete meses de golpes da coalizão militar liderada por Washington.
Durante uma audiência no Comitê de Serviços Armados da Câmara de Representantes, Austin assinalou que essas incursões destruíram centenas de veículos, tanques e armas pesadas dos jihadistas, que lhes ocasionaram cerca de três mil baixas fatais.
Austin, que tem a seu cargo a direção da campanha, fez as declarações durante uma audiência que analisou o projeto de AUMF contra o referido grupo extremista.
Apesar destas declarações do alto chefe militar, o chefe da Casa Branca autorizou a permanência de três mil militares no Iraque em tarefas de assessoria e treinamento às forças de segurança locais, com a condição de que não participem diretamente em combates.
Se o Capitólio aprova a solicitação, o texto teria validade por três anos e, ainda que descarte o emprego de tropas terrestres em combate, autorizaria o uso de forças especiais estadunidenses para operações de resgate de pilotos, espionagem dentro do território inimigo, sabotagem, entre outras missões.
Funcionários da Casa Branca reiteraram que Obama recusa com firmeza qualquer restrição geográfica sobre as zonas nas quais os militares norte-americanos podem perseguir os irregulares.
Neste contexto, o secretário de Defesa estadunidense, Ashton Carter, disse a princípios de março que a AUMF deve ser flexível para alcançar o êxito das operações.
Durante uma audiência no Subcomitê de Atribuições de Defesa na Câmara de Representantes, Carter disse que ele não teria incluído um prazo de três anos para levar a cabo essa campanha, tal e como pediu o presidente Barack Obama na solicitação que enviou ao Capitólio no mês passado.
"Não asseguraria a ninguém que esta contenda contra o EI terminará em três anos, esse prazo não se deve a uma petição do Pentágono, mas está no tom com um calendário político, como em 2016 terá eleições presidenciais nos Estados Unidos", acrescentou Carter.
Estados Unidos e seus aliados iniciaram em 8 de agosto passado uma campanha aérea contra os acampamentos do EI no Iraque, e uma operação similar a partir de 23 de setembro em território sírio sem o consentimento do Governo de Damasco.
Até a data, a coalizão internacional liderada por Washington realizou mais de 2.740 bombardeios contra objetivos dos jihadistas em ambas nações levantinas, nas quais as aeronaves do Pentágono cumpriram pouco mais de 2.200.
Aviões de combate da França, Reino Unido, Austrália, Bélgica e Holanda participam junto com os Estados Unidos nos bombardeios em território iraquiano, enquanto nos ataques contra a Síria cooperam Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Barein.
Para alguns especialistas, existem fortes indícios de que os Estados Unidos preparam uma nova guerra global contra o terrorismo, similar à que iniciou o presidente George W. Bush (2001-2009), depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, ainda que com a marca desta Administração democrata.
Fontes dos serviços de espionagem estadunidenses asseguraram ao jornal The New York Times recentemente que a extensão de grupos filiados ao EI aumenta as possibilidades de que Washington inicie o que alguns especialistas assinalam como "cruzada" mais ampla contra os fundamentalistas em várias regiões do mundo.
Especialistas no tema temem que a legislação que discute o Congresso sirva como marco "legal" para atividades bélicas em outros cenários de operações, ou em algum país onde Washington considere que exista "uma ameaça extraordinária e incomum à segurança nacional e à política exterior dos Estados Unidos".
Fonte: Prensa Latina